Construção Civil

"Importar" trabalhadores não pode ser a única solução para a falta de mão-de-obra na construção civil

30 ago, 2021 - 08:30 • Hélio Carvalho João Malheiro

O presidente dos autarcas do PSD alertou que concretização do PRR pode estar em risco, por falta de mão-de-obra no setor. À Renascença, o presidente da AICCOPN não descarta a "importação", mas apresenta outras hipóteses. Já o presidente do Sindicato de Construção Civil do Norte apela ao aumento de salários do setor.

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A questão foi levantada, esta segunda-feira, pelo presidente dos Autarcas Sociais-Democratas, numa entrevista à Renascença. A concretização do PRR está em risco por falta de mão de obra na construção civil? E será a importação de mão de obra a única solução, como afirmava Hélder Silva?

Para Manuel Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), o PRR não está em risco, apesar dos problemas que o setor vive. No entanto, a importação de mão de obra pode ser um recurso, mas há outras duas soluções que também têm de ser trabalhadas: atrair os mais jovens e, também, os desempregados para a área e apostar na formação dos mesmos.

"Os jovens têm de sentir que isto é um setor de futuro, que é um setor qualificado e que tem uma visão internacional diferente da que existia até agora. Por outro lado, temos de fazer a reconversão dos desempregados, de outras áreas afetadas pela pandemia, e por isso temos de investir na formação", aponta, à Renascença.

Apesar destas duas hipóteses, o presidente da AICCOPN não descarta a chegada de trabalhadores estrangeiros ao país.

"Pode-se permitir às empresas, em particular àquelas que já têm alcance internacional, receber trabalhadores de lá de fora, recebendo formação se for necessário. É preciso que seja permitido e incentivado", defende Manuel Reis Campos.

Já o presidente do Sindicato de Construção Civil do Norte rejeita que Portugal precise de importar mão de obra para o setor.

"Nós não precisamos de importar mão de obra. Precisamos de pagar melhor aos trabalhadores", afirma Albano Ribeiro, ouvido pela Renascença.

"Nos últimos sete anos saíram do país 300 mil trabalhadores da construção, sendo que 16 mil foram engenheiros. E porque é que saíram? Por causa dos baixos salários que são praticados em Portugal", realça.

Para o sindicalista, o aumento dos rendimentos é crucial para fazer regressar mão de obra qualificada, incluindo noutras áreas: "Pague-se melhor aos engenheiros, aos arquitetos e aos operários, e aos médicos e aos enfermeiros para que regressem todos a Portugal", apela.

Sobre a concretização do PRR, Albano Ribeiro reitera que o problema pode resolver-se com a melhoria salarial.

"Esses projetos são concretizáveis se tivermos mão de obra qualificada, se os 300 mil trabalhadores que saíram de Portugal sejam estimulados com melhores salários. São esses que nós precisamos", defende.

No entanto, Manuel Reis Campos não acredita que os trabalhadores da construção civil que emigraram regressem a Portugal, "tão cedo".

"Também há PRRs lá fora, por isso esses trabalhadores vão lá ficar. Não estamos a contar que os trabalhadores que foram para o exterior, que não tinham trabalho cá, voltem. Os PRRs são um problema de vários países", argumenta.

O presidente da AICCOPN acredita, ainda, que a construção civil será cada vez "mais atrativa".

"Hoje, o setor tem uma expressão internacional e as empresas estão a modernizar-se e a criar condições para atrair os jovens. Estou convencido que já somos um setor importante e seremos ainda mais atrativos e ir de encontro ao interesse dos jovens", conclui.

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  • Ivo Pestana
    02 set, 2021 Funchal 13:19
    Ninguém quer um filho nas obras, porque será? Os políticos falam, falam, mas estão nos que não querem um filho, nem um genro, nas obras.
  • Cidadao
    30 ago, 2021 Lisboa 09:37
    Como sempre, querem mão-de-obra, de preferência especializada, não lhe querem é pagar. Sempre o salário mínimo ou abaixo dele, e depois protestam por irem pedir trabalhadores aos Centros de Emprego que lhes mandam 10 ou 12, e nenhum fica, pois entre Banco Alimentar, subsídio de Desemprego, e algum biscate que façam, ganham mais do que lhes oferecem e não têm de trabalhar 10h /dia para um explorador dum patrão negreiro moderno, por bolotas. Aumentem salários e melhorem condições de trabalho, e verão como deixa de ser necessário "importar" mão-de-obra. Ela só saiu porque por cá, não se governava nem saía da cepa torta.

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