22 mai, 2021 - 19:47 • Hélio Carvalho
Uma ação de desobediência promovida por ativistas ambientais travou o trânsito na rotunda principal do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, e resultou na detenção de 26 pessoas (um dos quais é menor, informou a PSP). A manifestação convocada pela Climáximo, um coletivo ambiental, teve como principal objetivo alertar para a crise climática e o impacto da aviação no ambiente.
Às 16h30, hora marcada para o início do protesto, estavam cerca de 60 pessoas reunidas na frente do aeroporto. Na chegada à Rotunda do Relógio, os manifestantes correram para tentar surpreender a polícia e sentaram-se na estrada, ligados com tubos pelos braços.
Em algumas vias da rotunda, os manifestantes não se conseguiram sentar e acabaram por fugir por algum mato junto à autoestrada, preocupando as autoridades e a organização.
Por volta das 17h30, e depois de alguns avisos de megafone, a polícia arrastou os manifestantes de uma via para um autocarro da polícia. Cerca de 20 minutos depois, outro grupo foi retirado de outra via e, menos de 10 minutos depois, o último grupo abandonou pelo próprio pé, gritando "vitória!" pelo bloqueio de cerca de uma hora.
Apesar do uso da força pela polícia, arrastando os ativistas para dentro do autocarro, e da desobediência pelos protestantes, a ação não acabou com ninguém ferido.
A porta-voz da organização, Beatriz Rodrigues, repetiu por várias vezes uma das principais palavras-chave da Climáximo. “A nossa casa está a arder”, um slogan presente nas bandeiras, em autocolantes e até em tatuagens.
Beatriz Rodrigues acrescenta: “A nossa casa está a arder e o Governo está a ligar o fogão”.
O protesto focou-se no aeroporto porque, para a porta-voz da Climáximo, uma das principais reivindicações é colocar um travão na indústria aérea. E o projeto do aeroporto do Montijo é um óbvio foco de contestação.
“Não queremos um novo aeroporto, nem no Montijo nem em lado nenhum”, disse.
Crise climática
Segundo ONGs portuguesas no Acordo de Glasgow, as (...)
A ativista criticou o prazo de cumprimento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê um investimento de 1,3 mil milhões de euros na linha ferroviária portuguesa e em mais transportes públicos, por ser “demasiado tarde”.
“Queremos a eletrificação das redes ferroviárias até 2024”, vincou a porta-voz da Climáximo, que também afirmou estar “em completa solidariedade” com os trabalhadores que ficaram sem trabalho com o fecho da refinaria de Matosinhos.
“Não é uma transição justa fechar refinarias e deixar os trabalhadores na rua”, disse Beatriz Rodrigues, que reafirma que o caminho nessa transição está na formação e transição de profissionais de exploração de combustíveis fósseis para indústrias renováveis.
Outra fonte da Climáximo contou à Renascença que os restantes ativistas não detidos iriam para a frente da esquadra continuar o protesto. Até agora, não há conhecimento através da polícia sobre ”o crime que indiciam nem se já tomaram alguma ação judicial”.
O trânsito foi sendo retomado à medida que cada grupo era detido, e depois do último grupo ser detido as viaturas voltaram a circular normalmente.
A ação de desobediência teve como objetivo fazer oito reivindicações. Em comunicado enviado à Renascença, a organização disse que os pedidos estavam incluídos em três temáticas diferentes; “a proibição da construção de novos aeroportos; a garantia de rendimento, emprego e requalificação para o setor de mobilidade sustentável para todas as pessoas do setor da aviação; e um plano de electrificação total e extensão da ferrovia em Portugal a todas as capitais de distrito nos próximos três anos.”
A Climáximo prometeu que abandonaria a ideia de uma manifestação se o ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, se comprometesse em aceitar pelo menos metade das reivindicações.
Tal não aconteceu, pelo menos até à data do protesto.