Ensino Superior

UBI toma “manobra defensiva” pós-Natal e passa a aulas online durante janeiro

18 dez, 2020 - 10:50 • Fábio Monteiro

Com uma nova onda de casos no horizonte após o Natal e o Ano Novo, a Universidade da Beira Interior tomou a iniciativa de, em janeiro, passar todas as aulas teóricas para o regime online. Isto permitirá à universidade ter “mais salas disponíveis para [a época das] frequências” e que as “turmas possam ser mais divididas”, defende João Canavilhas, vice-reitor da UBI, em declarações à Renascença. Alunos, professores e município aplaudem a “prudência”

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Na segunda-feira, os cerca de oito mil estudantes da Universidade da Beira Interior (UBI), situada na Covilhã, receberam no e-mail um comunicado da reitoria a anunciar que, durante o mês de janeiro, as aulas teóricas iam passar para o regime online, para evitar o risco de contágio da Covid-19 após o Natal. Em declarações à Renascença, João Canavilhas, vice-reitor da UBI, diz que esta medida é uma “manobra defensiva”.

“Começamos a ver aquilo que eram os alertas da DGS e, percebendo que pode haver - neste período do Natal, em que as pessoas se vão juntar em família - o perigo de depois destas festas o vírus começar a circular com mais intensidade, achámos por bem fazer as últimas quatro semanas [do primeiro semestre] - estamos a falar em quatro de 15 semanas de aulas do semestre - em sistema online”, explica.

Natércia Teixeira, aluna de primeiro ano do mestrado em Economia na UBI, não foi apanhada de surpresa. A jovem de 21 anos, natural de Amarante, já tinha “ouvido falar por professores, no final da semana passada”. A iniciativa tomada pela UBI faz sentido, pois será “determinante para a forma como irá arrancar” 2021, e, ao mesmo tempo, “é uma maneira de nós nos protegermos a nós próprios e de protegermos os outros”, diz.

Para João Serrasqueiro, 31 anos, também aluno do mestrado em Economia, a medida da UBI é prova que “as pessoas estão claramente com medo que haja mais contágio”. Porém, o trabalhador-estudante, natural de Castelo Branco, sublinha que é fora da universidade que há “mais risco”. “Os alunos vivem juntos, alguns não resistem a tomar café juntos ou ir beber um copo juntos. E é mais aí que tens infeções, porque na universidade as recomendações e as regras têm sido suficientes e cumpridas”, afirma.

Apesar da pandemia, o primeiro semestre foi tranquilo; não houve casos de infetados na turma do mestrado dos dois estudantes. Houve apenas alunos que tiveram “contactos de risco”, que fizeram isolamento profilático e ficaram a assistir às aulas pela internet.

“Estes alunos acabam por ter o mesmo acesso que nós. Com a câmara, conseguem ver o professor, conseguem ver o quadro, quando é escrita alguma coisa. Os slides, o que esteja a ser projetado também é partilhado com eles, via Zoom. A única coisa que se perde acaba por ser o contacto direto com o professor”, diz João.

Em pandemia, jogar à defesa

Ao empurrar todas as aulas teóricas para o universo digital em janeiro, a UBI pretende criar, de certa forma, um período de quarentena artificial. “Se nós contarmos os dias entre o Natal e mesmo que queiramos ir até ao fim de ano, e a penúltima e a última semana [de janeiro], que é geralmente quando há as avaliações, nós conseguimos ter aqui 18 dias ou 25 dias. Como nós sabemos que o isolamento são 14 dias, mesmo que aconteça alguma coisa nesse período, sabemos que nessa altura a situação estará mais ou menos controlada”, explica o vice-reitor João Canavilhas.

A UBI, na realidade, “não vai encerrar”. As aulas práticas, frequências e outras atividades que tenham que ocorrer presencialmente vão continuar – mas com ainda mais segurança, defende o vice-reitor. A cessação de aulas teóricas permitirá à universidade ter “mais salas disponíveis para [a época das] frequências” e que as “turmas possam ser mais divididas”.

“Uma coisa é nós termos 20 estudantes divididos por três ou quatro salas, quem têm as distâncias recomendáveis, outra coisa era eles estarem no habitual espaço onde estavam, numa sala mais pequena, e onde eventualmente não tínhamos as condições ideais. Nós, no fundo, o que fizemos foi abrir espaço para que aquelas disciplinas que não podem prescindir da presença o possam fazer em total segurança”, conta o vice-reitor.

A medida agora tomada pela UBI só é possível, conta o vice-reitor, porque no início do ano letivo foi recomendado aos docentes que “adaptassem as suas disciplinas de forma a que no final [do semestre], se fosse necessário fechar, estivéssemos preparados”. Foi-lhes então sugerido que “matérias que tivessem de ser dadas com partes laboratoriais, que fossem feitas logo no princípio [do ano], “para depois nós termos alguma margem de manobra para deixarmos as matérias que são mais simples de lecionar à distância”.

Município aplaude “prudência”

A realidade social da Covilhã foi um dos fatores com peso na posição tomada pela UBI. Afinal, estamos a falar de uma cidade com cerca de 35 mil habitantes e oito mil estudantes. “É um grupo muito importante dentro da cidade. Sendo que destes oito mil, 85% são alunos deslocados. Estamos a falar aqui de muita gente que se vai descolar para as suas cidades, as suas casas, e que depois vai voltar”, diz João Canavilhas.

Com os “impactos pedagógicos” já acautelados, a universidade decidiu dar “alguma tranquilidade” à comunidade municipal. Somado a isto, “também pode ajudar a que as pessoas passem as suas festas e depois naquelas primeiras semanas não estejam tão intranquilas com esta movimentação tão grande de pessoas”.

Em declarações à Renascença, Vítor Pereira, presidente da Câmara da Covilhã, aplaude a decisão “prudente” da UBI, pois, refere, “os jovens têm mais tendência para ser assintomáticos do que aqueles que têm mais alguns anos”. “São medidas de prudência, de bom-senso, de equilíbrio”, diz.

O possível primeiro, depois o ideal

Na universidade, a decisão da reitoria é vista com bons olhos pela larga maioria dos professores. Segundo André Barata, diretor do doutoramento em Filosofia na UBI, estamos a falar um caso de “prudência”, “até porque vamos ter alguns excessos no Ano Novo e assim, pelo menos, antes de levarmos com o embate com o que terá acontecido, permite ter um período de algumas semanas sem contacto presencial”.

“O grosso dos alunos ficarão em casa e eu penso que funciona como uma boa medida de prevenção. Sobretudo depois das festas. Em que é de esperar que haja algum abrandamento na vigilância e nos cuidados”, afirma.

O professor universitário admite que aulas online, “como regime normal, não é bom”. “Elimina a presencialidade, elimina a comparência, elimina o contacto, com tudo o que isso representa.” Todavia este não é o caso, é uma exceção. “Estamos a falar de uma interrupção de um mês, com data marcada, digamos assim, e nesse contexto acho perfeitamente aceitável, como medida excecional. Não acho que prejudique particularmente. Ainda por cima, no final do semestre, portanto já houve bastante oportunidade de contacto entre docentes e alunos”, diz.

Apresentações online?

Até ao final desta semana, Natércia Teixeira e João Serrasqueiro vão completar “a matéria toda” do primeiro semestre do mestrado em Economia. Por isso, quando chegar janeiro, o tempo restante de aulas será usado para “apresentar trabalhos” e “fazer testes” – ações forçosamente presenciais. Ou seja, a medida implementada pela UBI não os irá afetar significativamente.

“Os testes serão sempre presenciais e é melhor que assim seja. A apresentação dos trabalhos é que não sei se vai mudar alguma coisa, mas imagino que não e até sinceramente até espero que não”, diz João.

O jovem albicastrense confessa que “não gostava nada de apresentar um trabalho à distância”. “Não gostava de ter aqueles problemas que normalmente tens das reuniões do Zoom, não gostava nada de estar a apresentar um trabalho com essas condicionantes, sem saber se te estão a ouvir, se a tua internet foi abaixo. Preferia mil vezes ir lá presencialmente e acho que é isso que vai acontecer”, admite. O problema é que a pandemia está sempre a pregar rasteiras.

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