Epidemiologista: “Não é uma inevitabilidade que as férias tragam aumento de casos” de Covid-19

15 jul, 2020 - 16:40 • João Carlos Malta

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros, diz que mais deslocações no período de férias aumentam o risco de transmissão da Covid-19, mas não é necessário que isso aconteça. Para isso fala de um triângulo de forças que ajudará a conter possíveis surtos.

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O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Henrique Barros, diz que as férias não têm de ser um período de aumento de casos de Covid-19 em Portugal. Reconhece que há o risco de isso acontecer, mas há formas de o evitar caso sejam tomadas as necessárias precauções.

Henrique Barros, que também é responsável pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, começa por reconhecer que havendo movimentação de pessoas “é provável que haja mais casos”. Mas logo de seguida enfatiza que esta não é uma história que tenha necessariamente de ter esse final. “Não é uma inevitabilidade que as férias tragam aumento de casos”, declara em entrevista à Renascença.

O escudo protetor para o hipotético crescimento de casos na altura de julho e agosto, em que os portugueses tradicionalmente tiram as suas férias, é para este epidemiologista composto por um triângulo: as pessoas estão num dos vértices e "cada um de nós a assumir o dever de se proteger a si e aos outros", no outro vértice está "o conjunto de regras e alguma vigilância de comportamentos", e no terceiro "temos de ter uma saúde pública capaz de intervir sobre cada caso identificado".

“Tem de haver prontidão de resposta para identificar esses casos. Deve haver a preocupação de que as pessoas entendam que há um conjunto de medidas de proteção delas e das outras. Se essas medidas forem respeitadas, o aumento de casos é muito pequeno”, sublinha Henrique Barros.

O especialista dá uma imagem que poderá ajudar a entender o que quer dizer com a questão do risco e da inevitabilidade. “Num dia de calor há maior risco de haver fogo, mas não tem necessariamente de ocorrer. Com a Covid e as férias é a mesma coisa”, explica.

Quase não há “transmissão comunitária”

Apesar do aumento sustentado de casos, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, desde de que no início de maio se iniciou o desconfinamento, o presidente do Conselho Nacional de Saúde acredita que Portugal “tem feito um trabalho de cada vez maior verificação das cadeias de transmissão”, de tal modo que “o número de casos para os quais é impossível encontrar uma ligação epidemiológica é muito pequena”.

“Atrevia-me a dizer que a transmissão na comunidade praticamente não existe", conclui.

O mesmo defende que, neste momento, estão a ser identificados novos casos “como casos agregados”, ou seja “caixas de casos”. Mas estes, assegura, ”têm sido capazes de ser circunscritos”. No entanto, para dizer que um surto terminou e uma cadeia parou, isso ”obriga a esperar 28 dias, no mínimo 14 dias do último caso”.

Este seria o tempo a partir de agora, não havendo outros fatores como a chegada de pessoas do estrangeiro, levaria a que o país conseguisse reduzir consideravelmente o número de casos.

Henrique Barros defende também que Portugal tem conseguido travar o crescimento da doença, porque aparecem “muito poucos casos que não conseguimos identificar a origem”.

O mesmo especialista defende esta tese com um número. “Se houvesse transmissão na comunidade, o aumento seria muito mais rápido. Em Portugal, se hoje tivermos 100 casos à velocidade a que estamos de transmissão, demoraria 80 dias até que deles se transformassem em 200 casos. Isto é o que chamamos tempo de duplicação de casos. Quando a infeção está ativa essa duplicação faz-se em meia dúzia de dias”, remata.

A Direção-Geral da Saúde regista, nas últimas 24 horas, mais oito mortos e mais 375 novos casos de Covid-19. Três das oito vítimas mortais e 77% dos novos casos registaram-se na zona de Lisboa e Vale do Tejo.

A DGS regista ainda mais 560 recuperados, o que significa que nesta altura há 13.640 casos ativos.

Desde o início da pandemia, as autoridades de saúde registam até ao momento 47.426 casos positiivos de Covid-19, dos quais 1.676 morreram e 32.110 recuperaram.

A taxa de letalidade mantém-se nos 3,5%.

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