Siga-nos no Whatsapp

BOEING

Falha na aterragem, colisão com pássaros e um muro. O que se sabe do acidente na Coreia do Sul?

30 dez, 2024 - 18:48 • Diogo Camilo

Torre de controlo alertou para a existência de aves apenas três minutos antes do voo da Jeju Air aterrar de barriga e acabar em chamas no final da pista de aterragem. Morreram os 179 passageiros e sobreviveram apenas dois tripulantes.

A+ / A-

O desastre aéreo mais mortal na história da Coreia do Sul resultou em 179 vítimas mortais, mas há ainda muitas perguntas por responder quanto às causas do incidente. Os últimos minutos do voo da Jeju Air foram marcados por uma declaração de emergência por colisão com aves, uma falha no trem de aterragem e um choque com um muro.

O alerta para a existência de aves foi dado apenas três minutos antes da queda fatal do Boeing 737-800, da qual sobreviveram apenas dois dos seis tripulantes a bordo. Todos os 175 passageiros faleceram.

A cronologia do acidente (hora na Coreia da Sul - mais 9 horas que em Lisboa)

8h54: o controlo de tráfico aéreo autoriza o voo 7C2216 a aterrar na pista 1 do Aeroporto Internacional de Muan;

8h57: três minutos depois, a torre de controlo emite um aviso de perigo devido à atividade de aves na zona;

8h59: o voo 7C2216 relata uma colisão com aves e declara emergência “Mayday, Mayday, Mayday” e “Colisão com ave, colisão com ave, abortar a aterragem”;

9h00: o voo 7C2216 começa a contornar o aeroporto e pede autorização para aterrar na pista 19, na ponta oposta à primeira pista do aeroporto para onde estava prevista a aterragem inicial;

9h01: a torre de controlo autoriza a aterragem na pista 19;

9h02: o voo 7C2216 embate a cerca de 1,2 quilómetros da pista com 2,8 quilómetros de comprimento. A torre de controlo alerta para o acidente e o resgate é acionado;

9h03: o 7C2216 desliza durante 1.600 metros até embater no muro já fora da pista de aterragem;

9h10: o Ministério dos Transportes recebe a notícia do acidente através das autoridades do aeroporto;

9h23: Um homem é resgatado do local e transportado para um hospital de campanha;

9h38: o Aeroporto Internacional de Muan é encerrado;

9h50: é completado o resgate de uma segunda pessoa, que se encontrava dentro da secção da cauda do avião.

O que provocou o acidente?

As causas do acidente estão ainda por determinar, com o Presidente sul-coreano, Choi Sang-mok, a pedir uma inspeção de segurança de emergência a todos os Boeing 737-800 a operarem no país já a partir desta segunda-feira.

Os investigadores estão ainda a examinar possíveis colisões com aves, se algum dos sistemas de controlo estava desativado e a aparente pressa dos pilotos em aterrar assim que declararam uma emergência como possíveis fatores para o acidente e subsequente fogo.

Horas depois do acidente, o canal televisivo sul-coreano MBC mostrou um vídeo do avião a aterrar com fumo a sair dos motores e aparentemente sem trem de aterragem. Outros vídeos nas redes sociais mostram o possível momento da colisão com aves.

O avião acabou por aterrar de barriga e embater num muro no final da pista de aterragem, começando um incêndio.

À agência de notícias sul-coreana Yonhap, Lee Jeong-hyeon, chefe do departamento de bombeiros de Muan, indicou que os primeiros elementos deram conta de uma “falha no trem de aterragem”, surgindo muitas questões sobre por que o avião viajou tão rápido na pista.

Questionado sobre a possibilidade da pista ser demasiado curta, o responsável indicou que esse não terá sido um fator. “A pista tem 2.800 metros, aviões de tamanho semelhante usam-na sem problemas”, referiu.

Papel do muro de cimento no acidente está a ser investigado

Também no olho das autoridades está o muro de cimento, que fez com que o avião ficasse em chamas.

“Normalmente, num aeroporto com uma pista de aterragem no fim, não existe um muro”, indicou à Reuters o especialista em segurança aérea e piloto da Lufthansa, Christian Beckert. “É mais provável existir um sistema de retenção, que permita que o avião abrande um pouco e pare.”

À BBC, o especialista em segurança aérea indica mesmo que, se o muro não estivesse a cerca de 250 metros do fim da pista de aterragem, o avião "teria abrandado com a maioria - ou possivelmente todos - os que estavam a bordo vivos".

O Ministério dos Transportes indicou que as duas caixas negras com dados do voo foram recuperadas, mas que terão sofrido alguns danos, não sendo ainda evidente se a informação está intacta o suficiente para ser analisada.

A análise acontecerá em Seul, com a ajuda de uma equipa norte-americana de segurança aérea e responsáveis da Boeing. Até quarta-feira, o aeroporto de Muan vai continuar encerrado.

Quais os perigos das colisões de aves?

As colisões de aves, que podem causar danos significativos no motor ou no pára-brisas, são a causa de muitos acidentes aéreos.

Na maioria dos casos, a colisão ocorre durante a descolagem ou aterragem, quando os motores estão a trabalhar a toda a velocidade.

Os danos materiais variam desde uma simples deformação do bordo de ataque da asa até à destruição parcial ou total do reator.

Um dos casos mais famosos remonta a janeiro de 2009, quando o piloto de um Airbus A320 da US Airways com 155 pessoas a bordo conseguiu aterrar de emergência no rio Hudson, em Nova Iorque, após uma colisão deste tipo, e salvou todos os ocupantes.

O acidente mais mortal na história da Coreia do Sul

Este é o primeiro acidente mortal na história da Jeju Air, que foi fundada em 2005, e o mais mortal em território sul-coreano.

Antes do acidente deste domingo, o mais grave da história da Coreia do Sul foi a queda de um Boeing 767 da Air China vindo de Pequim contra uma colina perto do aeroporto de Busan-Gimhae, que fez 129 mortos a 15 de abril de 2002.

Em 12 de agosto de 2007, um Bombardier Q400 da sua frota que transportava 74 pessoas despistou-se sob ventos fortes no aeroporto de Busan-Gimhae (sudeste), provocando cerca de 10 feridos ligeiros.

O último acidente mortal numa companhia aérea sul-coreana foi o de um Boeing 777 da Asiana Airlines que falhou a aterragem no aeroporto de São Francisco, matando três pessoas e ferindo 182 a 6 de julho de 2013.

O desastre mais mortífero para uma empresa sul-coreana continua a ser o de um Boeing 747 da Korean Air, que ligava Nova Iorque a Seul via Anchorage (Alasca), que foi abatido por um caça soviético sobre o Mar do Japão, causando a morte de 246 passageiros e 23 tripulantes em 1 de setembro de 1983.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+