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Quem é Luigi Mangione, o alegado assassino do CEO da UnitedHealthcare?

10 dez, 2024 - 19:39 • Fábio Monteiro

Um homicida nascido num berço de ouro, um programador virtuoso e leitor ávido ou um “incel” (celibatário involuntário) dado a atos de justiceiro?

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Desde o assassinato de Brian Thompson, CEO da seguradora de saúde UnitedHealthcare, à porta do hotel Hilton Midtown, em Nova Iorque, na semana passada, a internet começou a especular sobre a identidade e as motivações por detrás do crime. E, em vez de esclarecer, a detenção de Luigi Mangione, o alegado responsável, na segunda-feira, parece ter vindo adensar ainda mais o mistério.

O norte-americano de 26 anos, natural do Estado de Maryland, foi detido num McDonalds, na cidade de Altoona, no Estado da Pensilvânia, após ser identificado e denunciado por um funcionário.

O estabelecimento em causa foi alvo de uma onda de críticas negativas na internet, desde então. “Não parem [neste restaurante] se forem um herói americano. Eles vão denunciar-vos”, lê-se numa das mensagens.

Mangione tinha consigo documentos falsos, uma pistola com silenciador – possivelmente feita com uma impressora 3D, conta o “The New York Times” -, e ainda um manifesto escrito à mão, com três páginas, no qual criticava o setor das seguradoras de saúde, por colocarem “os lucros à frente das necessidades do pacientes”.

O alegado criminoso deixara de contactar com a família a amigos há cerca de seis meses, após uma cirurgia à coluna, devido a um desalinhamento nas vértebras inferiores. (Deixou mesmo um amigo, que se ia casar, sem resposta.)

Vivia há muitos anos com dor crónica – o que impossibilitava de ter relações sexuais, contou outro amigo ao “The New York Times”.

Se na origem do crime esteve uma má experiência com a seguradora UnitedHealthcare isso é ainda uma incógnita. É público, todavia, que as balas usadas para matar Brian Thompson tinham gravadas as palavras "negar", "depor" e "defender" nos invólucros – uma referência a estratégias que as companhias de seguros utilizam para tentar evitar o pagamento de indemnizações.

O suspeito do costume?

Luigi Mangione vem de uma família rica do estado do Maryland. O seu avô Nicholas Mangione, falecido em 2008, era multimilionário e um reconhecido filantropo – inclusive, com ligações ao setor da saúde.

Todos os netos (37) de Nicholas, incluindo Luigi, nasceram no Greater Baltimore Medical Center, conta a revista “Newsweek”.

Em 2016, Luigi terminou o secundário na Gilman School, estabelecimento de ensino prestigiado em Baltimore, onde foi distinguido como um dos melhores alunos. (Ainda antes de entrar na universidade, desenvolveu um jogo – “Pivot Plane” para smartphone em que os utilizadores podiam fazer voar um avião de papel entre obstáculos.)

Quatro anos, depois, completou um bacharelato e mestrado em Ciência de Computadores, na Universidade da Pensilvânia.

Até 2023, Mangione viveu e trabalhou remotamente durante alguns períodos no Havai, a partir de um espaço de co-living, cuja renda mensal era de cerca de dois mil dólares mensais. Passou por várias empresas ligadas ao setor tecnológico e dos videojogos.

Migalhas das redes

Em busca de explicações, as contas das redes sociais de Luigi Mangione – “X”, “LinkedIn”, “Instagram” e até “Goodreads” - tornaram-se, nas últimas 24 horas, objeto de análise.

O perfil do programador no “X” – que tem, como imagem de capa um tríptico, um Pokémon (Breloom), uma radiografia e uma fotografia do próprio em tronco nu - ganhou mais de 300 mil seguidores, desde que a sua identidade foi revelada. Aí, é possível encontrar dezenas de publicações sobre alimentação saudável, tecnologia e autodescobrimento.

Mais curioso, porém, é o perfil na página de crítica literária “Goodreads”. Entre maio e fevereiro de 2023, Mangione leu pelo menos seis livros sobre dor crónica na coluna.

Já em janeiro deste ano, deu quatro estrelas ao manifesto “Industrial Society and Its Future”, do Unabomber, terrorista americano responsável por múltiplos ataques.

“É fácil escrever rapidamente e sem pensar que se trata do manifesto de um lunático, para evitar enfrentar alguns dos problemas incómodos que identifica. Mas é simplesmente impossível ignorar a presciência de muitas das suas previsões sobre a sociedade moderna”, escreveu Mangione no “Goodreads”.

Segundo "The New York Times", Luigi Mangione está a ser acusado de homicídio em segundo grau (primeiro grau só se aplica a casos muitos particulares, no Estado de Nova Iorque) – que tem uma pena mínima de 15 anos e máxima de prisão perpétua.

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