29 nov, 2024 - 06:30 • João Cunha
Não é a primeira vez que, em Espanha, há vítimas devido a fenómenos naturais.
Em finais de setembro de 1962, as cheias que assolaram a região de El Vallès, na Catalunha, também provocadas por uma gota fria, fizeram transbordar os rios Llobregat e Besòs. Oficialmente, terão perdido a vida cerca de 620 pessoas, mas as estimativas indicam entre 800 e mil mortes.
As causas naturais foram principalmente meteorológicas, mas considerou-se também que as causas geográficas, geológicas e urbanas tiveram um papel muito importante na tragédia. Tal como em Valência.
Na altura, toda a zona de Vallés foi declarada nacional e internacionalmente uma zona catastrófica, com a consequente ajuda de todo o tipo de organizações públicas e privadas como a Cruz Vermelha, o exército espanhol, a Guarda Civil, associações, sindicatos e população civil voluntária que, através de apoio material ou com a abertura de contas bancárias, ajudou a população catalã afetada.
Após a catástrofe, a Confederação Hidrográfica dos Pirenéus Orientais tomou as medidas adequadas para canalizar o caudal do rio, alargando o seu leito.
Apesar de avassalador, o número de vítimas de El Vallès é reduzido, quando contabilizados alguns dos piores desastres naturais da história recente da Europa. Desastres que nos lembram que é necessário estar preparado, prevenindo riscos.
Na passagem de ano para 1954, uma tempestade de grandes dimensões provocou um dos maiores desastres do continente europeu: 2.500 mortos, 160 mil hectares inundados e centenas de edifícios destruídos, danificados ou com ordem para demolir.
Uma tempestade formou-se no sul da Islândia e descolocou-se para a Escócia, aumentando de força até ter as características de um furacão, que se encaminhou para a costa então holandesa (hoje Países Baixos) em altura de maré alta. A água da chuva e do mar galgaram os diques e fluíram para terra firme, até então protegida.
Sem comunicações e impedidos de sair de casa, as pessoas não tinham como pedir ajuda. Isto os que ainda tinham casa, porque muitas foram levadas pela força da água. E os que dentro delas assistiam à tragédia morreram afogados ou esmagadas pelos edifícios.
A tempestade também atingiu o Reino Unido, onde dezenas de milhares de casas foram danificadas e mais de três centenas de pessoas morreram. Entre elas, os passageiros e tripulação do navio Princess Victoria, que afundou naquela noite. A bordo seguiam 133 pessoas.
Nos Países Baixos, sobretudo, passaram a ser implementados grandes sistemas de proteção contra o mar.
A história sísmica da Turquia já provocou milhares de mortos nas últimas décadas.
O abalo de 6 de fevereiro de 2023, com a magnitude de 7,7 na escala de Richter e que teve epicentro na província de Kahramanmaras durou cerca de 30 segundos e foi o mais mortal do último século naquele país. Cerca de 50 mil pessoas perderam a vida, mais 4500 na vizinha Síria, também fortemente afetada.
Antes, em 1999, um outro sismo, de magnitude 7,4 assolou a região de Izmir a 17 de agosto, provocando 17 mil mortos e meio milhão de desalojados.
Riviera Francesa, no sul de França. Um lugar idílico como a barragem de Malpasset transformou-se, numa questão de dias, num pesadelo. As chuvas torrenciais na região chegaram aos 500 milímetros por metro quadrado em dez dias e 130 mm em apenas 24 horas.
A água era tanta que o nível de uma barragem subiu quatro metros, a 2 de dezembro de 1959 e o rebentamento da barragem fez com que a água levasse tudo pela frente.
421 pessoas morreram e as perdas materiais chegaram aos 70 milhões de dólares.
O rompimento da barragem formou uma onde de quase 40 metros de altura, que à velocidade de sessenta quilómetros por hora, arrasou as aldeias de Malpasset, Bozon e Fréjus.
Corria o ano de 1963. A barragem de Vajont, a mais alta do mundo, tinha sido pensada nos anos 20 para aproveitar as águas dos rios Piave, Mae e Boite, no norte de Itália, e assim produzir eletricidade, para responder às exigências do sector industrial.
Os trabalhos de construção arrancaram em 1957 e dois anos depois, a construção de uma estrada provocou fraturas nos solos. Os especialistas de então alertaram as autoridades e os responsáveis pelas obras que todo o lado do Monte Toc, onde a barragem estava a ser construída, era instável e que podia colapsar. Mas apesar dos avisos, as obras continuaram.
Até que um reabastecimento de água da barragem provocou um deslizamento de terras de qualquer coisa como 260 milhões de metros cúbicos de floresta, terra e rocha. O violento deslize de terras na barragem fez com que esta transbordasse, libertando cerca de 50 milhões de metros cúbicos de água que terão gerado uma onda com 200 metros de altura, que destruiu por completo as pequenas localidades de Pirago, Rivalta, Villanova e Faè, assim como outras zonas da comuna de Longarone. Estima-se que possam ter perdido a vida cerca de duas mil pessoas.
6 de abril de 2009: Itália vive um de seus dias mais tristes após o terremoto de magnitude 6,3 que abalou a cidade de L'Aquila, na região de Abruzo, em que morreram 309 pessoas. Sete anos depois, 299 pessoas morreram num outro terremoto de magnitude 6 com epicentro em Amatrice, na província de Lazio. Contudo, na história recente de Itália, o sismo que mais vítimas fez ocorreu a 23 de novembro de 1980, quando um abalo de 6,9 na escala de Richter atingiu as regiões da Campânia e da Basilicata. Ficou conhecido como o terremoto de Irpinia e provocou a morte de cerca de três mil pessoas.
O verão de 2003 transformou vários países europeu em verdadeiros fornos, por causa de uma onda de calor de duração e intensidade nunca registada.
Em França, foi a pior onda de calor desde 1950. Em dois terços das estações meteorológicas francesas registaram-se temperaturas acima de 35 graus centigrados e mais de 40 graus em 15% das cidades.
O número exato de vítimas mortais relacionada ao calor intenso e persistente nunca foi conhecido. O próprio governo francês começou por garantir três mil mortes e, algumas semanas depois, cerca de cinco mil. Mas de acordo com um estudo publicado em setembro de 2023, perto de 15 mil pessoas terão morrido só na primeira semana de agosto, período durante o qual se registaram as temperaturas mais altas. Na altura, a sociedade francesa levantou um debate em torno de questões como a solidariedade interjecional, a eficácia dos serviços sociais e os sistemas de prevenção e alerta face ao calor.
A semana de 17 a 24 de junho de 2017 foi das piores de sempre em Portugal, em matéria de incêndios florestais.
Uma forte onda de calor manteve muitas áreas do país acima dos 40 graus centigrados. Só na noite de 17 para 18 de junho, 156 incêndios eclodiram por todo o país, em especial nas áreas montanhosas do norte-nordeste de Lisboa.
O foco inicial começou no município de Pedrógão Grande, reduzindo a cinzas, nos dias seguintes, mais de 30 mil hectares de floresta na região centro do país. Morreram nesses incêndios 65 pessoas, naquele que foi um dos maiores incêndios florestais de sempre em Portugal, o mais mortífero da história do país e o 11.º mais mortífero a nível mundial desde 1900.
Na altura, houve críticas às políticas governamentais que levaram ao desmantelamento dos serviços florestais, aos cortes de orçamento na política florestal, consequência da austeridade e do baixo nível de investimento público, e críticas à privatização dos meios aéreos.
Pedrógão, um mês depois do inferno
Ti Rosalina da Figueira ficou sem casa, Sandra ten(...)
Em pleno verão, a Europa Central foi atingida pelas inundações mais graves das últimas décadas.
A tragédia começou com chuvas, que rapidamente se tornaram torrenciais. Nos dias 14 e 15 de julho de 2021, caíram entre 100 e 150 milímetros de chuva no oeste da Alemanha, passando a ser desde então os maiores desde o início dos registos meteorológicos. Ao todo, 230 pessoas morreram, a grande maioria na Alemanha. Houve outras 40 vítimas mortais na Bélgica e nos Países Baixos.
Desde que o Reino Unido tem registos de temperatura, o verão de 2022 foi a primeira vez em que os termómetros subiram para lá dos 40 graus centígrados.
Em 1976 já tinha existido uma onda de calor que tinha chegado aos 35,6 graus, impensáveis para o típico verão britânico.
Estima-se que com os mais de 40 graus em 2022 tenha estado na origem de mais de três mil mortos em Inglaterra e no País de Gales. Houve quem se surpreendesse pelo facto de tanta gente morrer devido às temperaturas altas, mas houve fatores que para isso contribuíram: há que lembrar o clima relativamente húmido do Reino Unido, onde a maioria das casas não tem ar condicionado.