04 nov, 2024 - 21:57 • João Pedro Quesado
Se os norte-americanos votassem através do Google, Donald Trump seria o vencedor? Talvez. O ex-Presidente e candidato republicano às eleições presidenciais de 2024 nos Estados Unidos da América (EUA) é claramente o candidato que provoca mais interesse – falta saber se todo o interesse é pela positiva.
Quer sejam usados os dados do Google Trends entre junho e novembro, quer apenas os do último mês, as pesquisas por Donald Trump dominam em praticamente todos os estados dos EUA. A diferença é que, com o aproximar das eleições, o volume de pesquisas é maior tanto para Kamala Harris como para Trump.
A campanha de 2024 ficou marcada por poucos momentos capazes de colocar a disputa eleitoral nas prioridades dos norte-americanos. Os dados das pesquisas dos norte-americanos sobre os candidatos, no tema de campanha e eleições, mostram os debates como os grandes picos de interesse.
Os outros picos de interesse são marcados pela desistência de Joe Biden da corrida à Casa Branca, a 21 de julho, depois de quase um mês de intensa pressão ao atual Presidente na sequência de uma performance titubeante no debate de junho contra Donald Trump.
Fora do mundo da política, o evento que atraiu o maior interesse foi, sem margem para dúvida, a tentativa de assassinato de Donald Trump, a 14 de julho. A segunda tentativa, a 15 de setembro, ficou ao mesmo nível do interesse na Convenção Democrata, no final de agosto.
O que é claro é que o aproximar das eleições desta terça-feira - ou, melhor dizendo, do último dia em que é possível votar -, está a puxar as atenções dos norte-americanos para a disputa entre Kamala e Trump.
Outra forma de dissipar as dúvidas sobre o que vai na cabeça dos norte-americanos e perceber as pesquisas é olhar para o que é pesquisado em relação a cada candidato.
Aqui, Donald Trump beneficia de ser conhecido: o nome é uma marca não só da cultura popular como, desde 2015, da política dos EUA. Desde que Trump desceu de escadas rolantes para o anúncio da candidatura à Presidência que a vida política nacional dos Estados Unidos anda à roda do republicano.
Desde outubro, as principais pesquisas sobre Trump são semelhantes aos termos que dominam as pesquisas sobre Harris – os norte-americanos querem saber o que dizem as sondagens, e procuram notícias através do Google para ficar a saber o que se está a passar.
Por outro lado, as tendências de pesquisa nos últimos 30 dias sugerem que, além das manobras mediáticas de Trump – como o turno encenado num restaurante McDonald’s ou a resposta a Joe Biden com um camião do lixo –, o polémico comício da campanha no histórico Madison Square Garden, em Nova Iorque, rompeu a bolha política e chegou aos norte-americanos.
Além das comparações com o comício nazi de 1939 naquele mesmo espaço, um comediante comparou a ilha de Porto Rico, administrada pelos EUA mas sem direito de voto nestas eleições, com “uma ilha flutuante de lixo”. Além disso, Kamala Harris foi chamada de “diabo” e insinuou-se que começou a carreira como prostituta.
Já nas tendências de pesquisa em aumento sobre Kamala Harris, dominam as entrevistas da vice-presidente a canais televisivos, assim como o apoio de Arnold Schwarzenegger (ex-governador da Califórnia e filiado no Partido Republicano).
Outras pessoas procuram contribuir para a campanha, como se pode ver pela pesquisa pela loja da campanha de Kamala Harris, e até por conselheiros da campanha democrata.
Muitos modelos que usam sondagens para prever os resultados das eleições também recorrem a outros dados sobre os EUA e as eleições, a que chamam de fundamentos das eleições.
Uma das maiores componentes desses fundamentos é a economia. No mandato de Joe Biden, que começou em 20 de janeiro de 2021, a economia sofreu um forte aumento de inflação. Quão forte? A inflação acumulada é superior a 20 mil dólares em todos os estados dos EUA – em algumas regiões, até supera os 40 mil dólares acumulados desde 2021. Nos estados decisivos abaixo do leste do país, a inflação acumulada é menor que 30 mil dólares.
Um dos indicadores frequentemente usado é o crescimento do emprego. Depois de uma forte recuperação de empregos após a pandemia, muitos estados têm agora crescimentos abaixo de 1%, incluindo o Wisconsin e o Michigan – parte do clube dos estados decisivos.
Todos os outros estados decisivos estão acima desse nível no crescimento do emprego face a setembro de 2023 – e nenhum deles tinha, no segundo trimestre deste ano, salários a crescer menos de 4% em relação a 2023.
Em geral, as economias norte-americanas continuam com performances fortes. Entre os sete estados decisivos, apenas o Nevada viu o Produto Interno Bruto (PIB) crescer menos que 3%. A importante Pensilvânia cresceu, no 2.º trimestre de 2024, 3,2% face ao mesmo período de 2023, enquanto o Wisconsin e o Michigan viram o PIB crescer 4,2%.