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Presidenciais EUA

Eleições nos EUA. O que acontece em caso de empate entre Trump e Kamala?

30 out, 2024 - 20:00 • Diogo Camilo

Os cenários são improváveis mas não impossíveis, dado o equilíbrio entre Kamala e Trump nas sondagens e a maneira como os EUA montaram o seu sistema eleitoral. Em caso de empate, não há direito a uma segunda volta ou à contagem do voto popular: é o Congresso recém-eleito a escolher o novo presidente - e a vantagem é dos Republicanos.

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Os norte-americanos decidem a 5 de novembro o seu novo presidente dos EUA. Dois candidatos presidenciais, Donald Trump e Kamala Harris, lutam entre si para chegar aos 270 votos do Colégio Eleitoral, necessários para vencer a corrida à Casa Branca.

Mas vários cenários - remotos, mas não impossíveis - podem deixar ambos empatados ou sem hipótese de chegar a uma maioria. A constituição norte-americana tem prevista uma via alternativa para resolver a questão, que não passa pela contagem do voto popular ou por uma segunda volta de eleições, mas sim pelo Congresso a escolher o novo presidente.

Antes, um pouco de contexto.

Como são decididas as eleições nos EUA?

As eleições norte-americanas são decididas por voto indireto. Ou seja, os mais de 240 milhões de eleitores não estão a decidir diretamente o presidente e vice-presidente dos EUA, mas sim a escolher os representantes do Colégio Eleitoral do respetivo estado onde votam.

Cada estado tem um número já definido de delegados - que vai desde os três do pequeno Delaware aos 54 da gigante Califórnia -, proporcional à sua população e a partir do qual também é determinado o número de lugares na Câmara dos Representantes.

Em todos menos os estados, à exceção de dois - Nebraska e Maine -, o candidato que recolher mais votos é também quem recebe todos os votos eleitorais do estado em questão.

Isso quer dizer que vencer por uma larga margem tem o mesmo resultado prático que vencê-la por apenas um voto - o que faz com que a campanha se foque nos estados-chave onde a luta para ser o mais votado é mais renhida.


É possível um empate entre Trump e Kamala?

Sim, apesar de ser improvável. Estatisticamente falando, as combinações de um empate a 269 votos eleitorais são muitas, mas reduzem-se a apenas 14 se tivermos em conta os estados onde o resultado final não será conhecido à partida - por razões históricas e pelas sondagens realizadas nos últimos meses.

Dos 50 estados e território federal de Columbia, apenas dez parecem estar ainda em discussão. São eles: New Hampshire, Minnesota, Flórida, Nevada, Arizona, Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Geórgia e Carolina do Norte.

Em todos estes, o conjunto de sondagens divulgadas nas últimas semanas dão uma diferença entre Trump e Kamala inferior a seis pontos percentuais. Flórida parece bem encaminhada para os Republicanos, enquanto Democratas têm uma vantagem considerável em New Hampshire e Minnesota.

Restam sete estados, onde as sondagens colocam Trump e Kamala divididos por menos de dois pontos percentuais.

E, perante este cenário, há três combinações de empate: em todos elas, Trump tem de vencer a Pensilvânia e Michigan, enquanto Kamala tem de vencer Arizona.

A mais provável das três colocaria Trump a vencer Geórgia - onde tem vantagem de 1,6 pontos percentuais nas sondagens - e em Michigan - onde é Kamala que tem vantagem atualmente -, enquanto a democrata venceria Wisconsin e Nevada - onde leva vantagem -, além de Carolina do Norte e Arizona - onde é Trump que vai à frente nas sondagens.

O que acontece se houver empate?

Se nenhum dos candidatos conseguir a maioria dos 538 votos eleitorais, entra em cena a Constituição norte-americana e é necessária uma “eleição contingente”.

De acordo com a 12.ª Emenda, se nenhum candidato tiver a maioria dos votos do Colégio Eleitoral, é o Congresso que escolhe o presidente, enquanto o vice-presidente é nomeado pelo Senado.

A votação aconteceria três dias depois da tomada de posse dos membros recém-eleitos da Câmara dos Representantes, a 6 de janeiro, depois de comprovado que a contagem de votos eleitorais não leva a uma maioria.

Em vez de votarem como indivíduos, a delegação de cada estado tem direito a um voto - independentemente do seu tamanho.

Isso quer dizer que os 52 membros do Congresso que representam a Califórnia têm tanto peso como o único representante do estado do Alasca. E o território federal de Washington DC, que tem direito a três votos no Colégio Eleitoral, não seria contado numa eleição contingente.

Também quer dizer que uma maioria de 26 dos 50 estados é suficiente para eleger um novo presidente.

Caso as delegações dos estados não elejam um novo presidente até 20 de janeiro, o novo vice-presidente eleito pelo Senado será o presidente interino. Se o Senado também não tiver um vice-presidente escolhido até essa altura, impera a 20ª Emenda da Constituição norte-americana, com o primeiro na linha de poder a ser o presidente da Câmara dos Representantes - atualmente o republicano Mike Johnson, mas que poderá mudar com as eleições da próxima semana.

Quem está em vantagem neste cenário?

Neste momento, a vantagem é dos Republicanos e de Donald Trump: o partido controla 26 das delegações do Congresso, enquanto os Democratas têm 22 sob o seu poder, com os outros dois estados - Minnesota e Carolina do Norte - a estarem divididos.

Tudo pode mudar a 5 de novembro, com as novas eleições do Congresso, mas as sondagens apontam para que a maioria continue do lado dos Republicanos.

Já aconteceu um empate em presidenciais nos EUA?

Por duas vezes, ambas há mais de 200 anos. Nas eleições de 1800, as quartas na história dos Estados Unidos, os eleitores eram convidados a votar em dois candidatos: o mais votado resultaria no presidente e o segundo mais votado no vice-presidente.

Thomas Jefferson, dos Democratas-Republicanos, venceu o seu então presidente, John Adams, dos Federalistas, mas obteve o mesmo número de votos do seu candidato a vice-presidente, Aaron Burr.

No Congresso, os Federalistas que ainda controlavam o Congresso na altura apoiaram Burr e levaram a um impasse de 36 votações até Jefferson ser finalmente eleito presidente.

Além de 1800, em apenas outra ocasião não foi o Colégio Eleitoral a decidir uma eleição nos Estados Unidos. Aconteceu em 1824, já com a 12.ª Emenda da Constituição dos EUA alterada. Desta vez, Andrew Jackson liderou o número de votos eleitorais, mas não conseguiu a maioria por haver quatro candidatos diferentes a conseguirem vencer os estados.

Na primeira e única eleição contingente nos EUA, Jackson foi surpreendido por John Quincy Adams, que arrecadou 13 dos 24 votos eleitorais do Congresso e se tornou o sexto presidente norte-americano.

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