11 set, 2024 - 05:44 • Ricardo Vieira
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Economia, imigração e aborto foram os temas em destaque no primeiro debate entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris, rumo às eleições presidenciais de 5 de novembro, nos Estados Unidos.
No frente a frente televisivo na estação ABC News, a partir do National Constitution Center, em Filadélfia, também se falou do papel da América no mundo, das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, da relação com os aliados dos EUA e um pouco de China.
O debate presidencial começou com um aperto de mão entre os dois candidatos, por iniciativa de Kamala Harris, mas a partir daí o tom foi sempre endurecendo.
A vice-presidente de Joe Biden fez a primeira intervenção e apresentou-se aos americanos como uma pessoa que cresceu na classe média - e não em "berço de ouro" como Trump.
Harris defendeu as políticas económicas da administração Biden e disse ser a única pessoa no palco com "um plano para levantar a classe média e os trabalhadores da América".
"Temos um plano para uma economia de oportunidades", declarou, apostado em resolver a crise na habitação, apoiar as famílias com 6 mil dólares pelo nascimento de um filho e uma dedução fiscal 50 mil dólares para os pequenos negócios.
Kamala Harris considera que o principal plano de Donald Trump é cortar os impostos aos milionários e às grandes empresas, o que vai resultar num aumento do défice dos EUA, e adotar o Projeto 2025, um "plano perigoso" com políticas conservadoras de direita elaborado pela Heritage Foundation.
Na resposta, o antigo Presidente disse que não leu nem vai ler o Projeto 2025 e traçou um cenário negro do estado atual da economia americana. Prometeu baixar os impostos para todas as classes, para que todas as pessoas tenham mais dinheiro na carteira, e impor tarifas às exportações, nomeadamente com origem na China.
"A nossa economia está terrível, temos talvez a pior inflação de sempre, é um desastre para a classe média e para todas as classes. Os imigrantes estão a ocupar os lugares dos afro-americanos e dos latinos. Eles estão a tomar conta das cidades, a invadir edifícios, violentamente. Ela e Biden deixaram estas pessoas entrar no nosso país. Criei uma das melhores economias na história do país e vou fazê-lo ainda melhor", garante Donald Trump.
A adversária democrata voltou à carga: "Trump deixou-nos o pior desemprego desde a grande depressão, deixou-nos a pior crise de saúde pública num século, o pior ataque à democracia desde a guerra civil, e nós limpamos a confusão de Trump", atirou Kamala Harris.
A atual vice-presidente deixou um aviso à audiência: "Esta noite vamos ouvir mentiras e ofensas retiradas do velho e gasto manual" de Trump.
Os argumentos foram endurecendo à medida que o debate avançava. Donald Trump acusou Kamala Harris de ser marxista, de mudar de políticas ao sabor do vento e de ser uma sombra do atual Presidente. "Ela é Biden", chegou a dizer.
"Ela não tem política. Tudo o que ela acreditava há três ou quatro anos foi deitado fora, agora segue a minha filosofia. Vou enviar-lhe um chapéu MAGA. Se ela for eleita, ela muda. Vai ser o fim do nosso país. Toda a gente sabe que ela é marxista, o pai era um professor marxista", acusou o candidato do Partido Republicano.
Trump não largou o tema da imigração durante todo o debate, culpando a adversária pela maior onda de imigração ilegal na história dos EUA.
"As pessoas querem o seu país de volta, somos uma nação em decadência. O que fizeram ao nosso país, deixaram entrar milhões e milhões destas pessoas [imigrantes indocumentados]. Em Springfield estão a comer os cães e os gatos, estão a comer os animais de estimação dos habitantes", argumentou Donald Trump, chateado por Kamala Harris criticar os seus comícios.
"Ele fala de personagens como Hannibal Lecter [vilão do filme "O Silêncio dos Inocentes"], de torres eólicas que provocam cancro e as pessoas começam a deixar os comícios exaustos e aborrecidos. Ele não fala sobre vocês, os vossos sonhos, desejos e necessidades. Vocês merecem um Presidente que os coloque em primeiro lugar e prometo que serei esse Presidente", prometeu a atual "vice".
Kamala Harris acusou Trump de influenciar os congressistas republicanos para "matarem" um plano para a fronteira que previa um reforço de 15 mil agentes, mais meios para processar criminosos e "para estancar a entrada de drogas".
O tema do aborto também provocou uma acesa troca de argumentos entre os dois candidatos.
Donald Trump elogiou a decisão do Supremo Tribunal de eliminar a garantia constitucional do direito ao aborto, consagrada na decisão conhecida como Roe vs. Wade, que esteve em vigor durante cinco décadas. Com o fim da Roe vs. Wade a decisão passou para a mão de cada de estado norte-americano.
"Acredito nas exceções para violação, incesto e risco de vida da mãe. Mas agora os estados estão a votar. É um assunto que divide o nosso país há 52 anos", declarou o candidato republicano, que acusou um antigo governador democrata de defende a execução de bebés. A jornalista que estava a moderar o debate sublinhou que em nenhum estado é legal matar crianças depois do nascimento.
Kamala Harris acredita no direito da mulher a decidir o que fazer com o seu corpo e defende o regresso das proteções da Roe vs. Wade.
"Quando o Congresso aprovar um diploma a retomar a proteção de Roe vs Wade, como Presidente vou orgulhosamente assinar essa lei. Trump vai assinar uma proibição nacional do aborto", acusou.
O ataque ao Capitólio, em janeiro de 2021, foi outro assunto colocado em cima da mesa pelos entrevistadores da ABC News. Donald Trump voltou a defender os invasores e a colocar em dúvida o resultado das eleições de novembro de 2020, que perdeu para Joe Biden.
Questionado se lamenta alguma coisa no dia 6 de janeiro de 2021, Trump disse que não teve "nada a ver com aquilo", só fez um discurso e culpou a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes na altura, de ter rejeitado um reforço de segurança de 10 mil guardas nacionais para a manifestação em Washington.
Kamala Harris tem uma visão muito diferente daquela dia. "Eu estava no Congresso a 6 de janeiro e nesse dia o Presidente incitou uma turba violenta a atacar a capital do nosso país, a profaná-la. 140 polícias ficaram feridos e alguns morreram. Mas não é uma situação isolada. Em Charlottesville, racistas manifestaram-se e Trump disse que há pessoas boas dos dois lados. Sobre a milícia Proud Boys, Trump disse estejam a postos", recordou.
Ao recordar o ataque ao Capitólio, a candidata democrata disse que "está na altura de virar a página" e defender a democracia, o Estado de direito e "acabar com o caos" e o ataque às fundações do país só porque Trump "não gostou do resultado das eleições".
Donald Trump disse que conquistou 75 milhões de votos em 2020 e que lhe tinham garantido que ele ganhava com 63 milhões. Kamala contra-atacou que Trump foi "despedido por 81 milhões de norte-americanos".
Donald Trump voltou a afirmar que se fosse Presidente as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza nem tinham começado e deixou duras críticas à Administração Biden-Harris. "Vou acabar com a guerra em Gaza e na Ucrânia ainda antes de tomar posse como Presidente", prometeu.
O candidato republicano diz que vai colocar um ponto final no conflito na Ucrânia, mas não explicou como nem a que preço.
"Conheço Putin e Zelensky muito bem. Quero acabar com a guerra. Eles respeitam-me. Não respeitam Biden. Vou falar com os dois e juntá-los. Esta guerra nunca teria acontecido. A guerra na Ucrânia pode piorar e conduzir o mundo à III Guerra Mundial e temos um Presidente que nem sabemos onde estão. Foi retirado da campanha como um cão", declarou.
Em relação ao Médio Oriente, Trump considera que, se Kamala ganhar as eleições de novembro, Israel vai ser apagado do mapa. "Ela odeia Israel, nem se reuniu com Netanyahu quando ele esteve no Congresso. Se ela for Presidente, Israel deixará de existir dentro de dois anos", alertou.
A candidata democrata garante que "toda a minha vida apoiei Israel e o seu povo", mas não o mundo não pode tolerar a continuação da morte de crianças e mulheres inocentes na guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza e é preciso um acordo de cessar-fogo rapidamente.
"Trump é fraco e errado em segurança nacional e negócios estrangeiros, admira ditadores. Disse que Putin pode fazer o que quiser, disse que quando a Rússia invadiu a Ucrânia foi brilhante, escreveu cartas de amor a Kim Jong un. Estes ditadores querem o regresso de Trump porque o podem manipular com favores e elogios. Por isso, tantos lideres militares com os quais trabalhou me disseram que você é uma desgraça", ripostou Kamala Harris.
"Ela é que tornou o país fraco ao deixar entrar imigrantes de 168 países. Putin apoiou-a na semana passada", argumentou Donald Trump, que se autoelogiou por obrigar os parceiros da NATO a pagar para serem defendidos pelos EUA.
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Kamala Harris defendeu a importância da relação com os aliados históricos dos Estados Unidos e disse que o Presidente russo, Vladimir Putin, estaria agora sentado em Kiev se Trump fosse o chefe de Estado e comandante em chefe. "A agenda de Putin não é só sobre a Ucrânia. Entenda porque é que os nossos aliados europeus e da NATO estão tão agradecidos por Trump já não ser presidente. Putin é um ditador que o come ao almoço", afirmou.
Donald Trump garante que Putin estaria agora "sentado em Moscovo e não teria perdido 300 mil homens, estaria sentado em Moscovo muito mais feliz do que agora".
"Ele tem armas nucleares, eventualmente pode usá-las. Enviaram Kamala Harris para negociar a paz antes da guerra começar, três dias depois Putin começou a guerra porque tudo o que disseram foi fraco e estúpido. Ela é pior do que Biden. É uma negociadora horrível."
Sobre a retirada do Afeganistão, Kamala Harris criticou o acordo celebrado por Donald Trump com os talibãs, "uma organização terrorista". "Convidou os talibãs para Camp David, um lugar histórico para os EUA, onde recebemos líderes políticos respeitáveis", lamentou.
Já o antigo Presidente disse que foi duro nas negociações com os talibãs: "Os talibãs estavam a matar muitos soldados nossos, e negociei com eles. Disse ao Abdul, líder dos talibãs, para não o fazerem mais ou iam ter problemas. Ele disse: porque é que me enviou uma fotografia da minha casa? Eu disse: vai ter que perceber isso, Abdul. Durante 18 meses ninguém foi morto".
Donald Trump arrasou a forma com Biden e Kamala Harris conduziram a retirada do Afeganistão e deixaram para trás "85 mil milhões de dólares em material de guerra novo e bonito". "Estas pessoas fizeram a pior retirada no momento mais embaraçoso da história do nosso país. E foi por isso que a Rússia decidiu atacar a Ucrânia, porque viram o quão incompetentes ela e o seu Presidente são", argumentou.
Nas declarações finais, Kamala Harris disse que no debate desta noite "ouvimos duas visões muito diferentes para o nosso país, uma focada no futuro e outra no passado, que nos quer fazer retroceder, mas não vamos recuar".
Donald Trump fechou o debate ao ataque: "Ela disse que vai fazer essas coisas maravilhosas, mas porque é que não o fez nos últimos três anos e meio. Tiveram esse tempo para resolver o problema na fronteira e criar empregos, mas não o fizeram. Kamala Harris acredita em coisas que os americanos não acreditam. Acredita em coisas como acabar com o fracking e os combustíveis fósseis. Não podemos sacrificar o nosso país em nome de uma má visão".