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Ameaça nuclear

"Chernobyl voador". Encontrado provável local de lançamento de novo míssil nuclear da Rússia

02 set, 2024 - 18:37 • Reuters

O 9M370 Burevestnik foi anunciado em 2018 como uma arma "invencível", um míssil nuclear com impulsão nuclear. Os especialistas discordam da capacidade da nova arma e apontam ao fraco histórico nos testes.

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Dois investigadores norte-americanos dizem ter identificado o provável local de lançamento na Rússia do 9M370 Burevestnik, um novo míssil de cruzeiro nuclear, com propulsão nuclear, anunciado pelo presidente Vladimir Putin como "invencível".

Segundo o Presidente russo, a arma - apelidada de SSC-X-9 Skyfall pela NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) - tem um alcance quase ilimitado e pode escapar às defesas de mísseis dos EUA. Alguns especialistas ocidentais contestam as alegações e o valor estratégico do Burevestnik, assegurando que não acrescenta capacidades que Moscovo ainda não tenha e corre o risco de um acidente de derrame de radiação.

Usando imagens captadas em 26 de julho pela Planet Labs, uma empresa de satélites comerciais, os dois investigadores identificaram um projeto de construção adjacente a um armazém de ogivas nucleares conhecida por dois nomes - Vologda-20 e Chebsara - como o local potencial de lançamento do novo míssil. A instalação fica 475 km a norte de Moscovo.

Decker Eveleth, um analista da organização de investigação e análise CNA, encontrou as imagens de satélite e identificou o que avaliou serem nove plataformas horizontais de lançamento em construção. As plataformas estão localizadas em três grupos dentro de bermas altas, para as proteger de ataques ou para evitar que uma explosão acidental provoque a detonação de mísseis nas outras plataformas.

As bermas são ligadas por estradas que conduzem, segundo Eveleth, a edifícios onde os mísseis e os seus componentes são provavelmente alvo de manutenção, e até ao complexo existente de cinco bunkers de armazenamento de ogivas nucleares.

O local é "para um grande sistema de mísseis fixos, e o único grande sistema de mísseis fixos que eles [Rússia] estão a desenvolver atualmente é o Skyfall", apontou Decker Eveleth.

O Ministério da Defesa da Rússia e a embaixada em Washington D.C. não responderam a questões sobre a avaliação, o valor estratégico do Burevestnik, o histórico de testes e os riscos que representa. Um porta-voz do Kremlin disse que essas eram perguntas para o Ministério da Defesa e não fez mais comentários.

O Departamento de Estado dos EUA, a CIA, o gabinete do Diretor de Inteligência Nacional e o Centro Nacional de Inteligência Aérea e Espacial da Força Aérea dos EUA não quiseram reagir à notícia.

A identificação do provável local de lançamento do míssil sugere que a Rússia está a avançar com a implementação após uma série de testes marcados por problemas nos últimos anos, disseram Eveleth e o segundo investigador, Jeffery Lewis, do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, em Monterey.

Lewis concordou com a avaliação de Eveleth após rever as imagens, que diz que "sugerem algo muito único, muito diferente".

Hans Kristensen, da Federação de Cientistas Americanos, que também estudou as imagens, disse que estas parecem mostrar plataformas de lançamento e outras características "possivelmente" relacionadas ao sistema de mísseis Burevestnik. Mas sublinhou que não poderia fazer uma avaliação definitiva porque Moscovo normalmente não coloca lançadores de mísseis próximos de depósitos de ogivas nucleares.

Eveleth, Lewis, Kristensen e três outros especialistas afirmaram que a prática normal de Moscovo tem sido armazenar cargas nucleares para mísseis terrestres longe dos locais de lançamento - exceto para os mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), classe com alcance superior a 5.500 km.

Mas a implementação do Burevestnik em Vologda permitiria aos militares russos armazenarem mísseis com armas nucleares nos bunkers, tornando-os disponíveis para lançamentos rápidos, segundo Jeffery Lewis e Decker Eveleth.

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Ryabkov, disse que a Rússia vai alterar a doutrina nuclear - no fundo, as diretrizes sobre o uso de armas nucleares - em resposta ao que considera uma escalada ocidental na guerra na Ucrânia, informou a agência de notícias estatal TASS no domingo.

"Chernobyl voador" com fraco histórico nos testes

Um relatório de 2020 do Centro Nacional de Inteligência Aérea e Espacial da Força Aérea dos Estados Unidos disse que se a Rússia colocasse o Burevestnik em serviço com sucesso, isso daria a Moscovo uma "arma única com capacidade de alcance intercontinental".

Mas o passado conturbado da arma e as limitações de design levantam dúvidas entre oito especialistas entrevistados pela Reuters sobre se a implementação mudaria o jogo nuclear para o Ocidente e outros inimigos russos.

O Burevestnik tem um histórico fraco de pelo menos 13 testes conhecidos, com apenas dois sucessos parciais desde 2016, de acordo com a Nuclear Threat Initiative (NTI), um grupo de defesa focado na redução dos riscos nucleares, biológicos e de tecnologias emergentes.

Os contratempos incluem uma explosão em 2019 durante a recuperação mal-sucedida de um reator nuclear desprotegido que ficou a "arder" no fundo do Mar Branco por um ano após a queda de um protótipo, de acordo com relatórios do Departamento de Estado norte-americano.

A agência nuclear estatal russa Rosatom disse que cinco funcionários morreram durante o teste de um míssil em 8 de agosto. Putin presenteou as viúvas com as principais distinções estatais, dizendo que a arma que estavam a desenvolver ´r inigualável no mundo, mas sem citar o nome do Burevestnik.

Pavel Podvig, especialista nas forças nucleares da Rússia, Lewis, Eveleth e outros especialistas concordam que o projeto não vai adicionar capacidades que as forças nucleares de Moscovo não tenham atualmente, incluindo a capacidade de escapar às defesas antimísseis dos EUA.

Além disso, o motor movido a energia nuclear ameaça libertar radiação ao longo da trajetória de voo, e a implementação corre o risco de causar um acidente que pode contaminar a região ao redor, disse Cheryl Rofer, ex-cientista de armas nucleares dos EUA.

"O Skyfall é um sistema de armas excecionalmente estúpido, um Chernobyl voador que representa mais ameaça à Rússia do que a outros países", concordou Thomas Countryman, ex-alto funcionário do Departamento de Estado atualmente na Associação de Controlo de Armas, referindo-se ao desastre da central nuclear em 1986.

A NATO não respondeu a perguntas sobre como a aliança responderia à implementação da arma, e pouco se sabe publicamente sobre os detalhes técnicos do Burevestnik.

Os especialistas consideram que seria atirado para zonas altas da atmosfera por um pequeno foguetão de combustível sólido para impulsionar ar para dentro de um motor onde estaria um reator nuclear em miniatura. Ar superaquecido e possivelmente radioativo seria expelido, fornecendo o impulso para a frente.

Putin revelou o sistema em março de 2018, dizendo que o míssil seria de "voo baixo", com alcance quase ilimitado, uma trajetória de voo imprevisível e "invencível" face às defesas atuais e futuras. Muitos especialistas mostram ceticismo em relação às alegações de Putin.

O Burevestnik, apontam, poderia ter um alcance de cerca de 23 mil km — em comparação com os mais de 17.700 km do Sarmat, o mais novo míssil intercontinental balístico da Rússia - enquanto a velocidade subsónica o tornaria detetável.

"Ele vai ser tão vulnerável como qualquer míssil de cruzeiro", disse Hans Kristensen. "Quanto mais tempo voar, mais vulnerável se tornará, porque há mais tempo para o rastrear. Não entendo a motivação de Putin aqui."

A implantação do Burevestnik não é proibida pelo Novo START, o último tratado entre EUA e Rússia que limita a implantação de armas nucleares estratégicas, e que expira em fevereiro de 2026.

Uma disposição do acordo permite que Washington peça negociações com Moscovo para incluir o Burevestnik nas restrições, mas um porta-voz do Departamento de Estado disse que tais negociações não foram procuradas.

Citando a guerra na Ucrânia, a Rússia rejeitou os apelos dos EUA por negociações incondicionais para substituir o Novo START, alimentando recceios de uma corrida armamentista nuclear total quando o tratado expirar.

Pavel Podvig disse que Moscovo pode usar o míssil como moeda de troca se as negociações forem retomadas, e chamou o Burevestnik de "arma política" que Putin usou para reforçar a imagem de homem forte antes da reeleição, em 2018, e para dizer a Washington que o país não pode ignorar as preocupações com as defesas antimísseis dos EUA e outras questões.

Comentários
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  • Paulo
    03 set, 2024 Famalicão 13:22
    Este é o resultado da hostilizacao levada a cabo pela NATO (EUA) á Rússia, há duas décadas que a NATO cerca a Rússia atraindo países a aderir a esta aliança militar, obviamente que a Rússia não ficará quieta, quanto a Ucrânia afirmou que iria aderir á NATO rompendo acordos que o proíbem, a Rússia fez o que qualquer potência faria, imagine-se se a Rússia, China e outros países orientais etc formassem uma aliança do gênero da NATO e depois convencessem o México a aderir a tal aliança usando México como base militar junto aos EUA, os EUA iriam ficar quietos? Anda tudo muito desinformado, as pessoas comem tudo o que lhes dão, não sabem informar-se com insensao.

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