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79 anos de Hiroshima

Arsenal nuclear em renovação. Nova bomba dos EUA é 24 vezes mais poderosa que a de Hiroshima

06 ago, 2024 - 07:00 • João Pedro Quesado

Estados Unidos estão a investir 750 mil milhões de dólares na modernização de todo o arsenal nuclear, desde uma nova bomba a novos mísseis intercontinentais, submarinos e bombardeiros furtivos.

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Os Estados Unidos da América estão a desenvolver uma bomba nuclear com 24 vezes mais potência do que a bomba “Little Boy”, lançada sobre a cidade japonesa de Hiroshima há exatamente 79 anos. Depois de décadas de redução dos arsenais nucleares, a política de dissuasão voltou a orientar as opções estratégicas do único país a usar estas armas em guerra.

Anunciada em outubro de 2023, a nova B61-13 vai ser uma variante da bomba B61, criada na década de 1960 como uma alternativa mais leve do que as bombas de então, e com potência variável - permitindo a quem a opera escolher o poder explosivo da bomba. Esta arma é transportada no exterior de aeronaves de alta velocidade.

A nova arma vai ter uma potência semelhante a uma das variantes da B61 atualmente em uso – isto é, um máximo de 360 quilotoneladas de TNT. A bomba “Little Boy”, largada sobre Hiroshima pelo bombardeiro “Enola Gay” às 8h15 locais, explodiu com uma força de 15 quilotoneladas de TNT a 580 metros de altitude, matando entre 90 mil e 166 mil pessoas.

Apesar disso, esta nova arma fica longe das armas mais potentes alguma vez produzidas pelos EUA, cujo poder explosivo era de 25 megatoneladas, ou 25 mil quilotoneladas, de TNT. A arma mais poderosa alguma vez detonada pelos EUA, chamada "Castle Bravo" e testada no atol de Bikini, atingiu as 15 megatonelas de TNT (graças a um erro de cálculo dos engenheiros do laboratório de Los Alamos).

Bomba para uso em combate e alvos estratégicos

As bombas nucleares B61 cumprem dois papéis: o estratégico, para atingir alvos fulcrais para o esforço de guerra e economia do país adversário, e o tático, para uso em batalha. São ainda bombas de gravidade, não-guiadas – isto é, sem um sistema de navegação, seguindo simplesmente uma trajetória balística.

A decisão de desenvolver a nova variante da bomba é justificada por os competidores dos EUA continuarem a “expandir, diversificar e modernizar as suas forças nucleares enquanto aumentam a dependência em armas nucleares”, segundo o documento divulgado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

A nova bomba será transportada por um novo bombardeiro furtivo que está a ser desenvolvido pela Força Aérea norte-americana, o B-21 Raider. Apresentado em 2022, a nova aeronave estratégica deve entrar em serviço em 2027, estando uma unidade em testes desde novembro de 2023.

Apesar dos detalhes deste bombardeiro serem confidenciais, sabe-se que pode vir a substituir o bombardeiro estratégico furtivo B-2 Spirit, em operação desde 1997. Esta aeronave pode voar a 15 km de altitude, tem uma autonomia de 11 mil km sem reabastecimento, e alcança a velocidade máxima aos 1.010 km/h.

O projeto de armamento está longe de deixar todos felizes. A Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN) declarou, poucos dias depois do anúncio, que a nova bomba é “uma escalada irresponsável na nova corrida armamentista”.

“Anunciar estes planos no meio de conflitos na Europa e no Médio Oriente envolvendo países com armas nucleares (Rússia e Israel) é um ato arrogante face aos esforços para que estas armas de destruição maciça não sejam utilizadas novamente”, sublinhou a instituição.

A ICAN recordou, então, que outra variante desta arma, a B61-12, está implementada em várias bases da NATO no continente europeu, como na Alemanha, Turquia, Itália, Bélgica e Países Baixos.

A Federação de Cientistas Americanos acusou a administração Biden de operar uma “manobra política” para se livrar de outra arma, a B83-1 (cuja desativação foi originalmente programada pela Casa Branca de Obama, sendo anulada pela de Trump).

750 mil milhões de dólares para renovar o sistema nuclear

A nova arma e bombardeiro furtivo fazem parte de um esforço de renovação da tríade nuclear norte-americana, um sistema composto por mísseis intercontinentais lançados a partir do território, mísseis balísticos lançados por submarinos, e bombardeiros estratégicos com armas nucleares.

Os EUA estão a começar uma renovação completa dos 450 silos nucleares, localizados em cinco estados, dos seus centros de controlo, três bases de mísseis nucleares e outras instalações. O sistema Sentinel vai substituir os Minuteman III (criados em 1966) entre 2029 e 2075, por um custo de 96 mil milhões de dólares.

Mais de 132 mil milhões vão ainda ser gastos pelos EUA numa nova classe de submarinos nucleares, os Columbia, que devem começar a entrar ao serviço em 2031 e têm um ciclo de vida esperado de 42 anos.

Segundo os números da Federação de Cientistas Americanos, os Estados Unidos tinham 5.044 armas nucleares no seu arsenal no início de 2024, sendo apenas ultrapassados pela Rússia, com 5.580. Mais nenhum país chega sequer perto do milhar de armas: enquanto a China tem cerca de 500, a França e o Reino Unido não chegam às 300, seguindo-se a Índia (172), o Paquistão (170), Israel (90) e a Coreia do Norte (50).

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