15 jul, 2024 - 09:00 • José Pedro Frazão
Jack Martins também vai a votos em Novembro. O lusodescendente tentará a reeleição para o Senado estadual de Nova Iorque pelo 7º Distrito, depois de uma carreira política como autarca com quatro mandatos como Presidente da Câmara de Mineola.
Em entrevista à Renascença, gravada antes do atentado contra Trump, Martins assume-se como apoiante do Partido Republicano, mais do que um partidário de Trump, mas admite que é necessária uma mudança para uma Presidência mais afirmativa.
Este é um ano eleitoral muito importante para o mundo e em particular para os Estados Unidos, naturalmente. Presumo que vai apoiar Trump nesta eleição.
Eu sou republicano. Vou apoiar o Partido Republicano e os nossos candidatos. Estamos a passar por uma fase muito difícil no mundo, de instabilidade. Vimos pela primeira vez em muitas décadas uma guerra na Europa, no Médio Oriente, a possibilidade de guerra no Oriente e temos de estar focados naquilo que são os Estados Unidos no mundo. Quando temos um Governo americano centrado e forte nas suas convicções, o mundo normalmente é mais estável. Infelizmente, nos últimos 4 anos, vimos uma certa instabilidade no mundo e nos Estados Unidos que nos preocupa ou pelo menos a mim.
Reparei que falou em republicanos, não falou em Trump.
Falei em republicanos, precisamente.
Isso quer dizer que há uma diferença, na sua perspetiva, entre o que é Trump e o que são os republicanos? Hoje Trump está muito mais ligado ao Partido.
Muitas pessoas têm tendência a pensar em Trump como o Partido Republicano. O Partido Republicano é muito maior do que uma pessoa, tal como o Partido Democrata nos Estados Unidos é mais do que Joe Biden. Embora os combates do Presidente sejam decisivos, as prioridades dos partidos são mais do que as personalidades dos dois candidatos a Presidente.
Teme-se na Europa, um afastamento dos EUA em relação à Europa, se Trump for eleito. Isso faz sentido?
Acho que não. Já tive esta conversa várias vezes com colegas aqui em Portugal. Não haverá um afastamento. Para aqueles que ou não gostam de Trump ou preferiam ter outro Presidente é fácil dizer que, se Trump for eleito Presidente, os Estados Unidos da América viram as costas à Europa. Os factos são os seguintes. A Europa e os Estados Unidos estão ligados por alianças, por centenas de anos a trabalhar juntos para manter a paz e a segurança no mundo. Trump não é diferente.
Às vezes ele fala mais do que faz. Se nós virmos o que ele faz, as ações são diferentes daquilo que ele diz. A posição dele sobre a NATO não é uma decisão dele. A decisão é do povo americano, do Congresso, do Senado Federal e, ao fim e ao cabo, se Trump ou Biden estiverem na Casa Branca, nem um nem outro vão-se afastar da Europa. A estabilidade do mundo, na Europa, no Médio Oriente e no Oriente é importante e precisa de uma mão decisiva nos Estados Unidos.
Sentimos uma fratura na sociedade americana, com muito confronto. O que é que se está a passar na América?
Acho que faz parte do diálogo americano. Neste momento, estamos a passar por uma fase de conflito. Costumo dizer que um balde vazio faz mais barulho do que um balde que esteja cheio. Os 'baldes vazios' dos dois extremos de política, tanto de um lado como do outro, neste momento estão a fazer muito barulho. Devíamos parar de escutar os extremos e voltar ao centro, porque o mundo é mais estável e melhor quando conseguimos consenso sobre aquilo em que estamos de acordo. Neste momento, o extremo direito e o extremo esquerdo - especialmente neste momento, o extremo esquerdo - estão a criar uma certa instabilidade nos Estados Unidos e eu penso que estas eleições vão ser um meio de retificar isso.
A partir de Novembro isso vai melhorar?
O povo vai falar. Veremos. Por mim e pelas sondagens que tenho visto, o povo está a rejeitar este quadro radical a dividir o país, a criar divisões. Em Novembro, nas eleições, vamos ver a vontade do povo americano,
Havia uma tradição de um trabalho legislativo entre republicanos e democratas, até de algum diálogo. Isso perdeu-se?
Perdeu-se muito. Se formos atrás no tempo, Ronald Reagan trabalhava com Tip O'Neill que era o líder da Câmara dos Representantes. Um era republicano, outro democrata, mas conseguiam trabalhar juntos e entendiam que eles tinham essa responsabilidade. Bill Clinton como Presidente, neste caso democrata, estava a trabalhar com o Newt Gingrich, que que também era o líder da Câmara dos Representantes. Temos uma tradição nos Estados Unidos em que os nossos líderes, sejam republicanos ou democratas, trabalhavam junto para o bem do país.
Recentemente vimos realmente esta fratura ou divisão e espero que voltemos a essa tradição. Vejo que a vontade do povo é voltar ao sistema de governo em que se trabalha em conjunto e não só a atacarem-se uns aos outros.
Nem Biden nem Trump visitaram Portugal. Este aliado deixou de ser tão importante?
Não, Portugal é um aliado essencial por várias razões, não apenas pela cultura e ou a forma de atuar ao nível diplomático no mundo. Os Açores continuam a ser uma parte estratégica e muito importante da aliança entre os Estados Unidos e Portugal. Portugal continua a ser a entrada não só a Europa, mas para África, para áreas da América do Sul, da Ásia, porque Portugal continua a ter contactos e ligações por todo o mundo. Esse ponto essencial entre os Estados Unidos e Portugal não se pode esquecer.
Temos tido dois embaixadores em Portugal, a atual Randi Levine e George Glass, que fizeram um bom trabalho a representar os Estados Unidos aqui em Portugal e continuam a fazer esse trabalho. Por mim, gostava de ter visto tanto o ex-Presidente ou o atual Presidente a dar prioridade a Portugal com uma visita que seria justa.