08 jul, 2024 - 06:30 • André Rodrigues
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Entre a Nova Frente Popular - que reclama o Governo - e a União Nacional - que fala em “alianças de desonra” - “qual vai ser a escolha do Presidente francês, Emmanuel Macron, para tentar desbloquear a situação criada por esta Assembleia que foi eleita agora?”
Christophe Araújo, historiador e docente na Universidade de Paris/Nanterre, faz na Renascença a pergunta para a qual milhões de franceses procuram uma resposta, que é tudo menos óbvia.
"Vai ser interessante – e, ao mesmo tempo, preocupante – do ponto de vista político”, porque o cenário que sai da segunda volta das legislativas antecipadas é “uma novidade da Quinta República, com uma tripartição clara da Assembleia” que resulta “num cenário bloqueado” e em que são necessários compromissos pós-eleitorais, “algo a que os franceses não estão nada habituados”.
Christophe Araújo considera, por isso, que a clivagem e a tensão a que se assistiu, praticamente desde o anúncio da dissolução do Parlamento francês em plena noite de eleições europeias, coloca a França “no limiar da ingovernabilidade”.
Já Hermano Sanches-Ruivo, antigo vereador na Câmara de Paris, considera que “não é um problema de ingovernabilidade, mas de imagem”, não só do país, mas do próprio Emmanuel Macron.
“Certamente, o Presidente da República estará mais fragilizado, mas também não fica sem margem de manobra”, considera.
"A conversa seria muito diferente se a extrema-direita tivesse ganho... e com maioria absoluta, ainda pior", acrescenta.
Sanches-Ruivo assinala que Macron “ganhou duas eleições, não apenas sobre o programa dele, mas também com essa ideia que não se queria a extrema-direita” no Governo.
No entanto, “o bloqueio à extrema-direita não é suficiente”. “Vai haver mudanças" e o Presidente Macron tem que entender que está perante um novo cenário político, sublinha.
Eleições em França
Após a vitória anunciada da aliança de esquerda na(...)
Se o facto de não ter de conviver com um primeiro-ministro de extrema-direita “é a única boa notícia” para o Presidente cujo bloco partidário ficou encravado entre os extremos, à esquerda e à direita, já as negociações prometem ser um exercício exigente.
No imediato, “o mais fácil será manter Gabriel Attal – que anunciou que vai apresentar a sua demissão esta segunda-feira de manhã – como primeiro-ministro durante as férias, para ganhar tempo, até que os partidos se definam” em relação a uma maioria que possa governar o país.
No entanto, para Hermano Sanches-Ruivo, Macron poderá empreender uma tentativa de fratura na aliança de esquerda Nova Frente Popular para alcançar o objetivo de formar um Governo que exclua o França Insubmissa e, mais importante, o seu líder Jéan-Luc Mélenchon.
“Para isso, é obrigado a convencer o Partido Socialista, os ecologistas e uma parte do que resta da direita republicana… ou seja, fraturar a Nova Frente Popular que, num espaço de tempo muito curto, conseguiu ganhar as eleições”.
A questão é se a exclusão pura e simples de Mélenchon é do interesse de todos os partidos que integram a coligação de esquerda.
Christophe Araújo esclarece que, contrariamente à perceção fora da realidade francesa, existe a ideia de que a Nova Frente Popular é robusta, "mas não é bem assim".
Esta aliança "formou-se há três semanas antes das eleições" e juntou partidos desavindos, com o simples objetivo de travar uma vitória da extrema-direita.
No entanto, "se a Nova Frente Popular não for por diante com todas as forças que a compõe, pode haver uma grande desilusão no eleitorado e isso seria muito complicado", avisa este especialista.
Se, na primeira volta, Jordan Bardella e a União Nacional foram os grandes vencedores, este domingo o pacto republicano voltou a funcionar e fez do partido de Marine Le Pen o grande derrotado destas legislativas.
Mas, no médio e no longo prazo, Christophe Araújo antecipa que tal não deverá traduzir-se em grandes prejuízos para Le Pen.
“Já na primeira volta foram 10 milhões de pessoas que votaram na União Nacional e o que eles dizem agora é que não ganharam, desta vez. Mas em 2027 temos as eleições presidenciais e, para eles, é mais um episódio na batalha que eles estão a ganhar, porque vemos que o discurso da extrema-direita está a ganhar cada vez mais peso na paisagem política francesa”, conclui.