28 jun, 2024 - 03:50 • Ricardo Vieira
"Mentiroso", "criminoso", "condenado", "o pior presidente da história", "gato vadio". O primeiro debate presidencial entre Joe Biden e Donald Trump, realizado esta quinta-feira, ficou marcado por insultos, trocas de acusações e duas visões diametralmente opostas sobre os Estados Unidos e o cenário internacional.
Imigração, economia, aborto, guerra da Ucrânia, o pós-eleições, casos judiciais, a saúde dos candidatos e quem é melhor jogador de golfe foram alguns dos temas do frente a frente na estação CNN. Tudo enquanto Portugal dormia (o debate arrancou às 02h00 da madrugada).
As hostilidades começaram com o Presidente Biden, de 81 anos, e o republicano Trump, de 78 anos, a esgrimirem argumentos sobre o estado da economia norte-americana.
Joe Biden diz que Donald Trump, quando perdeu as eleições e deixou a Casa Branca em 2021, a economia "estava num caos" e tinha "colapsado na pandemia, sem empregos".
"Foi terrível. Nós criámos milhares de novos empregos, mas há mais a fazer. A classe trabalhadora ainda tem problemas. Vamos reduzir o preço da habitação, construir novas casas e manter os preços baixos. Descemos os preços dos medicamentos e estamos a trabalhar para baixar o preço dos alimentos", promete o candidato democrata.
Na réplica, Donald Trump defendeu que conseguiu evitar que os EUA caíssem numa nova grande depressão durante os anos da Covid-19. "Passamos a pandemia melhor do que outros", declarou.
Biden disse que Trump deu luz verde "à maior descida de impostos" aos mais ricos e foi responsável pela maior dívida pública na história do país. Noutro ponto do debate, Biden defendeu maior carga fiscal para os milionários norte-americanos, para garantir a sustentabilidade da Segurança Social e apoios sociais para crianças e idosos.
O candidato republicano respondeu que a sua decisão de baixar impostos teve um impacto positivo na economia e acusou o atual Presidente de ser responsável por uma "explosão" da inflação, que retirou dinheiro à carteira dos cidadãos. "O que este homem fez é criminoso", atirou Donald Trump.
Se ganhar as eleições, o antigo Presidente quer agravar as taxas sobre as importações. "Isso é para os países como a China que nos andam a aldrabar há muitos anos", defendeu. Trump considera que a administração Biden é "a pior da história" e os EUA, atualmente, não são respeitados no mundo.
A guerra na Ucrânia foi outro dos temas do primeiro debate para as eleições presidenciais de 5 de novembro. Joe Biden promete continuar a apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia, bem como a valorizar o papel da NATO na defesa da Europa.
Donald Trump argumenta que se os EUA tivessem "um presidente respeitado Putin nunca teria invadido a Ucrânia" e promete acabar com a guerra ainda antes de tomar posse, mas não explicou como. Admite que as condições do Presidente russo, Vladimir Putin, para a paz "não são aceitáveis, mas esta guerra nunca devia ter acontecido".
O republicano criticou também a forma como decorreu a retirada "embaraçosa" do Afeganistão e considerou que consigo na Casa Branca "Israel nunca teria sido invadido pelo Hamas, porque o Irão estava falido. Não tinham dinheiro para o Hamas nem para o terrorismo".
Donald Trump diz que obrigou os aliados da NATO a pagar milhares de milhões de dólares, mas "agora nós é que estamos a pagar as dívidas de toda a gente". "O mundo está a explodir por conta de Biden", atirou.
"Ele vai levar-nos à III Guerra Mundial, estamos mais perto do que nunca da III Guerra. Kim Jong un da Coreia do Norte, Xi Jinping da China e Putin não o respeitam e ele vai levar-nos à III Guerra", alertou.
Na réplica, Joe Biden disse que desvalorizar a NATO perante a ameaça russa é perigoso para o mundo. "Se querem a III Guerra, deixem Trump ganhar e o Putin fazer o quiser com a NATO", afirmou o Presidente norte-americano.
A invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, após a derrota de Trump nas últimas eleições, continua na memória dos americanos. O candidato republicano foi questionado se vai aceitar o resultado das presidenciais de 5 de novembro deste ano. A resposta de Trump foi afirmativa, mas com várias condições.
“Se as eleições forem justas, legais e boas, sem dúvida. Eu preferia muito mais ter aceito as últimas, mas a fraude e tudo o mais foram ridículas. Eu nem me ia candidatar até perceber o mau trabalho que este tipo está a fazer, a destruir o nosso país. Quem me dera estar tranquilo a gozar a vida, sem ser acusado de nada”, declarou.
Por seu lado, Joe Biden acusa Trump de ser um "choramingas", por ter contestado o resultado das últimas eleições e "nenhum tribunal da América lhe ter dado razão".
Não há provas de que tenha havido um roubo. Duvido que aceite o resultado das eleições, porque é um choramingas, não aceita perder", acusou o candidato democrata.
Joe Biden chamou "criminoso" a Trump. Atacou o adversário com os casos judiciais de que é alvo, nomeadamente por ter sido considerado culpado em tribunal no caso de pagamentos ilegais para encobrir uma relação com a atriz de filmes pornográficos Stormy Daniels. "Teve relações sexuais com uma atriz de filmes pornográficos. Tem a moral de um gato vadio", condenou.
Trump declarou-se inocente e disse que foi perseguido por um "juiz democrata terrível". Contra-atacou com a recente condenação do filho de Biden, num caso em que mentiu sobre o uso de drogas para conseguir comprar uma arma.
Durante o debate, os adversários atribuíram um ao outro do título de "pior Presidente da história". Com Trump a criticar a política de imigração de Joe Biden e a traçar um cenário dantesco: "No meu mandato tínhamos as fronteiras mais seguras na história. Agora temos a pior. Agora, terroristas e assassinos de todo o mundo estão a entrar. Ele abriu as fronteiras. Pessoas estão a morrer em todo o lado".
O candidato republicano que quer regressar à Casa Branca diz que enquanto imigrantes são alojados em "hotéis de luxo", os veteranos de guerra estão abandonados pelo Governo e "vivem nas ruas".
Joe Biden acusou Trump de mentir. Disse que conseguiu um acordo bipartidário sobre o reforço das fronteiras com o México, com restrições para os requerentes de asilo, e garantiu que os veteranos de guerra estão melhor agora, nomeadamente no acesso a cuidados de saúde.
"Respeitamos muito os veteranos, o meu filho esteve no Iraque. Trump disse que os veteranos são falhados. Ele é que é", aponta o candidato democrata.
O aborto foi outro dos temas do debate televisivo. Biden culpou o adversário pelo fim da garantia constitucional Roe vs. Wade - que vigorava desde 1973 - ao nomear juízes conservadores para o Supremo. "Foi uma coisa terrível", afirmou.
Trump reafirma o apoio à decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos sobre a garantia constitucional do aborto. "Devolvemos esta questão aos estados para que decidam", salientou.
A parte final do frente a frente ficou marcada por questões sobre o estado de saúde dos candidatos. A idade de Biden e Trump tem sido um dos assuntos de campanha.
Donald Trump disse que passou com distinção num conjunto de testes cognitivos, levantou dúvidas se o mesmo aconteceria se Joe Biden fosse colocado à prova e gabou-se por vitórias em torneios de golfe, para atestar a sua capacidade para cumprir o mandato presidencial.
O atual Presidente, que por vezes tropeçou nas palavras e revelou algumas hesitações, respondeu que Trump é "três anos mais novo e é menos competente" e desafiou o rival para uma partida de golfe, mas Trump teria de carregar com o saco dos tacos.
"Não vamos agir como crianças", rematou Donald Trump, após uma troca de argumentos sobre o "handicap" de cada um.
A caminho das eleições de 5 de novembro, os dois candidatos ainda têm um segundo debate na agenda, uma derradeira oportunidade para convencer o eleitorado entre votar democrata ou republicano.