06 nov, 2023 - 22:55 • João Malheiro
Até hoje, morreram já 36 jornalistas no conflito entre Israel e o Hamas, desde o escalar da guerra a 7 de outubro. É o conflito mais mortal para o jornalismo neste século.
Oito jornalistas ficaram feridos e ainda três estão desaparecidos.
São números pesados, mas que não surpreendem a enviada especial da Renascença ao Médio Oriente, que realça que "a esmagadora maioria" dos jornalistas que morreram neste conflito estavam a fazer o seu trabalho em locais onde também morreram milhares de civis.
Catarina Santos refere que "há uma diferença enorme entre estar a cobrir o conflito a partir de Israel ou da Cisjordânia e de Gaza".
"Não surpreendem tendo em conta os números, que também vão crescendo, de civis a morrer. Muitos jornalistas estavam no meio destes civis", explica.
A jornalista da Renascença refere que estes profissionais ficam expostos a situações constantes de risco, quando se aproximam dos lugares onde acontecem combates.
Por exemplo, em situações mais perto da fronteira com Gaza "é frequente ouvir explosões" ou o aumento "da possiblidade de algo correr mal", tornando-se por isso importante o uso do equipamento de proteção.
"Temos de ter muito cuidado e estar alerta. Ver onde está um abrigo para nos podermos proteger, de um momento para o outro".
Por isso, Catarina Santos explica que a cada dia de reportagem é fundamental "perceber para onde é que vamos e qual é o risco associado".
"Se for para fazer uma viagem até ao Sul do país, mesmo que não seja muito colado à fronteira com Gaza, a cautela revela que é melhor levar o equipamento de proteção", exemplifica.
São os riscos que fazem parte da profissão de jornalista, mas que mesmo assim não justificam números que são "uma violência extrema", como caracteriza o presidente do Sindicato dos Jornalistas.
Luís Filipe Simões aponta que os jornalistas "não podem ser um alvo, não são um inimigo" e que a Convenção de Genebra expressa que devem ser tratados como civis.
Para o representante sindical, "quando o jornalista passa a ser alvo, é uma profissão de alto risco".
No entanto, realça que "não é só em cenário de guerra que passa a ser uma profissão com risco".
Será necessário, por isso, treino e formação para preparar jornalistas para cenários difíceis? A enviada especial da Renascença ao Médio Oriente acredita que sim.
"Devia ser uma coisa mais regular e integrada na formação de um jornalista. Normalmente, quando é necessário ir para estes cenários não há tempo para ainda fazer a preparação".
Uma opinião partilhada pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas que diz que "podia ser uma oferta mais alargada e que mais pessoas pudessem ter esse tipo de formações".
Luís Filipe Simões realça, ainda, que para lá dos riscos da guerra, há também um desafio de fazer chegar informação fidedigna, por entre propaganda, pois "a guerra da informação às vezes é mais eficaz que a guerra no terreno".
"Somos a barreira entre a informação e a desinformação. Sublinho que os jornalistas portugueses têm tido a capacidade de informar", aponta.
Já a enviada especial da Renascença ao Médio Oriente avisa que é preciso "muita cautela" quando se dá informação de última hora sobre este tipo de conflitos.
"Às vezes, o melhor serviço que podemos prestar é apresentar todas essas cautelas e dúvidas para que quem nos está a ler ou a ouvir possa perceber que nem tudo é claro. Para guardar um lugar de reserva para o que um lado está a dizer não seja bem assim", indica.
A cautela dos jornalistas que, desde 7 de outubro, procuram informar com rigor num cenário difícil de guerra no Médio Oriente.