26 set, 2023 - 17:01 • Diogo Camilo
Uma novo supercontinente inabitável, com temperaturas médias de verão nos 46º.C e extinções em massa. É assim que um modelo da Universidade de Bristol prevê que seja a vida dentro de 250 milhões de anos, como resultado do movimento das placas tectónicas e do aumento das temperaturas do ar e do solo.
Inspirado num estudo que prevê a criação de uma nova Pangeia, depois daquela que existiu entre 330 e 170 milhões de anos atrás, o investigador britânico Alexander Farnsworth quis perceber qual o futuro e condições de vida do novo supercontinente, o Pangeia Última, que se irá formar daqui a mais de 200 milhões de anos, à medida que o Oceano Atlântico encolhe e o supercontinente que junta Europa, África e Ásia se funde e colide com as Américas.
O trabalho, publicado na revista científica Nature Geoscience esta segunda-feira, teve a ajuda de supercomputadores e mostra um planeta muito mais quente daquele que temos atualmente.
O principal culpado é o sol: a cada 110 milhões de anos, a energia e calor libertado aumenta em 1%. E a criação de um supercontinente também não ajuda: com a fusão dos continentes num só, a atividade vulcânica vai largar grandes quantidades de dióxido de carbono, o que aquecerá o planeta.
Como a terra aquece mais rapidamente que os oceanos, o interior da nova Pangeia vai ver as suas temperaturas dispararem para médias de 46.º C nos meses quentes e os 23.º C nos meses frios, formando-se desertos inabitáveis.
No cenário mais pessimista criado através deste modelo, em que os níveis de CO2 são o dobro dos níveis atuais, apenas 8% da superfície do planeta – regiões costeiras e polares – seria habitável para a maior parte da vida dos mamíferos. Mesmo num cenário mais otimista, a percentagem de território habitável seria apenas 25% - atualmente a percentagem é de 66%.
E estas condições levariam, inevitavelmente, a uma extinção em massa que não afetaria só humanos, prevê o professor da Universidade de Bristol.
“Não seria apenas para mamíferos, mas também à vida vegetal e outras formas de vida. Ninguém poderá prever [o que acontecerá], mas noutras extinções em massa, uma nova espécie tende a dominar”, afirmou Alexander Farnsworth à Nature.
Para este modelo não foram consideradas as emissões de carbono emitidas pela atividade humana, que representam mais de 40 mil milhões de toneladas todos os anos.
Ainda assim, há uma réstia de esperança: se os seres humanos ainda estiverem pela Terra dentro de 250 milhões de anos, Farnsworth antevê que tenham encontrado formas de se adaptarem a uma Terra que se assemelha à do romance de ficção-científica Duna, escrito por Frank Herbert em 1965 e com adaptação ao cinema em 1984 e 2021.
“Conseguirão os seres humanos tornar-se especialistas em ambientes de deserto, tornando-se noctívagos? Suspeito que, se conseguirmos sair deste planeta e encontrar um mais habitável, seria um cenário mais aconselhável”, diz.