Tempo
|

Eleições a 23 de julho

Feijóo ou Sánchez? O vencedor pode não governar Espanha

18 jul, 2023 - 19:45 • João Pedro Quesado

O presidente do Governo convocou eleições depois da derrota eleitoral dos socialistas nas eleições municipais e regionais, mas a aposta parece destinada ao fracasso. A questão é que bloco soma mais deputados - e em quem os indecisos optam votar.

A+ / A-

Uma semana pode significar muita coisa em política, principalmente em tempo de campanha eleitoral. No caso das eleições em Espanha, na falta de surpresas, a última semana de campanha não trará grandes mudanças ao cenário previsto para 24 de julho – uma vitória do bloco de direita.

É provável que Alberto Núñez Feijóo lidere o Partido Popular (PP) até à vitória sobre o PSOE de Pedro Sánchez. Mas daí não se pode tirar a conclusão de que a Espanha vai ter um novo presidente do Governo, já que essa conquista está mais dependente do bloco político que consegue ocupar pelo menos 175 lugares no Congresso dos Deputados.

Eleições para evitar um pântano

A Espanha tinha eleições legislativas agendadas para o final de 2023. Um dia depois das eleições municipais e regionais de maio, no entanto, Sánchez falou em direto do Palácio da Moncloa e explicou que, após o PSOE perder várias regiões e quase todas as grandes cidades do país e ser superado pelo PP em mais de 750 mil votos, iria dissolver o parlamento nacional.

Sánchez, que lidera desde 2020 o primeiro governo de coligação da história da Espanha, chegou ao poder em 2018, após ser aprovada uma moção de censura contra o executivo de Mariano Rajoy, então líder do PP, relacionada com o caso Gürtel.

O líder do PSOE apostou o seu futuro político na necessidade do PP apoiar-se no Vox, o partido de extrema-direita, para governar em muitas cidades e regiões, já que não conseguiram maiorias absolutas. A esperança é - ou era – que isso se traduzisse no apoio de eleitores que os socialistas precisam para vencer, receosos de um governo apoiado pelo Vox.

Se a estratégia parece familiar, é porque não é muito diferente do que levou António Costa a conseguir uma maioria absoluta em janeiro de 2022. Mas o sucesso de Sánchez já era menos provável, já que em Espanha o receio da extrema-direita tem feito os eleitores votar mais no conservador e já conhecido PP.

O curto espaço de tempo até às eleições - 54 dias, manda a lei espanhola - também forçou os partidos à esquerda do PSOE - Podemos e o Sumar - a pôr de lado as diferenças para evitar a penalização eleitoral que sofreriam com a divisão de votos entre os dois.

As férias e os votos por carta

Há um elemento de imprevisibilidade na data das eleições: o final de julho já é período de férias para muitos espanhóis, o que pode aumentar a abstenção sem que seja possível prever os efeitos disso na votação de cada partido.

Os espanhóis podem optar pelo voto por correspondência. No entanto, as eleições municipais e regionais de maio também foram marcadas por suspeitas de fraude nesta forma de voto, com possíveis compras de votos.

Apesar disso, as estações de correios do país viram-se a braços com uma onda de eleitores a inscrever-se para votar por carta antes do prazo terminar, no fim da primeira semana de campanha. A contabilização final é de 2,6 milhões de eleitores inscritos para o voto por correspondência.

Para lidar com o volume extra de correspondência, os Correos contrataram mais de 19 mil trabalhadores suplementares, e viram mais de 30% dos seus trabalhadores suspender voluntariamente as férias marcadas para julho.

Apesar disso, o líder do PP expressou dúvidas sobre a capacidade dos Correos entregarem todos os boletins de voto, e sugeriu que os diretores dos serviços estavam a tentar interferir no processo eleitoral: “Independentemente dos vossos chefes, peço-vos [aos carteiros] que distribuam todos os boletins a tempo, para que nós espanhóis possamos votar”, disse num comício em Murcia.

Para Pedro Sánchez, esta foi uma tentativa de distrair os eleitores da formação de governos de coligação entre o PP e o Vox na Comunidade Valenciana e na Estremadura.

PP e PSOE dependentes de Vox e Sumar

A campanha começou com o líder dos socialistas espanhóis a usar precisamente os acordos entre o Partido Popular e o Vox para apelar ao voto, inclusive dos “envergonhados” que votaram no PP e o viram unir-se à extrema-direita, explorando a abertura que Feijóo expressou em formar um governo nacional com o apoio do partido de Santiago Abascal.

No debate televisivo de 10 de julho, Sánchez voltou a este argumento, dizendo que “PP e Vox são o mesmo”. Mas Feijóo pôs na mesa – literalmente – uma proposta de acordo entre os dois maiores partidos espanhóis, em que um nunca votaria contra o governo de outro, dando ao líder socialista um caminho imediato para evitar a chegada da extrema-direita ao governo.

Na defensiva, Sánchez deixou o pacto por assinar, e ouviu Feijóo a acusar os socialistas de governar com partidos independentistas, incluindo o Bildu, que conta com políticos que integraram a ETA, a organização terrorista e separatista do País Basco.

Desde o debate que o PP tem subido nas sondagens, ao contrário do PSOE. As sondagens publicadas esta segunda-feira – o último dia em que é permitido fazê-lo – colocam uma coligação entre o PP e o Vox muito perto da maioria absoluta.

Vox e Sumar estão a disputar o terceiro lugar, mas alguns partidos regionais que têm apoiado o PSOE também podem ter influência em quem é o próximo líder do Governo espanhol.

O que as últimas sondagens também apontaram foi que 30% dos eleitores ainda estava indeciso quanto à sua intenção de voto. A única forma de perceber, antes do dia das eleições, se existe alguma evolução neste sentido, pode ser acompanhar a publicação de sondagens em Andorra ou nas redes sociais, sem nomear os partidos – mas usando frutas com as cores de cada um.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+