07 abr, 2023 - 09:35 • José Pedro Frazão, enviado da Renascença à Ucrânia
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É domingo e a assembleia da Concatedral de Zaporizhzhia tem cerca de 70 pessoas para a missa presidida por D. Jan Sobilo. O bispo auxiliar de Kharkiv-Zaphorizhzhia, nascido na Polónia, veio para esta cidade aos 29 anos para dinamizar a paróquia e foi peça-chave no movimento que levou à construção da concatedral, consagrada em 2004.
Na celebração deixou um apelo à oração num tempo difícil, dois dias depois de um ataque com mísseis russos a um prédio residencial que fez 13 mortos. "Quero mostrar-lhes que a nossa fé pode acelerar o caminho para a vitória, por isso precisamos de rezar. Temos esperança e muita fé de que a situação possa mudar rapidamente com a força da nossa oração", explicou à Renascença depois da celebração dominical.
O bispo auxiliar apela à oração pelos soldados que defendem Zaporizhzhia e a Ucrânia, apoiando o seu "espírito" e a sua "coragem". A cidade pode ser fulcral no desfecho da guerra, sobretudo no contexto do reatar dos combates mais agressivos e alargados no Leste. Na cidade, pressente-se o perigo de um ataque russo massivo e direto à cidade.
"Temos consciência de que se Bakhmut cair, se outras cidades se seguirem, Zaporizhzhia pode tornar-se numa nova Mariupol. Ou seja, os ocupantes tentam primeiro cercar a cidade para depois a capturar. Em 2014 muitas pessoas ligadas à Rússia queriam criar a República Popular de Zaporizhzhia, como fizeram com as províncias de Donetsk e Luhansk", avisa o bispo Sobilo, que garante que a vontade de defender a cidade é proporcional à ameaça de que se fala.
A Diocese de Kharkiv- Zaporizhzhia abrange grande parte do Leste da Ucrânia que está sob controlo da Ucrânia. 70% da região de Zaporizhzhia já está ocupada por forças russas ou pró-russas. Dois padres greco-católicos continuam em cativeiro, mas a maioria conseguiu escapar para zonas seguras.
"Os nossos padres saíram dessas zonas quando puderam. Antes receberam propostas como as de receberem nacionalidade russa, passaportes russos e entrarem na Igreja russa, caso contrário seriam mortos. Os russos diziam-lhes que não podiam estar ali sendo de uma igreja ucraniana. Os nossos padres decidiram então sair num processo difícil, com viagens de vários dias de estrada e muitos postos de controlo, onde muitas vezes foram revistados", relata o bispo Jan Sobilo.
A estes relatos junta-se a destruição de igrejas durante os combates, como em Bakhmut , sendo muito difícil trazer objetos litúrgicos no processo de fuga ou mesmo entre os escombros.
O bispo auxiliar de Zaporizhzhia sublinha que este tempo de Páscoa também permite a união dos cristãos para que juntos rezem pela paz. "Em tempo de guerra, o sofrimento e morte de Jesus têm outro significado", afirma o bispo de origem polaca.
Não será por acaso que na porta de acesso dos fiéis à Igreja, situada numa zona lateral da nave principal, está uma foto do Papa João Paulo II. Sobre Francisco, o bispo diz sentir o seu apoio desde sempre e não apenas quando se concretizou a chamada "invasão de larga escala".
No altar principal, logo à direita, está em destaque uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, feita em madeira, trazida para Zaporizhzhia por um homem rico da cidade que a encomendou de forma privada em Portugal. Após a celebração são várias as mulheres que se aproximam desta imagem que copia a original de Fátima para rezar em privado e com nítido fervor.
"Como ouvimos de novo em 2017, Fátima apela à conversão da Rússia. E esta guerra mostrou-nos que temos que rezar ainda hoje por essa conversão. Enquanto ela não estiver concretizada não haverá paz e a Rússia irá desestabilizar sempre a situação na Ucrânia e em todo o mundo", justifica o bispo auxiliar da diocese, antes de agradecer o apoio dos portugueses, pelas suas orações, pela ajuda financeira e humanitária e pela forma como acolhem os refugiados ucranianos.