Exclusivo Renascença. Ucrânia admite negociar quando Rússia "retirar instrumentos agressivos"

10 mar, 2023 - 17:58 • José Pedro Frazão , enviado da Renascença à Ucrânia

Vice-chefe de gabinete do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, responsável pela política externa, considera que a negociação de paz depende da neutralização dos instrumentos militares poderosos da Rússia e não concebe uma negociação a dois com Moscovo.

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"Poderemos negociar, mas não a sós com a Rússia e só após retirar os seus instrumentos agressivos", defende o vice-chefe de gabinete do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, responsável pela política externa.

Em entrevista exclusiva à Renascença, Igor Zhovka considera que a negociação de paz depende da neutralização dos instrumentos militares poderosos da Rússia e não concebe uma negociação a dois com Moscovo.

Igor Zhovka falou ainda sobre as condições para a paz, os processos de integração na UE e na Nato, o papel das principais potências europeias e do Vaticano.

O vice-chefe de gabinete de Zelensky confia no apoio de Portugal à adesão da Ucrânia à União Europeia e sublinha que o povo português está quase totalmente a favor dessa decisão.

DEZ PONTOS-CHAVE DESTA ENTREVISTA EXCLUSIVA

1. Acordo de Paz

"Devemos retirar à Rússia os seus instrumentos agressivos . E depois disso iremos sentar-nos à mesa das negociações. Mas não nos sentaremos a sós com a Rússia."

"Zelensky está pronto a reunir-se com Xi Jinping. Acreditamos que a China é sensata e não vai estar do lado do Mal."

2. Cedências territoriais

"Não existe qualquer proibição sobre o movimento de integração europeia de um país em guerra. A Ucrânia que entrará na UE terá o Donbass e a Crimeia. Esse é o nosso objetivo, libertar todo o territorio da Ucrânia na base das fronteiras de 24 Agosto de 1991."

"Nunca nenhum presidente ucraniano vai aceitar quaisquer concessões territoriais face ao território da Ucrânia a 24 de Agosto de 1991. Que ninguÉm sequer sonhe com essa ideia."

"Vamos avançar muito rapidamente no processo europeu e muitas coisas vão ser mais rápidas depois da nossa vitória."

3. Contra-ofensiva militar

"Os russos começaram uma contra-ofensiva, mas muito mais pequena do que esperavam. Mas estão a ficar com falta de soldados, embora tenham modo de mobilizar mais. E sobretudo estão a ficar sem o entendimento sobre porque estão a fazer isto."

"Os russos vão tentar fazer uma ofensiva em partes do Leste da Ucrânia, começando provavlmente mais no sul. Mas será a última tentativa deles. Porque a Ucrânia vai imediatamente fazer uma contra-ofensiva. E muito disso depende do apoio que recebermos em termos de armas e munições. Ainda não temos esse material neste momento."

4. Ajuda militar ocidental

"Garantimos que não vamos usar essas armas para atacar solo da Federação Russa. Não precisamos de um centímetro ou de um metro sequer de território russo."

"Para proteger os nossos céus de ataques de misseis balísticos e outros, precisamos de aviação. Não temos nenhum avião militar de tipo ocidental."

"Não posso revelar quando será entregue o sistema anti-aéreo Patriot, mas há decisões tomadas. E os Patriot vão ajudar-nos significativamente a intercetar mísseis balisticos."

5. Ucrânia na Nato

´"Compreendemos que a nossa entrada na NATO só pode acontecer depois de vencermos a guerra. Antes disso precisamos das garantias de segurança. O fornecimento de sistemas de defesa anti-aérea, de tanques e de artilharia de longo alcance já faz parte dessas garantias."

"Na Cimeira da NATO em julho, em Vilnius, queremos decisões e não palavras. Não vamos ficar satisfeitos com as declarações sempre repetidas sobre a 'política de portas abertas' da NATO. Precisamos de algo mais. mais ações."

"Os soldados ucranianos podem ensinar-vos como se lança uma verdadeira guerrilha. Vamos ensinar-vos."

"Se a vossa liderança não decidir sobre a nossa adesão, recorreremos ao vosso povo. Os portugueses são como nós"
"Se a vossa liderança não decidir sobre a nossa adesão, recorreremos ao vosso povo. Os portugueses são como nós"

6. Ucrânia na UE

"Estamos a aproximar os nossos setores económicos ao mercado único europeu. Por exemplo, já temos um sistema elétrico ligado a vós. Quando os russos atingem o nosso sistema elétrico, estão na verdade a atingir o vosso sistema."

"Quando a decisão politica europeia for definitiva estaremos prontos."

7. Corrupção na Ucrânia

"Não estamos a lutar contra a corrupção porque é Bruxelas que o pede. Fazemos isto de forma a vencer, para termos uma Ucrânia prósperas, democrática e europeia. Combater a corrupção mesmo em tempo de guerra significa que o sistema está a funcionar, apesar de dois terços dos inspetores estarem na linha da frente da batalha."

"Assim que exista a mais pequena suspeita de corrupção, como viu com alguns vice-ministros, o Presidente reage imediatamente. As pessoas são demitidas e o julgamento começa. Não há vacas sagradas. Ninguém está imune a uma acusação da Procuradoria. Em tempo de guerra não podemos ter pessoas dessas no poder, a lidar com o setor da defesa ou outros."

8. Mediação de paz

Não precisamos apenas de mediadores. Não é possível ser-se apenas um mediador objetivo quando um país está a sofrer um genocídio e uma agressão contra um país no centro da Europa no século XXI. Não foi a Ucrânia que começou a guerra e não é a Ucrânia que quer o prolongamento da guerra. É outro país que quer essas coisas. A Ucrânia quer a paz. Mas, ao mesmo tempo, a Ucrânia quer trazer de volta todos os territórios."

9. França, Alemanha

"A Alemanha está a apoiar-nos cada vez mais em termos de integração europeia. A posição do chanceler Scholz foi decisiva ao adotar a decisão sobre o nosso estatuto como país candidato."

"Agora estamos a trabalhar com os nossos parceiros alemães e a falar sobre os próximos passos de integração. E sim, acho que a posição da Alemanha mudou para um lado mais positivo."

"O meu Presidente fala regularmente com o Presidente Macron. A sua posição foi também decisiva sobre o nosso estatuto de país candidato. E sim, o Presidente Macron está a apoiar a nossa integração europeia. Note bem as decisões e as condições que acabaram por acontecer durante a presidência da França na UE. Ficará nos livros de história, será lembrada para sempre. Teria que morrer para fazer algo parecido com o que a França fez na presidência."

10. Brasil e a Paz

Quanto à América Latina, há um papel muito importante que poderia ser desempenhado por este continente, que provavelmente foi subestimado pela liderança anterior da Ucrânia. Mas agora, o meu Presidente está pronto para prestar o máximo de atenção e conversar com os líderes desta região. Ele teve uma conversa telefónica muito boa na última semana com o Presidente Lula do Brasil. Eles tiveram uma troca muito boa de ideias, inclusive sobre a fórmula de paz do Presidente Zelensky. As relações entre a Ucrânia e o Brasil poderiam ser não apenas renovadas no plano político, mas económico também. Tínhamos o Brasil como um dos grandes parceiros comerciais da Ucrânia. Depois da guerra, poderemos falar sobre como o Brasil pode investir na renovação da Ucrânia porque o Brasil sabe o que é a Ucrânia. Há muita diáspora ucraniana a viver no Brasil."

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