Explicador. Seis perguntas e respostas sobre a política “Covid zero” e os protestos na China

28 nov, 2022 - 16:13 • Fábio Monteiro

O que está na origem da onda de protestos? Os números da Covid-19 na China são preocupantes? Que regras “Covid zero” estão em vigor? Qual é a lógica dessa política? Mas a população não está vacinada? E porque é que a China não aceita vacinas de outros países?

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A China continua a levar a pandemia da Covid-19 muito a sério e a aplicar regras apertadas. E, tudo indica, tem um problema em mãos. Nos últimos dias, ocorreram uma série de protestos em cidades como Pequim, Xangai e Nanjing, em desafio da política “Covid zero” implementada pelo executivo de Xi Jinping.

O que está na origem da onda de protestos?

Apesar de já ter aberto as fronteiras ao mundo, a China continua a aplicar medidas de saúde pública muito restritivas por causa da Covid-19. Desde 2020, sempre que há um aumento de casos numa determinada cidade, o confinamento e quarentena continua a ser, por regra, a resposta do Governo.

Esta política “Covid zero” está a ter efeitos na economia do país. A meta de Xi Jinping para 2022 era de 5.5%. A um mês do final do ano, contudo, está nos 3.9%, de acordo com a “BBC”.

Nos últimos três anos, o desemprego no país tem vindo a crescer – fruto do fechar de portas recorrente de muitas empresas e fábricas.

Somado a isto, a “Covid zero” está a levar ao desespero parte da população. Não por acaso, a mais recente onda de protestos aumentou de tom, após na passada quinta-feira, um incêndio na cidade de Urumqui, capital e maior cidade da região autónoma de Xinjiang, ter provocado a morte de dez pessoas.

As vítimas do incêndio estavam em confinamento há mais de 100 dias, fizeram questão de lembrar muitos manifestantes.

Os números da Covid-19 na China são preocupantes?

Porventura, sim. Na última semana, foram detetados mais de 200 mil novos casos de Covid-19. E só esta segunda-feira já foram contabilizados mais 40 mil.

De acordo com dados da Comissão Nacional de Saúde da China, cerca de 1,8 milhões de pessoas estão neste momento em quarentena. Perto de 90% dos casos são assintomáticos – mas isso para o Governo chinês não faz diferença.

Que regras “Covid zero” estão em vigor?

Assintomáticos ou não, todos os cidadãos chineses que testem positivo são obrigados a cumprir um confinamento mínimo de oito dias. Se não tiverem condições em casa para cumprirem o isolamento, são levados pelas autoridades para instalações do Estado.

Assim como o início da pandemia em 2020, na China, as autoridades continuam a declarar confinamentos locais – mesmo que o número de casos diagnosticados seja reduzido – e a fazer testes em massa. Nas áreas confinadas, as escolas e todas as lojas, exceto as de venda de produtos alimentares, são obrigadas a fechar portas.

Os confinamentos prolongam-se até que não haja nenhum caso ativo.

Qual é mesmo a lógica da política “Covid zero”?

Com os confinamentos prolongados, a China pretende erradicar o vírus, atingir um “zero dinâmico” – momentâneo, pelo menos. Segundo o Governo chinês, este método de ação ajuda a salvar vidas, dado que surtos não controlados põem sempre muitas pessoas vulneráveis em risco. Esta política de confinamentos fez com que o número de mortes provocadas pela pandemia na China tenha sido muito baixo. Desde o início da pandemia, o número oficial é pouco mais 5200 óbitos. Portugal, por comparação, registou 25 450 mortes até à data.

Mas a população não está vacinada?

A larga maioria da população mais jovem sim, mas os idosos não. À data, apenas metade da população chinesa como mais de 80 anos recebeu uma dose da vacina para a Covid-19. Menos de 60% dos cidadãos com idades entre os 60 e os 69 foram também vacinados.

Para complicar ainda mais a situação, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já levantou dúvidas que as vacinas desenvolvidas na China – a Sinovac e Sinopharm – sejam eficientes contra a recente variante Omicron.

Vários países já tentaram oferecer outras vacinas à China, mas Xi Jinping recusou.

Porquê?

A resposta é política, claro. De acordo com alguns especialistas ouvidos pelo “Guardian” e pela “BBC”, para Xi Jinping aceitar vacinas de outros países seria admitir que o país falhou na resposta à pandemia.

A OMS já pediu à China para mudar a forma como lida com a Covid-19. Em resposta, o líder chinês respondeu que a política “Covid zero” é um método “científico e eficiente”.

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