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Reportagem em Londres

Impostos, ursos Paddington e uma marca que vende. Para que serve uma família real?

17 set, 2022 - 08:15 • Maria João Cunha , enviada especial ao Reino Unido

A família real britânica é uma das marcas mais valiosas do mundo, só ultrapassada por gigantes como Google, Apple e Amazon. Ainda assim, a sua relevância na vida política do Reino Unido continua a ser motivo de debate.

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A marca Rainha Isabel II é uma das mais valiosas do mundo. Se juntarmos ativos da Casa Real – entre propriedades e joias da coroa – e impacto na economia, a monarquia britânica vale mais de 75 mil milhões de euros,segundo um relatório da Brand Finance. Fica atrás apenas de marcas como Google, Apple e Amazon.

"A Firma" (ou como é conhecida a face empresarial da familia real) custa por ano aos contribuintes britânicos 500 milhões de libras mas contribui com 2 mil milhões e meio, números redondos. O saldo é para lá de positivo, o resultado continua a ser motivo de debate.

“Afinal, para que serve uma família real?”, pergunta Rebecca. Está a tirar uma selfie à frente do palácio de Buckingham e até passa por turista. “Eu sou de Londres e não vejo grande propósito na família real. Muita gente acha que eles só continuam por causa do turismo. Mas esperemos que o turismo continue para lá da existência da família real para que as pessoas continuem a visitar os nossos monumentos”. Esta jovem professora não podia estar mais distante da realidade que se esconde para lá dos portões onde os guardas se rendem para turista filmar.

Destoa da multidão que deposita flores à porta do palácio. Sobretudo de Mandy, que veio aqui porque a fila para o velório é demasiado extensa. “Acho que é justo dizer que a família real gera muito turismo e dinheiro, mas não é esse o seu propósito principal”. E desfia elogios à Rainha e compreensão para com Carlos.

Mas faz sentido que o rei não pague impostos sobre a fortuna que vai herdar da mãe? Esta britânica de Shropshire Telford (tivemos mesmo de googlar esta, fica no centro de Inglaterra) diz que não. “Todos trabalhamos duro para ganhar o nosso dinheiro. O Parlamento devia olhar para isso. Com tantas pessoas em dificuldades não se consegue mesmo justificar”.

A lei é dos anos 90, do tempo de John Major, e evita que a monarquia pague impostos de 40% em heranças. Na altura argumentou-se que era importante evitar “o perigo de os bens da monarquia ficarem como salame fatiado”. E naquelas contas iniciais deste texto, 17 milhões serão em propriedades.

Com a bandeira Union Jack a forrar os cabelos castanhos, Victoria pergunta-nos o que a denunciou como turista. “Foi o chapéu?” Mais difícil era adivinhar o país: Costa Rica.

Tinha a viagem programada há seis meses, deu-se a coincidência de se vir a transformar num momento histórico também para si. E até pode vestir o “merchandising” britânico mas não se deixa levar por qualquer “souvenir”. “Não me identifico. Na Costa Rica não temos esta estrutura política, por isso para mim é “very weird” [muito estranho] comprar algo com a cara de alguém que não sei que é, que chorem por alguém que nunca viram, que nem sabem o seu nome, é demasiado forte para mim. Mas é muito interessante ver isto como turista."

Entre Harry Potter e a família real, Larrissa não tem dúvidas, prefere feitiços. Ainda assim passou horas na fila com o namorado para entrar no velório da Rainha. “Porque é histórico, não é? É um momento único. A Elizabeth é uma figura enorme para todo o mundo, então porque não ficar lá [na fila] por ela?” E as eleições, quem ganha?, não resistimos a perguntar. Saem gargalhadas. “Esse é um assunto muito polémico...”

Mas são polémicas para outras geografias. Larissa vem de Belém do Pará.

A brasileira traz na mão um saco de de “souvenirs” à saída de uma das lojas onde o urso Paddington convive com a Rainha. Só em Inglaterra se poderia dar o caso de as autoridades terem de pedir aos populares que homenageiam a Rainha para não deixar mais destes castanhos e irresistíveis ursos (e sandes de marmelada) entre os tributos deixados à Rainha.

Lá dentro, o assistente do gerente acaba uma entrevista a um canal de televisão. E depois diz-nos que muitos ingleses estão a comprar, não só turistas. E o que vende é a imagem da Rainha.

Nos escaparates ainda sobram lembranças de Diana com os filhos, mas os “souvenirs” com Carlos III ainda não chegaram. “Estamos à espera.” Ismael acha que vão vender-se muito bem, até porque há quem já tenha perguntado por canecas com a imagem do novo Rei.

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