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1931-2022

Mikhail Gorbachev, o soviético que acabou com a Guerra Fria

30 ago, 2022 - 23:51 • João Malheiro com vídeo de Marta Pedreira Mixão

O líder soviético tentou implementar abertura ("glasnost") e reestruturação ("perestroika") no regime e democratizá-lo. Acabou com a Cortina de Ferro e ajudou a terminar a Guerra Fria que dividia Ocidente e países de Leste, sem violência. O oitavo e último líder soviético morreu esta terça-feira, aos 91 anos.

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Mikhail Gorbachev, o último presidente soviético
Mikhail Gorbachev, o último presidente soviético

Foi de camponês a líder da União Soviética. Quando nasceu, a 2 de março de 1931, a família de Mikhail Gorbachev, que vivia em pobreza, não poderia imaginar que um dia o filho seria o homem que estaria no poder aquando do fim da União Soviética que, à época, tinha menos de dez anos de existência.

Foi viver com os avós para uma quinta, durante os primeiros anos da coletivização agrícola, iniciada pelo então líder Joseph Stalin. Apesar de ser um elemento do Partido Comunista Soviético, o avô e a mulher acabaram por ser torturados e levados para gulags. Mais tarde, os relatos que a avó lhe fez da polícia secreta soviética ficaram-lhe na memória.

Quando era jovem gostava de ler romances ocidentais, teatro e desporto. Conjugava tudo isso e a escola com cargos nas juventudes soviéticas da época. Na faculdade, estudou Direito na Universidade Estatal de Moscovo e inscreveu-se no Partido Comunista.

A morte de Stalin, em 1956, inicia um processo de distanciamento do regime do antigo líder por parte da União Soviética e do novo líder, Nikita Krushchev. Gorbachev tornou-se um dos grandes defensores da desestalinização do país e subiu rapidamente no partido.

Teve um papel importante na invasão soviética da Checoslováquia, em 1968, que apoiou, apesar de mais tarde ter admitido que tinha reservas com a iniciativa. As autoridades soviéticas pediram-lhe para punir um professor de filosofia crítico das políticas agrícolas da União Soviética, mas Gorbachev recusou uma punição mais severa, para lá do despedimento do docente.

Nos anos 70, continuou a assumir cargos importantes no partido e no país e integrou comitivas que fizeram viagens diplomáticas pela Europa Ocidental. As visitas permitiram a Gorbachev e à sua mulher, Raisa, ter contacto com uma liberdade democrática que não conheciam na União Soviética.

Em 1978, tornou-se secretário do Comité Central do Partido Comunista Soviético. Ainda antes de assumir o controlo do partido, realizou visitas diplomáticas, incluindo ao Reino Unido, onde se encontrou com Margaret Tatcher, e deixou os primeiros sinais de abertura ao diálogo com o Ocidente.

Gorbachev assumiu o cargo de secretário-geral do Comité Central, em 1985, o que na prática o tornou o oitavo e último líder da União Soviética. Acreditava que eram necessárias reformas significativas ao regime soviético e essa ideia foi reforçada pela tragédia de Chernobyl, em 1986, que revelou várias das falhas internas que o regime acumulava.

Em 1978, tornou-se secretário do Comité Central do Partido Comunista Soviético. Ainda antes de assumir o controlo do partido, realizou visitas diplomáticas, incluindo ao Reino Unido, onde se encontrou com Margaret Tatcher, e deixou os primeiros sinais de abertura ao diálogo com o Ocidente.

Gorbachev assumiu o cargo de secretárigo-geral do Comité Central, em 1985, o que na prática o tornou o oitavo e último líder da União Soviética. Acreditava que eram necessárias reformas significativas ao regime soviético e essa ideia foi reforçada pela tragédia de Chernobyl, em 1986, que revelou várias das falhas internas que o regime acumulava.

Decidiu retirar tropas do Afeganistão e acabar com o conflito armado entre os dois países, a partir de 1987. Nesse mesmo ano, demonstrou mais sinais de abertura internacional, em visitas ao Reino Unido, França, a Alemanha Ocidental e Itália, onde se encontrou com o Papa João Paulo II.

Iniciou reuniões com o presidente norte-americano da época, Ronald Reagan, que culminaram num acordo para reduzir a produção de armamento nuclear e o fim da Guerra Fria e da Cortina de Ferro - levando à queda do muro de Berlim.

No plano interno, o líder soviético tentou implementar abertura ("glasnost") e reestruturação ("perestroika") no regime e democratizá-lo, o que acabou por resultar numa perda de poder do partido único. A partir de 1989, vários países de Leste abandonaram a União Soviética, sem qualquer tipo de oposição militar de Gorbachev , que era exigida pelas camadas mais nacionalistas do Partido Comunista.

Em 1991, este descontentamento levou mesmo a uma tentativa de golpe de Estado, liderado por marxistas leninistas radicais, que acabou por falhar. Em consequência, Gorbachev perdeu poder, enquanto o seu eventual substituto, Boris Yeltsin, ganhou-o. O Partido Comunista Soviético colapsou e a União Soviética foi, efetivamente, dissolvida.

Já no novo regime, Gorbachev candidatou-se às presidenciais russas de 1996, acabando por ficar em sétimo lugar, com apenas 0,5% dos votos, depois de muitas dificuldades a lidar com ataques da campanha de Boris Yeltsin.

Afastado definitivamente de cargos políticos, manteve-se uma voz ativa na sua visão crítica da sociedade russa e também do mundo Ocidental. Foi defensor de energias verdes e da social-democracia na Rússia e muitas vezes crítico de Putin e do seu poder absoluto.

Recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 1990, pelo papel que teve no fim da Guerra Fria. A partir de 2010, começou a lidar com problemas de saúde que o foram debilitando. Morreu esta terça-feira, dia 30 de agosto de 2022, vítima de doença prolongada, aos 91 anos.

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