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Inauguração da Bienal do Livro de São Paulo com gritos “Fora Bolsonaro"

03 jul, 2022 - 08:27 • Maria João Costa

Marcelo Rebelo de Sousa participou na inauguração da 26.ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. A plateia gritou “Fora Bolsonaro” em vários momentos. O presidente português falou da importância do voto e da força do povo contra a ditadura.

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Ouviram-se gritos de “Fora Bolsonaro” no final do hino do Brasil, na cerimónia de inauguração oficial da Bienal Internacional do Livro de São Paulo. No SESC São Paulo, onde decorreu a sessão na qual esteve presente o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o público já antes se tinha manifestado durante o concerto de abertura.

A atuação da Orquestra Mundana Refugi contou com músicas de reconhecidos músicos brasileiros, como Caetano Veloso ou Chico Buarque. A acompanhar essas músicas que a orquestra formada por músicos brasileiros, imigrantes e refugiados entoou, ouve também um coro da plateia que gritou “Fora Bolsonaro”.

Na cerimónia de abertura da edição de 2022 da Bienal Internacional do Livro de São Paulo estiveram também presentes o ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva e o chefe de Estado português.

Marcelo Rebelo de Sousa que iniciou o seu discurso com um ligeiro sotaque brasileiro, começou por dizer que a sua presença em São Paulo, era o “cumprir de uma promessa” de há um ano. Arrancando o riso da plateia, Marcelo disse que “todos os políticos o devem fazer”, cumprir promessas.

Depois de contar como começou a sua paixão pelos livros, Marcelo Rebelo de Sousa recordou como “era o único de 15 anos que ia a leilões de livros”. Nesta defesa do livro, o presidente destacou que passou “a oferecer livros, como prémios escolares”, recordou a sua passagem pela comunicação social e como semanalmente recomendava livros. “Não menos de 10 a 12 livros por programa, domingo após domingo”.

“Era muito feliz e perdia muito dinheiro” foi desta forma que Marcelo Rebelo de Sousa evocou a sua memória de quando foi um “pequeno, muito pequeno, editor”. Mas o discurso do presidente tocou ainda em outras questões mais polémicas.

Sobre o Acordo Ortográfico, Marcelo assumiu: “É o que é, se há pequenos retoques a fazer, porque a prática mostrou que eram lógicos, que se faça cientificamente”. Contudo, o presidente alertou que “o todo foi tão difícil de atingir, e já há uma grande edição que não vale a pena manter uma querela quando a edição é tão difícil nestes dias”.

“O problema do cambio é um drama entre Portugal e o Brasil” enumerou o presidente como outra questão premente. “Em tempos Portugal conhecia autores brasileiros com 2 ou anos de atraso”, apontou. Rebelo de Sousa levantou também a questão do “problema do depósito legal”, mas referiu que “não há depósito legal para bibliotecas para países luso-falantes”.

“Talvez seja possível, ao menos nas principais bibliotecas publicas de Estados que usam o português receberem obras que são editadas em Portugal e no Brasil”, deixou como sugestão o chefe de Estado de Portugal.

Marcelo arrancou as palmas do público quando falou da importância do valor da cultura “que permite a liberdade de expressão”. O chefe de Estado destacou que "não há portugueses puros, como não há brasileiros puros", depois de ouvir uma orquestra formada por músicos imigrantes e refugiados, em São Paulo.

Quanto à Bienal do Livro de São Paulo, Marcelo prevê que seja um sucesso de público, depois de “dois anos congelados” com a pandemia. “Recuperar o tempo perdido na leitura de livros, no fomento do livro, é essa a nossa tarefa, também em Portugal”, sublinhou o presidente.

Num discurso que tocou vários pontos, Marcelo Rebelo de Sousa falou também da dimensão da língua portuguesa. “Portugal gosta de vir aqui, porque sabe que se a língua portuguesa é importante no mundo, é porque há muitos outros países falantes que têm maior projeção no mundo”. “O Brasil é uma potência, porque é uma potência cultural. Também o é noutros domínios, mas prefiro falar da potência cultural imparável”, disse Marcelo.

Com o filho sentado na plateia do SESC São Paulo, e com uma neta brasileira, o presidente que ainda não recebeu oficialmente a confirmação do cancelamento do encontro com Jair Bolsonaro, deixou um apelo ao voto. Evocando as suas sucessivas vindas ao Brasil, Marcelo considerou “imparável” a força de um povo com cultura.

“São os povos que escrevem a História. É evidente que os líderes são importantes, mas são os povos que escrevem. Em Portugal, na Ditadura, quanto o povo decidiu rejeitar o que havia, votou emigrando, partindo para a Europa e para o mundo. Partiu um milhão, dos 10 milhões. Os povos têm esse papel fundamental. Os povos com cultura são mais pátria e mais fortes”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa

O presidente que terminou com vivas ao livro e à liberdade de expressão, disse que os livros são uma paixão da sua vida e que para si, será um dia mais importante ser recordado como “apaixonado pelo livro e por ter sido professor” do que por ter tido cargos políticos.

Bienal do Livro vai bater recorde de público este ano

Antes ainda de Marcelo Rebelo de Sousa falou Danilo Santos de Miranda. O diretor regional do SESC São Paulo recordou as passagens de José Saramago pelo Brasil e em particular pelo palco deste centro cultural, em 2005 e em 2008 aquando do lançamento de “As Intermitências da Morte” e a “Viagem do Elefante”.

A Bienal que tem Portugal como país convidado de honra, é para o presidente do SESC São Paulo, um momento que convoca a “refletir sobre vivencias históricas que nos unes”. Danilo Santos de Miranda destacou em particular a importância da língua comum e das suas literaturas.

Vitor Tavares, o presidente da Câmara Brasileira do Livro evocou as suas memórias pessoais. Falou da inauguração da Bienal como um “momento especial” para si, ao recordar que foi no “Brasil saído de uma ditadura” que encontrou “trabalho numa livraria”. Hoje é ele quem está a protagonizar a abertura da Bienal do Livro de São Paulo.

Segundo Vitor Tavares, “a Bienal é uma grande biblioteca”. No certame há “mais de 3 milhões de exemplares”, espalhados por 188 expositores de 500 editoras brasileiras. Brincando com o presidente português, um reconhecido leitor, Vitor Tavares disse que a sua “biblioteca é maior do que a do presidente português”.

Já Luiz Bellini, diretor da RX Global referiu que a edição deste ano da Bienal do Livro vai “bater um recorde de público”. Segundo este responsável registou-se “a maior venda de ingressos na história”. Bellini fala mesmo em “mais de 280%” de vendas.

Noutro discurso da longa cerimónia, Eduardo Saron, diretor do Instituto Itaú Cultural foi aplaudido quando enalteceu a presença de Marcelo Rebelo de Sousa. O presidente português que Jair Bolsonaro se recusa a receber na sua deslocação ao Brasil traz a “afetividade” que o Brasil precisa “em tempos tão difíceis”, disse Eduardo Saron.

Fernando Padula Novaes – secretário municipal de Educação de São Paulo em representação do autarca de São Paulo lembrou que os jovens brasileiros recebem um vale para poder comprar livros na Bienal do Livro.

Este domingo Marcelo Rebelo de Sousa visita a Bienal de São Paulo. Vai fazer um périplo e terminará a sua passagem pela feira que tem como lema “Todo o Mundo Sai Melhor do que Entrou”, no Pavilhão de Portugal.

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