24 mai, 2022 - 20:00 • André Rodrigues
No dia em que se assinalam três meses de invasão russa na Ucrânia, uma sondagem divulgada esta terça-feira indica que 82% dos ucranianos entendem que o país não deve ceder, "sob nenhuma circunstância", qualquer dos seus territórios como parte de um acordo de paz com a Rússia, mesmo que isso prolongue a guerra.
De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev entre 13 e 18 de maio, 10% dos inquiridos acham aceitável que a Ucrânia conceda território para alcançar a paz, enquanto 8% declaram-se indecisos. De acordo com a pesquisa, 77% dos ucranianos que vivem em territórios ocupados pelas forças de Moscovo opõem-se a qualquer concessão de terras em troca da paz.
São conclusões em linha com a posição reiterada pelo Presidente ucraniano que não pretende fazer concessões territoriais à Rússia. Aliás, Volodymyr Zelenskiy tem dito que não está à procura de um cessar-fogo, apesar dos apelos de líderes europeus como Olaf Scholz e Mario Draghi.
A esses juntou-se, hoje, o antigo secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger. Falando esta terça-feira no Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça, o antigo chefe da diplomacia norte-americana do tempo da Guerra Fria apelou ao Ocidente que evite aplicar uma derrota pesada à Rússia, que teria efeitos desastrosos na estabilidade da Europa.
Kissinger, de 98 anos, pediu, aliás, o fim do conflito na Ucrânia e defendeu que negociações de paz devem decorrer dentro de dois meses.
Arrastar o conflito para além disso "não seria pela liberdade da Ucrânia, mas para uma nova guerra contra a Rússia", defendeu Kissinger que pediu aos ucranianos um nível de sensatez igual ao nível de heroísmo demonstrado ao longo destes últimos três meses.
Aos 90 dias de guerra, Kiev fez o seu balanço de perdas humanas, admitindo que os números divulgados estão, seguramente, incompletos, uma vez que há locais onde os conflitos ainda não cessaram, o que impossibilita uma contagem exata de baixas e feridos, entre civis e militares.
A procuradoria ucraniana admite que, em três meses de conflito, morreram entre entre 2.500 a 3.000 soldados ucranianos e, pelo menos, 3.930 civis, incluindo 234 crianças.
Exactly three months ago, on Feb. 24, Russia launched a full-scale invasion of Ukraine.
— The Kyiv Independent (@KyivIndependent) May 24, 2022
Here’s what it has cost Ukraine so far. pic.twitter.com/FV2Ug0nvvD
O mais revelador da eventual inexatidão destes números são os dados que chegaram de Mariupol, já depois desta contabilidade avançada pelas autoridades ucranianas: cerca de 200 corpos em estado de decomposição foram encontrados no complexo siderúrgico de Azovstal.
Numa mensagem publicada na rede Telegram, o porta-voz da câmara de Mariupol, Petro Andryushchenko, alerta para o perigo que a descoberta representa para a saúde.
"Durante a derrocada de um edifício de vários andares perto de uma estação (...) foram encontrados 200 cadáveres sob os escombros em grande estado de decomposição", disse o porta-voz do autarca de Mariupol.
Outro dos números a registar em três meses de guerra: o exército russo disparou 2.275 mísseis contra a Ucrânia e realizou mais de 3.000 ataques aéreos.
Os números foram revelados pelo Presidente ucraniano numa mensagem de vídeo divulgada por várias agências de notícias.
Volodymyr Zelenskiy referiu que a maioria dos ataques visou "alvos civis", contrariando a versão russa dos acontecimentos.
Moscovo referiu, aliás, que está tentar ao máximo evitar baixas civis, reafirmando que os alvos da guerra não são infraestruturas civis.
As imagens que chegam todos os dias do terreno mostram cidades devastadas, mas o ministro da Defesa russo Sergei Shoygu insistiu que "as forças armadas russas, ao contrário das ucranianas, não aracam infraestruturas onde os civis possam estar localizadas".
Longe do terreno das hostilidades, a Finlândia e a Suécia vão enviar delegações a Ancara esta quarta-feira, para tentar contornar a oposição turca aos pedidos de adesão à NATO.
O anúncio foi feito pelo ministro finlandês dos Negócios Estrangeiros.
Falando esta terça-feira num dos painéis do Fórum Económico Mundial de Davos, Pekka Haavisto disse que “o diálogo continua” para superar as resistências da Turquia que colocou entraves à adesão dos dois países nórdicos à Aliança Atlântica por darem serem a retaguarda de militantes curdos que Erdogan considera serem terroristas.
Às 00h00 de quarta-feira, a Hungria vai entrar em estado de emergência devido à guerra na vizinha Ucrânia.
"O governo declara o estado de emergência por causa da guerra na Ucrânia", disse Viktor Orbán, numa mensagem de vídeo divulgada no Facebook.
Orbán fundamenta a decisão com a necessidade de manter o país "fora da guerra e proteger a segurança das famílias".