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20 anos de independência

Ramos-Horta. Timor é um "oásis de tranquilidade" que luta contra a fome e a pobreza

18 mai, 2022 - 06:59 • André Rodrigues

A poucos dias de tomar posse para o seu segundo mandato como Presidente da República de Timor-Leste, precisamente no dia em que se vão assinalar os 20 anos do fim da ocupação indonésia, José Ramos-Horta faz um balanço positivo de duas décadas de independência: o país é seguro, há liberdade de imprensa, mais e melhor saúde. Mas há, também, a fome e a pobreza que são "a única desilusão" do Presidente reeleito. A prioridade dos próximos anos será "evitar que haja fome neste país".

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O Presidente da República reeleito em Timor-Leste considera que, 20 anos volvidos sobre a independência da Indonésia, o país pode ser considerado "um oásis de tranquilidade".

Apesar dos problemas que ainda enfrenta, José Ramos-Horta faz um balanço positivo das duas últimas décadas, sublinhando que Timor-Leste "é o país com maior liberdade de imprensa, não temos conflitos religiosos, não temos extremismos políticos nem temos crime organizado".

Para lá do plano da segurança, o chefe do Estado, que toma posse para o seu segundo mandato na próxima sexta-feira, sublinha, em declarações à Renascença, a revolução que ocorreu ao nível das infraestruturas essenciais do país: "hoje, temos 96% do país eletrificado; em 2002, para ir a Baucau levava três, quatro horas. Hoje fazem-se duas horas para ir a Baucau; em 2002, tínhamos apenas vinte médicos timorenses e hoje temos perto de 1.200 médicos".

"Obviamente, também há falhas: não compreendo porquê que nós não resolvemos a questão da extrema pobreza subnutrição infantil. Este é o grande desapontamento para mim", constata.

De resto, o objetivo central do seu próximo mandato será "evitar que haja forma neste país. Esta é a minha grande preocupação, proteger os mais pobres do agravamento da situação social em consequência de acontecimentos que não estão no controlo de ninguém: primeiro, a pandemia, que começou em 2020, e que afetou toda a economia mundial, agravada agora pela guerra na Ucrânia, que trouxe consigo um aumento muito considerável do custo de vida".

Renovação política? "Todo o Governo pertence à geração nova"

Questionado sobre a perceção pública de que, nos últimos 20 anos, a Presidência da República e a chefia do Governo estiveram quase sempre nas mãos dos resistentes à ocupação indonésia, Ramos-Horta contrapõe, acusando "alguns sabichões e especialistas sobre a vida política timorense" de disseminarem essa "falsidade".

"Ironicamente, eu sou a única pessoa da geração de 75 que neste momento estou no ativo como Presidente da República. Todo o parlamento nacional é da geração nova, todo o Governo pertence à geração nova, o Mari Alkatiri não está no Governo, o Xanana Gusmão também não está no Governo. Temos toda uma geração nova que já assumiu as rédeas da governação a todos os níveis das Forças Armadas, da polícia, administração pública no Parlamento e Governo", sustenta.

Confrontado com a possibilidade de ter o histórico líder da resistência timorense ao seu lado como primeiro-ministro, tal como quando foi eleito pela Presidente pela primeira vez em 2007, José Ramos-Horta lembra que o, também, ex-Chefe do Estado "tem outras atividades: ele é o chefe negociador da fronteira terrestre com a Indonésia, foi o chefe negociador com a Austrália sobre a fronteira marítima. Está fora das instituições do Estado".

Mas quando houver eleições para o Governo, Ramos-Horta acredita que "ele será o cabeça da lista do CNRT".

Se ganhar, tal como aconteceu em 2015, Xaxana poderá dar o lugar a outra pessoa, "tal como aconteceu quando ele cedeu a pasta de primeiro-ministro ao doutor Rui Araújo, que ainda por cima era do outro partido", ou como sucedeu em 2017/2018, quando a chefia do Governo foi transferida de Xanana para o General Taur Matan Ruak, atual primeiro-ministro de Timor.

No plano económico, são ainda muito poucas as atividades que não estão na dependência do Estado. A economia timorense vive muito da exportação do café e da agricultura de subsistência. A aposta no turismo é vista como uma das soluções para diversificar a economia do país.

"O turismo precisa de boas estradas, de bons hospitais, de infraestruturas, tudo isso é muito importante para a diversificação da nossa economia", assinala o Presidente reeleito, que assume que o facto de haver cada vez mais altos quadros "formados nas melhores universidades do mundo" torna possível que haja cada vez mais timorenses em lugares de topo, seja no Ministério das Finanças, seja no Banco Central de Timor-Leste, "onde há só funcionários timorenses".

José Ramos-Horta foi eleito pela segunda vez Presidente da República de Timor-Leste, com 62,09% dos votos, derrotando o atual chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo, numa repetição do que ocorreu em 2007, segundo o resultado final provisório.

A tomada de posse está marcada para a próxima sexta-feira, dia 20 de maio, data em que se cumprem os 20 anos da restauração da independência timorense.

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