Tempo
|

Diário de Guerra

Dia 75. Putin e a "escolha certa" de invadir a Ucrânia. Zelenskiy e a parada solitária em Kiev

09 mai, 2022 - 20:26 • André Rodrigues

O dia dos 77 anos da capitulação nazi fica marcado por duas imagens contrastantes. Em Moscovo, a pompa de um desfile militar, com milhares de soldados russos na Praça Vermelha a sorrir para uma tribuna de honra encabeçada por Vladimir Putin. Em Kiev, Volodymyr Zelenskiy caminhou sozinho na avenida onde, em circunstâncias normais, decorreria o desfile da vitória. Na imensidão e no silêncio, o líder ucraniano deixou uma mensagem de confiança na vitória.

A+ / A-

Todo o dia 75 da guerra na Ucrânia se resume à viagem entre a rendição nazi ao exército soviético, a 9 de maio de 1945, e a guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia, 77 anos depois.

Na expectável demonstração de poderio bélico que desfilou triunfante pela Praça Vermelha em Moscovo, Vladimir Putin agradeceu aos militares russos o empenho na missão em curso em solo ucraniano.

"Vocês estão a lutar pela Pátria, pelo vosso futuro. Temos de destruir o nazismo", disse o Presidente russo que apontou a mira à NATO.

Em primeiro lugar, por, na perspetiva do líder russo, a Aliança Atlântica representar uma ameaça ao país por, alegadamente, estar a planear uma invasão da Crimeia, território que Moscovo reclama como seu.

Em segundo lugar, porque, segundo Putin, a NATO não atendeu aos apelos de Moscovo para um "diálogo honesto" sobre "garantias de segurança".

Como "foi tudo em vão", prosseguiu Putin, a "decisão mais correta" foi invadir a Ucrânia.

Nas comemorações desta segunda-feira, Putin acabou por não deixar qualquer "aviso apocalíptico" ao Ocidente, tal como foi avançado por uma fonte do Ministério da Defesa russo à agência Reuters, na passada sexta-feira.

O Presidente russo focou o discurso na necessidade de vencer no Donbass, "para defender o nosso país” e para fazer "de tudo para que a guerra não volte”.

Sobre as perdas no efetivo militar, Vladimir Putin voltou a dizer que "a morte de cada soldado nosso é uma tristeza". E que tudo será feito para apoiar as famílias dos soldados russos que morreram na Ucrânia.

Foi esta, em resumo, a mensagem deixada por Vladimir Putin num discurso de 11 minutos que ecoou por toda a Praça Vermelha, engalanada para as comemorações de um Dia da Vitória carregado de simbolismo, mas com menos adereços festivos do que os inicialmente previstos, nomeadamente sem as acrobacias dos caças que desenhariam nos céus a letra Z, que tornou-se o símbolo da ofensiva russa na Ucrânia.

Segundo o Ministério da Defesa russa, o espetáculo ficou em terra, supostamente por causa das condições climatéricas impróprias para o evento.

Zelenskiy sozinho nas ruas de Kiev. "Muito em breve vai haver dois Dias da Vitória na Ucrânia"

Bem mais curta foi a mensagem de vídeo de Volodymyr Zelensky. Em menos de cinco minutos e meio, o Presidente ucraniano saudou a resistência do país ao invasor no Dia da Vitória.

Respondendo a Moscovo que, nos primeiros tempos do conflito, fixou como objetivo a desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia, Zelenskiy devolveu o argumento com a acusação de que a Rússia repete os “horríveis crimes de Hitler”.

E respondendo, ainda, à magnificência da parada militar na Praça Vermelha, o líder ucraniano assegurou que, "muito em breve, vai haver dois Dias da Vitória na Ucrânia.” E assegurou que não dá "nem um pedaço de terra" à Rússia.

"Fascistas". Embaixador russo na Polónia atacado com tinta vermelha

O incidente aconteceu à chegada a uma cerimónia de homenagem aos soldados soviéticos mortos durante a II Guerra Mundial.

Sergey Andreev preparava-se para depor uma coroa de flores num mausoléu dos soldados soviéticos, em Varsóvia onde estão sepultados militares que combateram contra a Alemanha de Hitler.

À espera de Andreev estava um grupo de manifestantes anti-guerra que atacaram o diplomata com tinta vermelha.

Indiferente ao tom de animosidade e ao termo "fascistas" dirigido à comitiva russa, o embaixador russo saiu do local escoltado por elementos da polícia.

Mais tarde, recorreu ao Telegram para expressar o seu repúdio pelos acontecimentos: "Não não sei o que chamar a isto. Arruinaram o nosso feriado sagrado", declarou Sergey Andreev.

Charles Michel abrigado dos mísseis em Odessa

No terreno, os bombardeamentos prosseguiram ao longo do dia e, tal como aquando do ataque a Kiev, quando Guterres estava reunido com Volodymyr Zelensky, hoje aconteceu algo semelhante com o presidente do Conselho Europeu, que visitava a cidade de Odessa, juntamente com o primeiro-ministro ucraniano.

Charles Michel e Denys Shmygal foram obrigados a procurar refúgio após quatro míssies de cruzeiro mísseis terem atingido Odessa a partir da Crimeia.

Antes, em conversa por videoconferência com Volodymyr Zelenskiy, e ao lado do primeiro-ministro ucraniano, Denys Schmyhal, Michel garantiu que o apoio humanitário, económico e militar "não abrandará".

"Não estamos intimidados pela Rússia", disse.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+