Diário de Guerra

Dia 71. Cessar-fogo não terá sido cumprido em Azovstal. O sangue judeu de Hitler e as desculpas de Putin a Israel

05 mai, 2022 - 20:20 • André Rodrigues

Este foi mais um dia da guerra com os olhos atentos às movimentações no complexo siderúrgico de Azovstal, em Mariupol. Há vídeos que sugerem que a trégua para a retirada de civis não está a ser cumprido e que as tropas russas não pararam de bombardear o complexo fabril. O Kremlin nega e assegura que os corredores humanitários estão abertos e o cessar-fogo está ser cumprido.

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Ao 71.º dia da guerra na Ucrânia, o presidente da Rússia pediu desculpas pelos comentários do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov.

Em causa as palavras do chefe da diplomacia de Moscovo que, numa entrevista à televisão italiana, foi desafiado a explicar a necessidade de "desnazificar" a Ucrânia, quando o Presidente do país, Volodymyr Zelenskiy, tem ascendência judaica.

"Se bem me lembro, e posso estar errado, Hitler também tinha sangue judeu. Não significa absolutamente nada", respondeu Lavrov, provocando um episódio de tensão diplomática entre Moscovo e Telavive.

Aparentemente, a questão ficou ultrapassada esta quinta-feira.

Vladimir Putin conversou esta quinta-feira ao telefone com o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett que, em comunicado, disse ter aceitado o pedido de desculpas, agradecendo a Vladimir Putin por esclarecer a sua posição, disse ele.

O chefe do Governo de Telavive, que também conversou ao telefone com Zelenskiy, disse, ainda, que pediu ao líder do Kremlin que considerasse permitir a evacuação de civis da fábrica siderúrgica de Azovstal que se encontra sitiada no porto de Mariupol.

Esta quinta-feira foi o primeiro dia de uma trégua anunciada por Moscovo, precisamente para garantir a retirada segura de mais civis de Azovstal, mas os responsáveis militares ucranianos falam de "combates pesados e sangrentos" no complexo siderúrgico e descrevem um cenário de "terrível agonia" dos combatentes ucranianos que se encontram gravemente feridos juntamente com várias dezenas de civis que permanecem retidos na fábrica.

Um vídeo publicado por Illia Ponomarenko, jornalista do Kyiv Independent, dá conta de ataques constantes a Azovstal ao longo do dia, sugerindo que a trégua não estará a ser cumprida.

As imagens também já foram divulgadas a nível oficial pela câmara de Mariupol.

No entanto, o Kremlin nega que as tropas russas estejam a invadir o complexo fabril de Azovstal na cidade portuária de Mariupol. Na zona ainda há combatentes e civis ucranianos presos. Moscovo assegura que os corredores humanitários previstos estão abertos e que está a ser cumprido o cessar-fogo.

A informação foi prestada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela agência Reuters, quando questionado sobre se a alegação de um alto funcionário ucraniano de que tropas russas invadiram o território da fábrica era verdadeira.

Esta quinta-feira, Volodymyr Zelenskiy pediu um cessar-fogo de três dias para permitir a evacuação de civis, na maioria mulheres e crianças.

Os militares russos disseram que interromperiam a atividade militar durante o dia de quinta-feira e nos dois dias seguintes para permitir a saída de civis.

Mas com condições: Kiev deve ordenar aos soldados ucranianos cercados na siderurgia de Azovstal, em Mariupol, que deponham as armas, disse o Presidente russo na conversa telefónica com o primeiro-ministro de Israel.

Papa aguarda um sinal de Putin

O secretário de Estado do Vaticano reafirmou a vontade do Papa em se encontrar pessoalmente com Vladimir Putin, com vista a uma solução para pôr fim ao conflito na Ucrânia.

Citado pelo portal Vatican News, o cardeal italiano Pietro Parolin reafirmou a vontade e a disponibilidade de Francisco se deslocar a Moscovo num esforço para parar a guerra.

Mas falta o sinal de abertura do lado russo: “penso que, chegados a este ponto, não há outros passos a dar, ofereceu-se a possibilidade por parte do Santo Padre de ir a Moscovo, de se encontrar pessoalmente com o Presidente Putin. Esperamos que eles saibam o que pretendem fazer. Mais do que isto não nos parece que da parte do Santo Padre possam ser dados outros passos”, disse Parolin.

Afirmações que surgem na sequência da entrevista de Francisco ao jornal 'Corriere de la Sera' e, que foi sinalizada a disponibilidade para um encontro com Putin em Moscovo. O que só poderá acontecer "se Putin abrir a porta", disse o Papa, na altura.

Ucrânia precisa de 5 mil milhões de euros por mês

O presidente do Conselho Europeu disse esta, esta quinta-feira, que é urgente "agir agora" no apoio à Ucrânia.

Falando na Conferência de Internacional de Doadores de Alto Nível para a Ucrânia, Charles Michel disse que "o principal objetivo é angariar dinheiro para esta ação humanitária, mas outra urgência é a liquidez".

"A Ucrânia precisa de fundos significativos para funcionar, cerca de 5 mil milhões de euros por mês, de acordo com o FMI", acrescentou Charles Michel.

Em resposta ao apelo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou a mobilização de quatro mil milhões de euros adicionais em apoio financeiro para a Ucrânia, indicando que "apoia totalmente" a reconstrução do país.

Do lado português, António Costa anunciou um apoio adicional que inclui 1,1 milhões de euros em ajuda humanitária e um milhão de euros destinados à resposta humanitária das Nações Unidas.

Entretanto, na Bielorrússia, Alexandr Lukashenko, defendeu a invasão da Ucrânia pela Rússia, mas admitiu que não estava à espera de um arrastamento do conflito no tempo.

Em entrevista à Associated Press, o Presidente bielorrusso, aliado de Moscovo, disse que não esperava que o conflito “se arrastasse dessa maneira”.

Instado a explicar o seu alinhamento com a "operação militar especial" ordenada por Vladimir Putin, Lukashenko saiu em defesa da opção russa, argumentando que Moscovo agiu porque Kiev estava "a provocar" o vizinho russo.

No entanto, o líder bielorrusso apelou, repetidamente, ao fim do conflito que classificou como uma “guerra”, termo que Moscovo recusa usar.

Na entrevista concedida no Palácio da Independência, em Minsk, Aleksandr Lukashenko disse sentir que "esta operação arrastou-se" e assegurou que defende a paz na região.

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