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Guerra na Ucrânia

Dia 62. Putin frente a frente com Guterres e a Polónia sem gás a partir de quarta-feira

26 abr, 2022 - 20:38 • André Rodrigues

Uma vez mais, a mesa de seis metros de comprimento do Kremlin voltou a ser o palco de um encontro ao mais alto nível, desta vez entre Vladimir Putin e o secretário-geral das Nações Unidas. Guterres apresentou-se em Moscovo como "mensageiro da paz". Putin usa Ucrânia de "genocídio". Invasão russa violou direito internacional, contrapõe Guterres.

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Ao 62.º dia de guerra na Ucrânia, Vladimir Putin mostrou-se disponível para aceitar o envolvimento das Nações Unidas e da Cruz Vermelha no grupo de contacto humanitário entre a Rússia e a Ucrânia para apoiar a retirada de civis da metalúrgica Azovstal, em Mariupol, onde também se encontram cercados militares ucranianos.

É o dado mais relevante de uma dia de conflito mais focado nos caminhos da paz do que nos combates no terreno.

"Foi enganado, senhor secretário-geral"

Por falar em combates, o líder do Kremlin chegou mesmo a corrigir a formulação inicial de Guterres sobre confrontos em Mariupol. Apesar de reconhecer que a situação "é trágica" e pode, mesmo agravar-se, Putin assegura que, nesta altura, "os combates já pararam" e os corredores humanitários "estão a funcionar" na cidade portuária controlada pelas forças russas.

Primeiro, António Guterres falou com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros e, no final, apresentou-se ao mundo como "mensageiro da paz". Ideia-chave: a criação de de um grupo de contacto entre Moscovo e Kiev para acelerar a abertura de corredores humanitários.

Sergei Lavrov reafirmou a abertura de Moscovo para promover a retirada de civis ucranianos das zonas de combate, sublinhando que a proteção dos civis é, também, um dos objetivos da chamada operação militar especial, utilizando o termo adotado pela Rússia para denominar a guerra desencadeada na Ucrânia.

António Guterres fez, aliás, questão de sublinhá-lo ao chefe da diplomacia russa. Se Sergei Lavrov atirou as culpas para a Ucrânia, dizendo que Kiev recusa responder às propostas de paz apresentadas por Moscovo, já o secretário-geral das Nações Unidas lembrou que, apesar das razões de queixa que o Kremlin em relação ao cumprimento dos acordos firmados com o Governo ucraniano em 2015, há um país agressor, que mobilizou soldados para o território ucraniano, e um país agredido, que não tem efetivos mobilizados na Rússia.

Argumento que Guterres levou, já durante a tarde, ao encontro com Vladimir Putin: "a violação da integridade territorial de qualquer país não está de acordo com a Carta da ONU. Estamos profundamente preocupados com o que está a acontecer. Consideramos que aquilo que aconteceu foi uma invasão do território ucraniano", disse.

Putin diz esperar um acordo

Na resposta ao secretário-geral da ONU, Putin manifestou o desejo de "chegar a um acordo diplomático", apesar das hostilidades. O líder russo sublinha, mesmo, os avanços importantes nas negociações entre a Rússia e a Ucrânia na cimeira de Istambul.

"Estamos a realizar negociações, não nos recusamos a fazê-lo”, afirma o Presidente russo que recorreu ao termo "genocídio", em particular no Donbass, à violação dos acordos de Minsk e ao golpe de Estado que, em 2014, depôs o Presidente Ianukovitch, apoiado por Moscovo.

Polónia recusa pagamento em rublos e fica sem gás

Na frente económica, Moscovo informou o governo polaco da suspensão do fornecimento de gás, a partir de quarta-feira.

Em causa está a recusa de Varsóvia em pagar as remessas à Gazprom em rublos e a decisão, do lado da Polónia, de aplicar sanções a 50 entidades e indivíduos russos, incluindo a própria Gazprom.

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