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Renascença em França

A noite em que Macron voltou a derrotar Le Pen às portas do Eliseu

25 abr, 2022 - 00:00 • Stefanie Palma, correspondente Renascença em Paris

A Renascença esteve no terreno e falou com Ana Martins, chefe do gabinete do Ministro da Coesão Territorial francês, que explicou o motivo principal que a faz apoiar Macron.

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Em França, a noite é de vitória para Emmanuel Macron. O candidato liberal foi reeleito com 58.2% dos votos, contra 41.8% de Marine Le Pen, da extrema-direita, dados, contudo, ainda provisórios.

Nos Champ de Mars, um dos maiores espaços verdes de Paris, em frente à torre Eiffel, o ambiente desta noite eleitoral foi de uma enorme festa.

O Presidente francês chegou aos Champ de Mars, ao som do hino da alegria, da União Europeia. No momento da sua entrada, a emoção era visível no rosto dos franceses e houve ainda quem não conseguisse conter as lágrimas.

A Renascença esteve no terreno e falou com Ana Martins, chefe do gabinete do Ministro da Coesão Territorial francês, que explicou o motivo principal que a faz apoiar Macron.

"Sou apoiante de Emmanuel Macron porque ele foi o único candidato da segunda volta a ter uma política que não seja anti filho de emigrantes e lusodescendentes, nomeadamente. Esse é o motivo pelo qual estou profundamente anti Marine Le Pen", começou por dizer.

Apesar disso, existem outras razões que a nossa entrevistada enumerou, em seguida: "O programa de Emmanuel Macron, além da abertura sobre o mundo, o liberalismo económico, o facto de ele estar a ter um papel super importante na Europa também".

Depois, a Renascença perguntou como é que Ana Martins definiria o próximo mandato de Emmanuel Macron em 3 palavras. A resposta foi peremptória: difícil, difícil e muito difícil.

"Digo isto com ironia, mas para dizer a verdade estou um bocadinho triste hoje porque apesar de Emmanuel Macron ter vencido, a Marine Le Pen progrediu muito e isso não deixa boas expectativas, nem para as legislativas, nem para as próximas presidenciais", defendeu.

A chefe do gabinete do Ministro da Coesão Territorial francês constatou depois que, em 2027, Macron já não poderá ser reeleito, uma vez que só pode cumprir dois mandatos seguidos e que isso poderá eventualmente trazer mudanças para o país.

"Não haverá outro Emmanuel Macron em 2027. Ele não pode fazer mais do que dois mandatos sucessivos, por isso vai haver a questão da descendência dele», salientando que será importante perceber «como é que ele vai preparar o partido para ter outro candidato".

Segundo a nossa entrevistada, doravante, será igualmente importante perceber como é que os partidos tradicionais vão assumir de novo os papéis de partido do governo ou da oposição.

Por seu turno, Jerome Leroy, de 45 anos, também revelou que esteve contra Marine Le Pen nesta eleição.

"Eu tive a escolha entre os dois e não apoio, de todo, a Marine Le Pen. É verdadeiramente uma mobilização contra a Marine Le Pen. Estou contente com o que Macron fez nos últimos 5 anos », explicou o cidadão francês, que se dirigiu à noite eleitoral com o filho de 6 anos, para que também ele pudesse assistir a esta «noite histórica para o futuro de França".

Campanha de Macron nos preparativos para a noite eleitora das presidenciais de 2022 Foto: Stefanie Palma/RR
Campanha de Macron nos preparativos para a noite eleitora das presidenciais de 2022 Foto: Stefanie Palma/RR
Apoiantes de Emmanuel Macron, em Paris Foto: Stefanie Palma/RR
Apoiantes de Emmanuel Macron, em Paris Foto: Stefanie Palma/RR

Emmanuel Macron em "dívida com os eleitores"

Emmanuel Macron dirigiu-se para o local onde discursou, junto ao farol da capital França (a Torre Eiffel), acompanhado pela esposa, Brigitte Macron, e por um grupo de jovens

"Sei que muitos dos nossos compatriotas votaram em mim hoje, não para apoiar as ideias que tenho, mas para bloquear as da extrema-direita. Esta votação faz com que eu lhes esteja em dívida para os próximos anos, sou o depositário do seu sentido de dever", declarou o Presidente.

Macron prometeu ainda dar uma resposta a quem votou na extrema-direita: "Sei que para muitos dos nossos compatriotas, que hoje escolheram a extrema-direita, a revolta e as divergências, que os levaram a votar neste projeto, devem também encontrar uma resposta. Será responsabilidade minha e dos que me rodeiam".

O chefe de Estado disse também “não ser mais o candidato de um campo, mas o Presidente de todos”.

Macron prometeu que o seu segundo mandato não "será de continuidade, mas de revisão coletiva por cinco anos melhores para o país e a sua juventude".

Marine Le Pen assume a derrota, mas aposta nas legislativas

Entretanto, Marine Le Pen, candidata de extrema-direita, assumiu plenamente a derrota, no entanto, reconheceu também a vitٌória pela percentagem histórica que a extrema-direita conseguiu atingir neste escrutínio.

Le Pen disse que os resultados eleitorais traduzem "uma grande desconfiança dos franceses em relação às instituições francesas e europeias".

A candidata garantiu continuar empenhada na política, nomeadamente, nas eleições legislativas que têm lugar a 12 e 19 de Junho, que muitos analistas consideram como uma "uma terceira volta".

A candidata nacionalista apelou aos seus apoiantes para votarem de forma massiva no seu partido. Recorde-se que esta é a terceira vez que Marine Le Pen concorre às eleições presidenciais em França.

Por outro lado, o candidato de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que foi o terceiro mais votado na primeira volta das presidenciais (com mais de 20% dos votos) e cujo eleitorado foi decisivo para esta eleição, também já falou acerca das legislativas e apelou ao seus eleitores para o elegerem como primeiro-ministro, um pedido que voltou a reiterar esta noite.

Reacções à vitória de Emmanuel Macron multiplicam-se

A nível internacional, a notícia da reeleição de Emmanuel Macron foi recebida com satisfação e alívio.

O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, já reagiu ao resultado destas eleições, tendo enviado um "abraço de felicitações muito caloroso" ao seu homólogo.

O chefe de Estado português considerou que este domingo se assistiu a "uma vitória da União Europeia e contra a xenofobia".

Já Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu, mostrou-se particularmente feliz com esta vitória, numa altura em que a Europa necessita de um forte sinal de unificação:"Neste período conturbado, precisamos de uma Europa forte e de uma França totalmente empenhada numa União Europeia mais soberana e mais estratégica”.

O chanceler alemão Olaf Scholz reconheceu também o compromisso dos eleitores com a Europa: “Os eleitores franceses enviaram uma mensagem de compromisso forte para com a Europa”.

Emmanuel Macron, europeísta convicto, tem nos próximos cinco anos o desafio de tentar reunificar França e diminuir a polarização política existente no país.

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