Diário de Guerra

Dia 36. A batalha do pagamento em rublos na energia e a recuperação da central de Chernobyl

31 mar, 2022 - 19:16 • João Carlos Malta

A caminho do fim da quinta semana de guerra, a questão da energia ganha centralidade e as acusações à Rússia de violar o direito internacional não cessam.

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O 36ª dia da guerra na Ucrânia fica marcado pelas declarações do presidente russo Vladimir Putin que garantiu que a partir de amanhã, sexta-feira, quem quiser comprar gás e petróleo à Rússia terá de o fazer em rublos através da abertura de uma conta num banco local. A resposta imediata de vários países foi a de que não aceitam ultimatos de Moscovo.

Putin disse que quem não aceitar esta condição terá os contratos de fornecimento cancelados. Mas a ameaça não foi suficiente para abalar países como a Alemanha, a França e o Reino Unido que rejeitam aceitar as condições da Rússia.

Numa informação algo contraditória com o que está a ser avançado em público, o primeiro-ministro italiano Mário Draghi, que falou esta quinta-feira ao telefone com Putin, disse ainda que o presidente russo tinha assegurado que os atuais contratos de gás se mantinham em vigor e que as empresas europeias continuariam a pagar em euros e em dólares.

“O que entendi, mas posso estar errado, é que a conversão do pagamento é uma questão interna da Federação Russa”, disse Draghi.

Entretanto, o jornal russo Kommersant noticia que a empresa estatal russa Gazprom está a trabalhar em formas de interromper o fornecimento de gás ao continente europeu. A notícia surge depois de, na quarta-feira, Alemanha e Áustria terem dado o primeiro passo para um possível racionamento de gás natural.

Na mesma conversa com Draghi, Putin terá ainda dito que as condições para um cessar-fogo na Ucrânia “ainda não são maduras”.

Rússia sai de Chernobyl

Outra informação que marcou o dia foi a recuperação da central nuclear de Chernobyl, no norte da Ucrânia, que estará, de novo, sob controlo ucraniano. O anúncio foi feito pela empresa nuclear estatal.

De acordo com o Wall Street Journal, os soldados russos terão abandonado por completo as instalações da central nuclear num comboio militar com cerca de 700 veículos que se encontrava na região de Kiev.

Estas informações vão no sentido de algumas notícias que dão conta de que as tropas invasoras estão a abandonar aquele aquela região do norte do país.

As acusações de uso de armas proibidas continuam e depois das armas de fragmentação, agora as autoridades ucranianas acusam as forças russas de lançar bombas de fósforo, na pequena cidade de Marinka.

De acordo com o chefe da administração militar da região de Donetsk, Pavel Kyrylenko, foram identificados “uma dúzia de incêndios” provocados pelos projéteis e controlados pelos funcionários do Serviço Nacional de Situações de Emergência.

Algumas das ações russas nesta guerra, fazem aliás com que o secretário-Geral da NATO acuse Moscovo de falta de vontade política para acabar com a guerra na Ucrânia.

“É óbvio que temos visto muito pouca vontade do lado da Rússia para encontrar uma solução política. O que temos visto é uma contínua invasão militar na Ucrânia”, disse Jens Stoltenberg, em conferência de imprensa, em Bruxelas.

Foi ainda dado a conhecer nas últimas horas que há relatórios dos serviços secretos norte-americanos e dos serviços secretos britânicos a indicar que os conselheiros do Presidente russo esconderam-lhe as dificuldades que estavam a acontecer durante a invasão à Ucrânia por medo.

De acordo com o “The New York Times”, os relatórios secretos mostram que Putin não é informado corretamente sobre a guerra na Ucrânia.

Responsáveis da Casa Branca, citados pelo “Times”, dizem que estes documentos – que mostram a ocultação, por parte dos conselheiros, das dificuldades encontradas pelas forças russas – foram divulgados para mostrar a dimensão dos erros táticos adotados pelo Presidente com base em informação falsa.

Em resposta, fontes do Kremlin, já vieram afirmar que estes dados não são verdadeiros, e de que os norte-americanos não conseguem perceber a forma de pensar do presidente russo.

Nesta quinta-feira, Londres anunciou novas sanções contra mais 14 pessoas, em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia. Visam órgãos de comunicação social e algumas figuras relevantes do setor.

De acordo com a Reuters, entre os sancionados, estão figuras relevantes de alguns órgãos de comunicação social, onde constam os nomes de Alexey Nikolov, director-geral da RT, Sergey Brilev, um proeminente pivô noticioso da rede estatal, Rossiya Television and Radio, e Anton Anisimov, editor-chefe da Sputnik.

Também o nome do chefe do Centro de Comando e Controlo de Defesa Nacional da Rússia, Mikhail Mizinitsev, foi acrescentado a esta lista, por ter sido o “responsável pelo planeamento e execução do cerco, e bombardeamento, de Mariupol”.

As crianças continuam a sofrer com esta guerra e o número de vítimas mortais continua a subir. Segundo a Procuradora-geral ucraniana, 148 morreram e 232 ficaram feridas.

Há também 797 instituições de ensino que foram alvo de ataques desde o início da invasão.

Por fim, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, e o homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, podem vir a encontrar-se "dentro de uma ou duas semanas".

A informação foi avançada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Ancara numa entrevista televisiva. Segundo Meylut Cavusoglu, ainda é "impossível indicar uma data ou local da próxima reunião".

"Pode vir a ser marcada uma reunião ao mais alto nível, pelo menos ao nível de ministro, dentro de uma semana ou duas."

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