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Guerra na Ucrânia

Retido em Donetsk. Separatistas "procuram homens nas ruas e mandam-nos para a guerra"

26 fev, 2022 - 00:19 • André Rodrigues

Denis Oriel é ucraniano e vive em Portugal, mas foi apanhado pelo início da guerra enquanto visitava a família. Retido em Donetsk diz que, por agora, não sai à rua para evitar o recrutamento à força para combater a Ucrânia. "Não quero participar nessa loucura. Tenho passaporte ucraniano, porquê que iria lutar contra a Ucrânia?"

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Denis Oriel. Separatistas de Donetsk "andam à procura dos homens nas ruas e mandam-nos para a guerra"

As milícias separatistas do leste da Ucrânia estão a recrutar à força homens entre para combater o exército de Kiev.

O relato foi feito à Renascença na noite desta sexta-feira por Denis Oriel, um ucraniano a residir atualmente em Portugal, mas que está retido em Donetsk, onde foi passar férias com a família que vive na Ucrânia.

"Não saio de casa, porque, aos homens não convém sair. Há poucas pessoas na rua. A cidade está, infelizmente, a lutar contra a Ucrânia e eles andam à procura dos homens nas ruas e mandam-nos para a guerra ou para ajudar as forças armadas desta República de Donetsk contra a Ucrânia", conta.

Combater Kiev está fora de questão: "claro que não, não quero participar nessa loucura. Tenho passaporte ucraniano, porquê que iria lutar contra a Ucrânia?"

Donetsk contente. "A Ucrânia está a sofrer"

A família de Denis Oriel está em clara minoria numa região, toda ela, favorável à Rússia.

Como não sai de casa para o que quer que seja, este ucraniano mede a hostilidade a Kiev pelos comentários que vai apanhando nas redes sociais.

"Cá ninguém apoia o Presidente Zelenskyi, mas muitas pessoas já estão fartas de viver nesta república, mas a maioria que ficou cá em Donetsk, apoia Moscovo e o Presidente da Rússia. Várias pessoas estão contentes, porque, agora, é a Ucrânia que está a sofrer. Dizem que a Ucrânia tem de aprender a viver sob bombardeamentos, como nós já aprendemos a viver cá em Donetsk", afirma Denis Oriel.

Ir às compras? Só as mulheres podem

"Quando é necessário ir buscar comida, a minha mãe ou a minha irmã é que vão. Mas também temos comida em casa", acrescenta.

Nesta altura, Oriel está na casa de uma irmã e do cunhado, juntamente com a mãe. O pai está em Dnipropetrovsk, a quarta maior cidade da Ucrânia, e há outra parte da família que em Odessa, no sul do país.

"Odessa foi atacada ontem, mas ainda está a aguentar. As pessoas estão muito ansiosas", refere.

Em Donestsk, "o ambiente é mais calmo, há movimentações de veículos militares e ouve-se algumas explosões, mas ao longe".

Água racionada

Neste relato, feito a partir de Donetsk, Denis Oriel diz que a falta de acesso a água potável é, nesta altura: "não há água, ou melhor, a água, todos os dias, desaparece e depois repõem para duas ou três horas e depois volta a desaparecer".

Denis Oriel trabalha num restaurante em Colares, no concelho de Sintra, e diz que, nesta altura, só lhe resta aguardar pelo fim das hostilidades, para tentar regressar a Portugal.

"Quando as coisas acalmarem, quando algo mudar, eles vão cancelar a mobilização dos homens aqui em Donetsk e vamos conseguir sair daqui", refere.

Mas há um senão: "a Ucrânia também está em guerra e eu deixei o meu título de residência em Odessa, portanto, logo se vê. Agora tenho de esperar. Ou saio pela Ucrânia ou vou ter de apanhar noutro país, seja na Rússia, na Bielorrússia ou na Geórgia, porque o espaço aéreo da Ucrânia está fechado e os russos estão a bombardear aeroportos".

E se 'logo se vê' for muito tempo? Denis Oriel prefere excluir esse cenário. "Espero que não. Fui de férias numa altura péssima, infelizmente", remata.

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