22 fev, 2022 - 00:53 • André Rodrigues
A decisão de Vladimir Putin de reconhecer as regiões separatistas de Donetsk e de Lugansk, no leste da Ucrânia, como estados independentes pode ser determinante para o fim da crise na fronteira russo-ucraniana.
A tese é defendida, na Renascença, por Carlos Gaspar.
Na leitura deste especialista em Ciência Política e Relações Internacionais do IPRI, “o reconhecimento da independência de Donetsk e de Lugansk pela Rússia pode significar o fim da crise, no sentido em que o Presidente russo pode deixar de fazer pressão militar, como fez até agora, sobre a Ucrânia e começar a desmobilizar as tropas nas fronteiras, designadamente as mais próximas de Kiev”.
Ao início da madrugada, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sublinhou de forma clara que não teme o avanço das tropas russas que, durante a noite desta segunda-feira, ocuparam posições na região do Donbass.
No entanto, para Carlos Gaspar, não é de esperar uma resposta militar por parte de Kiev, o que poderia alimentar um conflito de proporções imprevisíveis.
“Estas tropas ucranianas não vão iniciar, agora, aquilo que não fizeram desde 2014, que é tentar recuperar os territórios ocupados pelos partidários da Rússia e pelas milícias armadas e sustentadas pelo exército russo”, argumentou.
Comentário
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Carlos Gaspar lembra que “esta situação não é nova e é semelhante à que existe desde 2008 na Geórgia”, com a Rússia a dominar as regiões da Ossétia do Norte e da Abecásia, e com “as tropas garantindo a segurança daquelas fronteiras”.
Apesar de a região do Donbass ser praticamente toda dominada por milícias pró-Moscovo, persistem, ainda, algumas bolsas controladas pelo exército de Kiev.
Tal como acontece nos territórios dominados por Moscovo na Geórgia, onde “há uma missão robusta da OSCE, incluindo forças americanas e britânicas que garantem a separação entre os territórios dessas entidades fantoche, criadas pelas autoridades russas”, também na Ucrânia “é necessário criar uma linha de segurança para evitar o contacto aberto sujeito a tensões permanentes”.
Questionado sobre se estes desenvolvimentos afastam, de vez, qualquer possibilidade de uma adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica, Carlos Gaspar assegura que, pelo menos por agora, “não vai acontecer”, a menos que uma invasão militar de larga escala por parte da Rússia altere esse cenário.
“Putin sabe disso e é por isso que não podemos deixar de reconhecer como uma possibilidade ele ter recuado e ficar por aqui, reconhecendo como entidades soberanas aquelas que a Rússia controla desde 2014 e que, portanto, já pertencem, de facto, à esfera russa”, conclui.
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