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Ómicron. O que sabemos da nova variante da Covid-19

29 nov, 2021 - 19:48 • João Carlos Malta com redação

Onde apareceu, como surgiu e o que está a causar receio por todo o mundo. As perguntas e as respostas sobre a estirpe que foi descoberta na África do Sul.

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Quando é que apareceu a nova variante, detetada no continente africano?

A variante B.1.1.529 foi identificada na terça-feira, 24 de novembro, e qualificada “como preocupante” devido ao alto número de mutações, que podem levá-la reduzir a imunidade das populações. Foi nesse dia comunicada a existência à Organização Mundial de Saúde (OMS).

A nova estirpe foi relacionada a um aumento de casos na província de Gauteng, na África do Sul, uma área urbana que engloba Pretória e Joanesburgo, nas últimas duas semanas.

Esses dois fatores colocaram-na rapidamente no radar das instituições internacionais.

“Na verdade, tudo começou com um paciente do sexo masculino com cerca de 33 anos”, disse Angelique Coetzee, presidente da Associação Médica da África do Sul, à BBC no domingo, acrescentando: “Ele disse-me que só [esteve] extremamente cansado nos últimos dias e ele tem essas dores no corpo e um pouco de dor de cabeça”.

Onde é que apareceu?

A sequenciação da nova estirpe foi feita por investigadores sul-africanos, liderados pelo brasileiro Túlio Oliveira, mas a primeira amostra foi coletada pela primeira vez no Botsuana, a 11 de novembro.

Porque é que os cientistas estão preocupados?

A variante tem mais de 30 mutações na proteína de pico - a chave usada pelo vírus para desbloquear as células do nosso corpo - mais do que o dobro do número transportado pela Delta, que atualmente é predominante.

Com base puramente no conhecimento da lista de mutações, os cientistas preveem que o vírus terá maior probabilidade de infetar - ou reinfectar - pessoas que têm imunidade a variantes anteriores.

Porque se chama Ómicron?

O sistema da OMS atribui variantes como uma letra grega, para fornecer um rótulo não estigmatizante que não associa novas variantes ao local onde foram detectadas pela primeira vez. A nova variante foi chamada de Ómicron.

A variante causará casos mais graves de Covid-19?

Ainda não há informações sobre se a variante levará a uma mudança nos sintomas ou na gravidade de Covid - isso é algo que os cientistas sul-africanos estão a monitorar.

Existe um intervalo entre infeções e o desenvolvimento de doenças mais graves, e demorará várias semanas até que quaisquer dados claros estejam disponíveis.

Segundo Angelique Coetzee, presidente da Associação Médica da África do Sul, os sintomas dos casos que estão a ser acompanhados são "extremamente leves". “Ninguém foi internado, falei com outros colegas e disseram-me o mesmo”.

O que diz a OMS?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) assume que o risco da variante Ómicron ser transmitida mundialmente é "muito alto", mas realça que até ao momento não há mortes associadas a esta nova variante.

Num relatório sobre esta nova variante do SARS-CoV-2, a OMS revela que tendo em conta as altas mutações da Ómicron, esta variante tem potencial para ser mais resistente à imunização e mais contagiosa.

E a DGS?

“Queremos deixar uma palavra de calma, porque não há evidência de que esta variante seja mais grave. Aliás, as pessoas afetadas têm doença ligeira ou até assintomática”, explica a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.

O investigador do INSA João Paulo Gomes também apelou à calma em relação à nova variante Ómicron do coronavírus, afirmando que são precisos dados consistentes para se tirar uma "conclusão mais séria" sobre o seu impacto. A população, diz, não deve “entrar em pânico”.

"A comunidade científica tem gerado resultados muito importantes a nível de influenciar a decisão em termos de saúde pública e decisão dos vários governos e isso tem corrido naturalmente bem e acho que é assim que deve ser", afirmou.

Há muitos casos identificados?

Vários países europeus, entre os quais Portugal, já reportaram casos da variante Ómicron.

A variante está a espalhar-se a nível mundial, já há casos em todos os continentes.

O que estão a fazer para conter a disseminação da Ómicron?

A mais visível é a proibição de voos da África do Sul, Botsuana, Zimbabué, Namíbia, Lesotho, Eswatini (antiga Suazilândia), Moçambique e o Malawi.

Há quem esteja a tomar medidas ainda mais restritivas. Israel, por exemplo, decidiu proibir a entrada de visitantes estrangeiros, e tal como o Japão, e Marrocos anunciou mesmo a suspensão de todos os voos de outros países durante as próximas duas semanas.

Mas há países que estão já a estudar medidas complementares de prevenção como o Reino Unido, que quer reintroduzir a obrigatoriedade do uso da máscara. Neste país, é agora obrigatório um teste PCR para entrar quando se chega por um aeroporto.

Quantos casos estão identificados em Portugal?

Para já 13 casos, todos jogadores e elementos do staff da equipa de futebol da Belenenses SAD.

A origem do surto terá sido o futebolista sul-africano Cafu Phete, recentemente regressado da África do Sul e que terá contagiado os colegas de equipa.

Na Europa, apenas os Países Baixos têm tantos casos como Portugal.

Estão todos assintomáticos, ao que adiantou à Renascença a diretora-geral da Saúde. Agora estão a ser analisados os contactos de risco para tentar perceber se há outras pessoas que possam ter sido, entretanto, infetadas com esta nova estirpe da Covid.

E as vacinas que existem são eficazes?

Isso está em estudo, sendo que os laboratórios que criaram as vacinas já começaram a testá-las para a nova variante. Há especialistas que admitem que a eficácia das vacinas pode ser afetada, mas o mais provável é que as vacinas protejam ainda assim contra formas graves da doença.

Por isso, é ainda mais importante nesta altura alargar o mais possível a vacinação e dar doses de reforço às pessoas mais frágeis.

No pior cenário, se se vier a concluir que esta variante reduz muito a eficácia das vacinas atuais, a solução seria produzir novas vacinas, e os laboratórios já garantiram que seria um processo relativamente rápido.

A Pfizer, por exemplo, diz que em 100 dias consegue produzir e distribuir uma vacina contra a nova variante.

A Moderna também anunciou que pode ter uma vacina atualizada no início do ano. Esperemos que não venha a ser necessário.

Entretanto, a diretora da Centro Europeu para o Controlo de Doenças, Andrea Ammon, disse que há ainda muitas incertezas em relação à transmissibilidade, eficácia das vacinas ou risco de reinfeções, e pede proatividade na implementação de medidas para "ganhar tempo" até haver mais informação.

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