Reportagem

Covid-19. Brasil vive “trauma coletivo” e terá uma geração de “órfãos e viúvos”

23 ago, 2021 - 06:40 • João Carlos Malta (texto), Sofia Moreira (vídeo)

O Brasil é, neste momento, o segundo lugar do planeta em que mais pessoas morreram por Covid-19: mais de 570 mil pessoas perderam a vida. É também o terceiro país do mundo com mais casos – supera os 20 milhões de infetados. Os números oficiais são pesados (há desconfiança de que não revelam toda a realidade) e estão a deixar marcas profundas para o futuro da sociedade brasileira. O retrato de um país em luto.

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A Covid-19 no Brasil, um desastre (quase) anunciado
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O número superlativo de infeções e de mortes, e as variadas sequelas psicológicas, sociais e políticas transformaram a pandemia da Covid-19 no Brasil num “trauma coletivo”. Uma das vozes que o afirma é a da diretora do programa de estudos brasileiros do Centro Latino-Americano da Universidade de Oxford, Andreza Souza Santos. E se o presente deixa já bem visíveis os graves problemas no dia-a-dia do país, a investigadora projeta as consequências para o futuro.

Vai ser um país em luto. São milhares de brasileiros que perderam filhos, pais, avós, vizinhos, amigos. É um pais enlutado, e o que isso significará para uma geração de órfãos, de viúvos e de viúvas. Precisamos de entender como ultrapassar este trauma coletivo na sociedade”, diz esta professora que se tem dedicado a estudar os impactos sociais e políticos da Covid-19 no Brasil.

Mas se este é o resultado de um ano e meio de pandemia no país, e a história das causas tem vários atores, o principal− e sobre o qual todos os holofotes caem − é o presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro adotou uma posição negacionista em relação ao vírus. Desde o início do surto no país, em março de 2020, rejeitou as orientações dos cientistas e da Organização Mundial da Saúde (OMS), e é acusado de disseminar desinformação sobre a pandemia, nas quais se incluem a segurança das vacinas.

O presidente brasileiro incentivou e promoveu aglomerações, ridicularizou as vítimas mortais e tentou acionar a Justiça contra governadores que adotaram medidas para proteger a população. Nunca usou máscaras, e a palavra “gripezinha” sintetiza a forma como olhou para o que estava a suceder.

Descoordenação e desorganização

A professora Souza Santos fala de um fenómeno que se explica através de diversas variáveis, mas põe o foco na falta de coordenação nacional na estratégia sanitária. Isso gerou uma cacofonia de medidas e ações que deixaram os brasileiros ainda mais confusos do que já seria normal com qualquer outra pessoa num mundo afetado por uma doença que muda tudo na vida quotidiana.

“O Brasil é um pais continental com 5.568 municípios e não houve uma coordenação nacional para enfrentar a pandemia. Assim tivemos 5.568 municípios que adotaram medidas de distanciamento social diferentes umas das outras, em momentos diferentes, e com duração diferente”, conta a especialista.

A mesma diz que os confinamentos decretados em alguns estados não duraram muito tempo, e as medidas de distanciamento social foram flexibilizadas de forma “dessincronizada”. “Estas medidas não têm a mesma duração, não têm a mesma adesão e não têm a mesma intensidade”, relata. Isso foi o suficiente para a pandemia se espalhar e enraizar um pouco por todo o território.

Soma-se ainda que durante este período houve eleições para as prefeituras (o equivalente às autarquias em Portugal), e os políticos estiveram mais expostos às pressões de empresários e outros atores locais. Isso deixou a direção política mais volátil a interesses particulares.

A docente de Oxford sublinha que a quantidade e diversidade de medidas confundiu o cidadão comum, que recebe informação local e nacional. Por outro lado, Andreza acrescenta que, às vezes, “a medida era adotada, não tinha uma grande duração, e perdia a credibilidade”.

Por outro lado − e se a falta de direção federal até pode ter sido benéfica em razão das ideias que vinham do Palácio do Planalto − a nível regional assistiu-se a uma falta de comunicação entre municípios limítrofes o que permitiu que pessoas pudessem circular entre eles, mesmo quando um tomava decisões mais restritivas como o confinamento.

Vacinação tardia causou perdas evitáveis

No Rio de Janeiro, a médica comunitária (o equivalente em Portugal a um médico de Saúde Pública) Marcele Paiva segue uma vasta população que reside sobretudo em favelas. Ela personifica aquilo que o país vive como um todo. Já perdeu pessoas para o vírus, já ficou doente, e a família já foi afetada.

Ela concede que o estado a que o Brasil chegou não se explica por uma só causa, mas é incisiva no balanço e personaliza as acusações.

“O principal [motivo] é o político, não temos brasileiros mais suscetíveis do que o resto do mundo, não temos o pior sistema de saúde do mundo, temos é um presidente que faz uma política negacionista, que tem frases muito emblemáticas, e faz o povo desacreditar nas ferramentas que tem para se proteger do vírus − que é o uso de máscaras. Antes já tinha dito que isto era uma gripezinha em que 90% das pessoas iam ficar bem”, aponta.

Marcele é muio critica em relação à estratégia de compra de vacinas que, na opinião da médica, foi fatal para não se salvaram mais vidas. Afirma que no Brasil nem se pode falar em vagas da pandemia, porque a redução de casos nunca foi pronunciada o suficiente para ver a curva achatar. A vacinação poderia ter “mudado o jogo”.

Mais a norte, mais precisamente no noroeste do país, no Estado do Maranhão, o enfermeiro Marlon Cardoso é um dos que responsabiliza a falta de vacinas no país, em tempo útil, por tudo o que lhe aconteceu em apenas 20 dias, entre o fim de março e o meio de abril (o pior momento da pandemia no Brasil).

Não foi coisa pouca. A vida mudou por causa da morte. Primeiro perdeu o pai de 73 anos, depois a irmã de 43 anos, e por fim o irmão de 30 anos. De rajada. Sem tempo para que o luto de cada um deles fosse vivido. Uma família unida foi desfeita.

Marlon fala de forma compassada, quase que a travar entre cada palavra as emoções. “Os meus familiares foram vítimas desta situação, a vacina tinha chegado para as pessoas de 74 anos quando o meu pai morreu. Os serviços de saúde não permitiram que se vacinasse com um ano de diferença, tendo ele sequelas de uma doença neurológica. Uma semana depois adoeceu e morreu”, recorda.

O Brasil é um pais continental com 5.568 municípios e não houve uma coordenação nacional para enfrentar a pandemia.

Já a irmã, professora, faleceu e pouco tempo depois os docentes começaram a ser vacinados.

“Tínhamos a previsão de iniciar a vacinação em dezembro, e começamos em fevereiro quase em março. Se tivéssemos começado antes com certeza o meu pai tinha sido vacinado e a minha irmã também, porque eram prioritários − idosos e professores. Se se tivessem infetado, mas de uma forma mais leve, o meu irmão não teria necessidade de levar o meu pai para o hospital”, descreve.

O enfermeiro da pequena localidade de Pirapemas descreve o que para si é “uma revolta muito grande”. “Saber que a gente foi deixada à própria sorte”, sintetiza.

“O que mais ouvíamos era: ‘Se você se puder se cuidar, se cuide’. Ou seja, cada um é responsável por si, o Governo não quer assumir a responsabilidade”, lembra.

Levar Bolsonaro a tribunal. Houve genocídio?

O número de vítimas e de famílias de vítimas da doença não pára de crescer, e foi para responder ao seu “grito de revolta” que, já em abril deste ano, surgiu a Avico − associação de vítimas e familiares de vítimas da Covid-19. Nasceu da ideia de dois ativistas dos direitos humanos − o advogado Gustavo Bernardes e a assistente social Paola Falceta.

Ele esteve internado com Covid-19. Uma experiência tão dura como reveladora. Recorda o momento em que uma médica insistiu, antes de o entubar, que se despedisse da família através de um tablet que lhe levou à cama. Viveu por dentro a forma como o sistema de saúde trata o vírus, sendo que as sequelas da doença ainda lhe estão gravadas no corpo. Ela perdeu a mãe para o vírus.

Falaram e concordaram que não poderiam ficar parados. E o que era para ser um movimento regional, tem agora uma dimensão nacional.

Ao início não sabíamos bem o quanto as famílias estavam indignadas. Quando começamos e lançamos a associação e isso apareceu nos média, começámos a receber um grande retorno das famílias e percebemos que estavam muito indignadas”, descreve Gustavo.

A ideia seguinte foi automática: “Temos de ser a voz desta indignação. E radicalizamos a partir dali”, explica.

É um pais enlutado, e o que isso significará para uma geração de órfãos, de viúvos e de viúvas

Gustavo pormenoriza o que mais escutava dos que viam partir os entes queridos: “Eu perdi o meu filho, perdi o meu pai, perdi a minha mãe, porque o Estado foi omisso. Quero que alguém pague por isso. Já havia vacina e mesmo assim o meu pai e a minha mãe morreram. Eu quero que o Estado pague por isso”, salienta.

O alvo passou a estar bem definido: o presidente Jair Bolsonaro. “Ele debocha das vítimas da Covid, e achamos que o primeiro a ser responsabilizado devia ser ele”, sublinha.

Por isso, num ato “mais simbólico”, a primeira ação visível da Avico foi a de interpor uma ação criminal contra Bolsonaro na Procuradoria-Geral da República. “Achamos que isso ia mostrar às famílias que estávamos na linha delas”, explica.

Entretanto, começam a multiplicar-se as ações para levar Bolsonaro ao banco dos réus. A organização Articulação dos Povos Indígenas do Brasil apresentou no Tribunal Penal Internacional (TPI) uma denúncia de genocídio contra o presidente brasileiro, pela sua responsabilidade na morte de 1162 pessoas de 163 comunidades indígenas devido à sua gestão da pandemia.

Paola ataca com ferocidade Bolsonaro, e perante a tragédia vivida por muitas famílias brasileiras, até acaba por relativizar o que lhe aconteceu. “Eu perdi uma pessoa. Mas para se ver como esta doença é terrível, eu hoje sinto-me privilegiada por só ter perdido uma pessoa. Agora conheço muita gente que perdeu três, quatro ou cinco de uma assentada. Famílias que têm 10 pessoas, perderam cinco? Metade da família!”, exclama.

O que o Brasil passou, e está a passar, impediu as famílias de se despediram, porque após morrerem “tinham de ir a enterrar na mesma hora”. “Havia valas enormes, em que se enterravam 10 caixões ao mesmo tempo. Isso aconteceu em Manaus, que foi um horror, mas não foi só lá. Deu-se em outras cidades, apesar de ser em menor escala”, explica.

Um país que nunca saiu da primeira vaga

Este cenário de óbitos e múltiplas infeções nunca antes visto − mesmo por uma médica intensivista − é aquele que há mais de ano meio está a ser vivido pela responsável da unidade de cuidados intensivos do Hospital de São Paulo. Flávia Ribeiro Machado concorda com a médica de Saúde Pública, Marcele Paiva: o Brasil nunca saiu da primeira onda. “Nunca nos livramos da Covid”, enfatiza.

A provação pela qual os médicos da equipa que lidera passaram, levou muitos à exaustão. Os meses de março e abril foram caóticos. Nesse período, atingiu-se a lotação máxima de todas as Unidades de Tratamentos Intensivos (UTI) (equivalente às unidades de cuidados intensivos em Portugal) públicas e privadas, e houve escassez de recursos e medicamentos.

Não era só não ter recursos para comprar, era não encontrar a medicação, os sedativos, os bloqueadores neuromusculares, antibióticos, vasopressores, adrenalina. A quantidade de doentes era tão grande que o que tínhamos em armazém acabou”, lembra. E não havia sequer onde os comprar, porque a indústria farmacêutica não conseguia responder em tempo útil.

Em relação à hidroxicloriquina, método defendido pelo presidente brasileiro como tratamento preventivo do vírus, a médica diz que, com exceção do início do combate à pandemia, nunca foi usada.

“A nossa conduta sempre foi a de não ministrar porque não havia evidência [científica] suficiente. No início, nós ainda usámos a hidroxicloriquina, mas de imediato parámos. O nosso tratamento sempre feito com evidência científica, como com a dexometasona”, descreve.

A mesma médica defende que as explicações para a doença não ter dado tréguas são várias. Em primeiro, a explicação natural: o vírus que levou ao surgimento de novas variantes “que se reacendiam e colocavam a epidemia acesa quando não estava controlada”.

Sempre descontrolada, pandemia virou questão política

O principal fator foi esse mesmo: “[A pandemia] nunca ter sido controlada”. “Nunca fizemos como deveríamos o isolamento social”, identifica. “Há toda uma conotação política das nossas lideranças e do nosso presidente que sempre foi contrário ao isolamento social, ao uso de máscara. No Brasil, a pandemia transformou-se numa questão política ao invés de ser uma questão de saúde pública. Essa questão política foi muito aguçada, e passou a ser uma forma de posicionamento político não usar máscara, não fazer isolamento social, ser um negacionista”, enumera.

Flávia Ribeiro Machado não tem dúvidas: “isso prejudicou sem dúvida milhares de brasileiros que perderam a vida por causa disso”.

No início nos ainda usamos a hidroxicloriquina, mas de imediato parámos. O nosso tratamento sempre feito com evidência científica, como com a dexometasona

A responsável pela unidade de cuidados intensivos do Hospital de São Paulo diz que à falta de condução política se somou a reduzida responsabilidade da população, na forma como encarou a pandemia, “não levando a sério a questão do isolamento social, não levando a sério a questão das máscaras e não acreditando nos números”.

A médica recorda os meses de março e abril como os mais difíceis, em que houve “longas filas para as urgências”. Como responsável, foi ela que teve de decidir quem acedia às UTI. Tinha o amparo do documento redigido pela comissão de ética do hospital, mas ainda assim não faltaram os momentos mais complicados. Recusa a palavra escolha para definir o que fez, diz que “seguiu os regulamentos”. “São bem claros, e dependem da gravidade [do doente] e da nossa capacidade de recuperá-lo”, explicita.

Covid mata e agrava crise social

O número de mortos, os casos da doença e as sequelas, estão a deixar marcas na sociedade brasileira e a introduzir mudanças. Aprofundaram também problemas antigos. Muito próxima de uma população carenciada, Marcele Paiva fala de várias famílias que perderam o elemento que era o sustento de todo um agregado.

Por outro lado, garante que nunca viu tantos relatos de violência doméstica. O alcoolismo também aumentou muito. A depressão e a ansiedade agravaram-se.

Marcele Paiva atribui uma parte destes fenómeno aos homens que “perderam o emprego”, e assim “ficaram mais dentro de casa, deprimidos, angustiados e pressionados”.

A mesma médica que trabalha no Rio de Janeiro diz que, por isso, o país terá um problema com a saúde mental, em resultado das mortes que a doença causou, dos problemas socioeconómicos, e das sequelas psicológicas para os que ficaram vivos.

“Há famílias dizimadas, e quem chega ao nosso gabinete são pessoas com muito medo de ter sobrevivido e sem recursos emocionais para estarem vivos. Não sentem que foi um presente, [para elas] foi um castigo. ‘Porquê eu?’[, questionam]. Trazem um sentimento de impotência”, explica.

O Brasil é um país muito desigual, e esta pandemia está a alimentar esses desequilíbrios. A médica vê nos critérios etários de vacinação, um fator evidente. Os mais velhos são brancos e são os mais abastados. São esses que vivem mais. Os cidadãos de raça negra e indígenas ficam para trás.

“Há crianças que assumiram as tarefas domésticas porque morreu o pai ou a mãe

Também as mulheres estão a ser mais sacrificadas. O país teve longas paragens das escolas públicas. Muitas mães tiveram de sair do trabalho porque as crianças não tinham com quem ficar. As aulas online foram, segundo Marcele, muito difíceis por falta de meios.

As condições económicas também estão a deteriorar-se. O número de cidadãos que vivem abaixo do limiar da pobreza triplicou, e atinge cerca de 27 milhões de pessoas, 12,8% da população brasileira. O levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) também aponta que muitas famílias tentam sobreviver com o valor de R$ 246,00 (38,67 euros) por mês.

O presidente da Avico, Gustavo Bernardes garante que nos últimos meses “vemos mais crianças a pedir na rua, que era algo que não víamos há muito tempo no Brasil, e a trabalhar. O trabalho infantil voltou”.

Bernardes culpa a falta de apoio financeiro do Estado. “Há crianças que assumiram as tarefas domésticas porque morreu o pai ou a mãe”, descreve.

Não houve um programa social para acolher estas crianças e adolescentes vítimas da Covid. “O programa de auxílio emergencial do governo é pífio. Tudo foi articulado pelo governo para que estes dramas ficassem piores”, reclama.

Paola acrescenta a este rol de problemas o aumento de sem-abrigos. Passou a ser visível para quem passa o aumento de pessoas a dormir na rua. Entre os mais pobres, outros foram obrigados a procurar os bairros de lata. “Era gente que morava numa zona de periferia, pelo qual pagavam um aluguer baixinho. Agora estão espalhados em barracas, com muitas crianças em volta de uma mulher”, pormenoriza, acrescentando que os mais prejudicados são os trabalhadores informais e de baixas qualificações.

País falhou?

Apesar do tudo aquilo que correu mal no Brasil, a médica Flávia Ribeiro Machado recusa-se a dizer que o país falhou. “De forma alguma foi um falhanço, como tudo podia ter sido feito melhor. Mas esforçamo-nos muito. Todos nós. Salvamos milhares de vidas”, valoriza.

O mesmo diz a investigadora Andreza Souza Santos que rejeita a ideia. “O país são muitos atores, acho que houve uma comunidade científica que se debruçou na Covid-19 de maneira incrível, fizemos um sequenciamento do vírus num tempo recorde, houve pessoas a trabalhar com recursos limitados e com a ciência ameaçada que fizeram grupos e colaborações incríveis”, argumenta.

Estende os elogios à sociedade civil que se juntou para recolher alimentos para quem ficou sem emprego, e aos “médicos que trabalharam em plantões de forma exaustiva e que se contaminaram”. Por isso, “dizer que o Brasil falhou, acaba por partilhar a responsabilidade com quem trabalhou muito duro, e não responsabiliza os atores que de facto deviam ser responsabilizados”.

Neste momento, o Brasil tem ainda uma média diária de quase mil mortes, numa fase em que mais de 55% da população já tem uma dose da vacina, e 25% tem a vacinação completa. Em média são dadas 1,4 milhões de inoculações por dia.

Ainda assim, o tema da vacinação tem sido bastante polémico no Brasil, estando a decorrer uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em que o governo federal é acusado de esquemas que atrasaram o processo.

“É importante frisar que por detrás da ação do governo não está só o negacionismo, hoje na CPI da Covid, temos a informação de que houve corrupção na agenda das vacinas. Havia um motor de poder, havia a corrupção, e vantagens ilegais nas vacinas. Isso não pode acontecer numa pandemia. É criminoso”, acusa a ativista Paola Falceta.

Ainda para mais numa pandemia que depois de numa primeira fase ter atingido mais a população idosa, no início deste ano mudou de face. “Foi como se fosse uma guerra. Não foram mortes normais, nem enterros normais. Pessoas com 22, 25, 30 anos, na flor da idade. Pais jovens, mães jovens, mulheres grávidas. Como é que podemos esperar que isso não fosse traumatizante?”, pergunta a vice-presidente da Avico, Paola Falceta.

É importante frisar que por detrás da ação do governo não está só o negacionismo, hoje na CPI da Covid, temos a informação de que houve corrupção na agenda das vacinas

É com esse trauma que o enfermeiro Marlon Cardoso vive. Ainda por cima, o trabalho que escolheu põe-no na linha da frente de combate ao vírus.

Pediu uma licença no hospital depois das mortes, mas regressar não está a ser fácil. Os últimos meses levaram-no a deixar três familiares em unidades de saúde para nunca mais os ir buscar. Desmaiou ao ter de reconhecer o corpo da irmã. Demasiado para qualquer um. Por isso, está agora a voltar aos poucos e diz contar com a compreensão dos colegas após a tragédia que viveu.

O drama pessoal, Marlon enquadra-o no todo nacional. O jovem diz que o país está “a viver um trauma coletivo” e que irá haver “uma geração inteira traumatizada com estas perdas”. Isto porque, todos terão “pessoas próximas e saudáveis” que morreram.

Por isso, por estes dias, o Brasil vive um sentimento de “luto coletivo”, e “isso percebe-se bastante bem no país”.

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  • Luis Matias
    02 set, 2021 São Paulo 17:24
    Voçe está completamente por fora da situação do Brasil. Voçe não sabe que o atual presidente é vitima de perseguição pelo STF. O STF está de mão dada com PT para voltar a colocar a esquerda no poder e com a comuniçação social do Brasil, nomeadamente a Globo. Voce também não sabe que o presidente está lutando contra tudo e todos para voltar a colocar o voto impresso nas proximas eleições que o STF e TSE não estou querendo a favor de outros interesses. Estas coisas não passam para o mundo a partir da imprensa oficial (podre) do Brasil.

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