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Hora da Verdade

Santos Silva é "inviável" como candidato presidencial

25 mai, 2023 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença) e Ana Bacelar Begonha (Público)

A dias da convenção do Bloco de Esquerda (BE), que deverá eleger Mariana Mortágua como líder, Francisco Louçã vaticina que o partido tem que mostrar "capacidade governativa" no futuro, até "superior" aos tempos da "geringonça", e preparar-se para disputar o terceiro lugar nas eleições.

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"Marcelo esperará todo o tempo necessário" pelo "apodrecimento" do Governo, diz Francisco Louçã
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O fundador do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã mostra-se confiante quanto à possibilidade de o partido redobrar os seus resultados numas eleições antecipadas e espera ver Catarina Martins candidatar-se pelo BE no futuro, não fechando a porta a ele próprio disputar eleições.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Francisco Louçã acusa Augusto Santos Silva de ser um "candidato inviável" para a esquerda nas presidenciais.

"Quando Mariana Mortágua for ministra das Finanças, o Estado não será um porquinho mealheiro.” Há dois anos, disse esta frase na convenção do BE. Mantém a certeza de que Mariana Mortágua há de ser ministra das Finanças?

Se a esquerda disputa o Governo? Sim. Se a Mariana pode ter um papel? Veremos o que ela consegue conquistar. Espero que sim. Que possa haver uma ambição, uma força que queira mostrar que um Governo de esquerda é um Governo que terá justiça fiscal e pessoas capazes de lutar pela justiça fiscal, como Mariana Mortágua. Creio que é um argumento fortíssimo.

Ao que tudo indica, Mariana Mortágua vai ser eleita coordenadora do BE. Esta transição não podia ter sido feita mais cedo?

Esta transição só é feita pela vontade da Catarina Martins, que, se tivesse querido continuar, seria apoiada, pelo que eu conheço do BE. Ela entendeu que dez anos é tempo suficiente. Há evidentemente um desgaste pessoal grande nestes percursos políticos de liderança e disposição permanente. E, sobretudo, há um novo ciclo político. Preparar esse novo ciclo e lançar um BE que possa ser uma esquerda que recupera a sua força, que disputa o terceiro lugar nas eleições, com a Iniciativa liberal e o Chega, que se mostra capaz de determinar a política, é uma ambição natural.

Catarina Martins fez bem em deixar a liderança do BE?

Se quisesse continuar, teria todo o meu apoio. Até reforça muito a capacidade coletiva de um partido perceber que não há lugares que se eternizam ao longo do tempo, que há uma grande competência e capacidade que se aprende, mas que há um tempo próprio. O princípio republicano não é simplesmente um enunciado romântico, é uma verdade da vida que é preciso dar lugar a outras pessoas. Que a Catarina tenha sido uma heroína para a história do BE neste período, só lhe posso agradecer.

A liderança de Mariana Mortágua será de continuidade? Não há um corte radical?

Não vejo nenhuma razão para que fosse sequer desejável. A Catarina [Martins], o Jorge Costa, o Pedro Filipe Soares, o José Soeiro, a Joana [Mortágua] e a Mariana Mortágua fizeram parte daquela equipa que conduziu a “geringonça” nas negociações do dia-a-dia durante quatro anos e que, depois, reorganizou uma capacidade política de intervenção do BE nas novas circunstâncias. Foram à luta e partilharam esse trajeto. Portanto, há evidentemente uma continuidade política.

No futuro, que BE podemos projetar? Um partido que deve tentar fazer parte de soluções governativas, formar governo? Ou um partido que deve afirmar-se na oposição, como partido de protesto?

O BE tem que insistir em respostas concretas que mostrem o seu conhecimento, a sua capacidade de mobilizar respostas, a sua capacidade de governar.

O BE pode voltar a esses tempos de influência de 2015 a 2019?

Deve voltar e procurar ter uma capacidade muito superior ao que pôde ter nesse tempo porque era um tempo de viragem. Era sair do desastre da troika. Uma coisa é que, em 2015, tenha a prioridade de recuperar cortes em salários, pensões ou no SNS. Outra coisa é responder hoje ao desastre ambiental, à desorganização das cidades, a esta espécie de tragédia da desigualdade. A resposta a essas dificuldades significa que é preciso uma esquerda que se imponha nas respostas concretas, na capacidade de atuação, capacidade governativa.

Nesta convenção, gostava de ouvir uma projeção de objetivos eleitorais?

Com certeza. O partido deve dizer a disputa que quer fazer, como se vai colocar, com que linhas de força, argumentos, resultados, objetivos. Até porque as eleições são uma batalha política importante. Há divisões novas, até um pouco surpreendentes, no campo das esquerdas e no campo político. Há um ano, não esperaria que pudesse haver forças de esquerda que viessem dizer que a Ucrânia não tem direito à autodeterminação. Há política importante para o debate europeu que vale a pena desenvolver.

Catarina Martins pode ser um ativo eleitoral?

A Catarina é muito jovem, terá um papel muito grande e espero que ela venha a ser interveniente política e candidata em outras disputas eleitorais.

E Francisco Louçã, já fechou a porta a candidaturas?

Essa é a pergunta mais traiçoeira de todas porque nunca se pode dizer que não, nem que sim. Gosto muito da luta política. Não tenho nenhuma responsabilidade de direção no BE, que acompanho com todo o gosto e com todo o empenho nos últimos 12 anos, não fui candidato a nada, não tenho nenhuma pena de não ter sido, nenhuma ansiedade por não ter sido, nenhuma ambição de vir a ser e para as disputas eleitorais que estão no horizonte há pessoas tão qualificadas que me dispensam de pensar nisso.

A esquerda deveria procurar um candidato comum às presidenciais?

Nesta eleição, o PS já tem um candidato. É um candidato inviável, mas é um candidato.

Está a falar de Augusto Santos Silva. Por que é inviável?

Não tem a capacidade de juntar o conjunto do povo de esquerda, de o entusiasmar, de o mobilizar e de se mostrar como uma alternativa. Se assim fosse, ao fim de um ano já teria aparecido nas sondagens, já teria dado algum sinal. Não parece que isso possa acontecer.

Admite a possibilidade [de o BE trabalhar com o PS] num cenário em que o PSD e o Chega façam governo?

A esquerda tem que ter força suficiente para que o PSD e o Chega nunca façam governo. Tem que ter capacidade de trabalho. E acho que o BE provou que podia ser assim. O PS quis maioria absoluta para o evitar a todo custo. E evitou-o. Parabéns, ganhou. Estamos no que estamos. E a maioria absoluta está a destruir o PS. Não havia na “geringonça” secretários de Estado que duravam um dia. Agora, há.

Se houvesse eleições antecipadas, prejudicaria o BE?

O BE elegia o dobro dos deputados. Não prejudicava nada. Deve estar preparado, ganharia muito com isso.

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