​Oposição interna no PSD? "Quem quiser pode fazer todos os dias, sentado ou nas redes sociais"

19 jan, 2023 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença) e Liliana Borges (Público)

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, secretário-geral do PSD aponta à maioria absoluta na eleições regionais da Madeira. Hugo Soares fala de Pedro Passos Coelho e afasta a teoria de que existe uma "sombra" do ex-primeiro-ministro no PSD.

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Para o secretário-geral do PSD, as eleições regionais da Madeira só têm um resultado possível: a maioria absoluta para o PSD. Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Hugo Soares fala de Pedro Passos Coelho e afasta a teoria de que existe uma "sombra" do ex-primeiro-ministro no PSD.

Sobre as propostas essenciais para o PSD na revisão constitucional não abre o jogo. E também não diz se o PSD irá voltar a tentar propor a realização de um referendo à eutanásia.

"Não há ruído sequer da oposição interna", diz Hugo Soares, que avisa, contudo, que quem quiser fazer oposição à direção de Luís Montenegro pode fazê-lo "todos os dias, sentado ou nas redes sociais" e também "onde devia" ser feita, ou seja, no Conselho Nacional.

Ao Hora da Verdade, o secretário-geral do PSD atira ainda a Fernando Medina sobre quem diz ser um ministro das Finanças "sem autoridade política" e que está "completamente fragilizado"

Em setembro realizam-se as regionais da Madeira. Nas últimas eleições, o PSD perdeu a maioria absoluta. Agora irá coligado com o CDS. Se não chegar irá virar-se para onde? Para a IL ou para o Chega?

Não me considero presunçoso, mas queria que anotassem o que vou dizer. O PSD vai ganhar com maioria absoluta a Região Autónoma da Madeira. Não tenho qualquer dúvida.

O que é que lhe dá essa convicção?

O trabalho que foi efetuado pelo PSD dá-me essa confiança. Sei também analisar do ponto de vista político o que está a acontecer. E do outro lado temos um PS em degradação. Eu creio que os madeirenses reconhecerão que a estabilidade política faz falta na Madeira, não como o PS que não a sabe usar e usa-a como como um rolo compressor.

O facto de Paulo Cafôfo já não representar a oposição na Madeira também significar mais facilidade em encontrar essa maioria absoluta?

Estando o PS mais fraco e o PSD mais forte, o PSD está mais perto da maioria absoluta.

E se se enganar?

Cá estarei para dar a mão à palmatória. Mas, normalmente, não me engano.

José Silvano foi escolhido para a presidência da comissão de revisão constitucional. Foi secretário-geral na anterior direção. Há aqui uma recuperação de gente de Rui Rio?

No PSD não recuperamos ninguém, contamos com todos de forma igual. Não fazemos perseguição nenhuma, bem pelo contrário. Queremos um partido cada vez mais coeso a contar com todos. José Silvano foi secretário-geral do partido, portanto exerceu funções relevantes dentro do PSD. É um ilustre advogado e tem todas as condições.


Também teve problemas com a justiça...

É verdade e foi absolvido.

O "passismo" assusta a actual direção nacional do PSD?

No início desta caminhada acusavam-nos de sermos muito ligados ao "passismo", agora é o "passismo" que nos assusta. Não, o "passismo" não assusta nada.

Passos Coelho foi tendo algumas posições públicas...

Escreveu um artigo de opinião sobre a eutanásia? Foi uma posição.

Mas foi aparecendo...

Nas redes sociais a almoçar?

Também, e apareceu na Festa do Pontal...

Não notei um ofuscamento. Passos Coelho foi convidado para vir ao Pontal. Fui toda a vida considerado passista. Tenho por ele uma consideração imensa, uma estima inolvidável. Não há nenhuma sombra de Pedro Passos Coelho dentro do PSD. Há um grande respeito do PSD por Passos Coelho.

Será que o PS e os atuais quadros do PS têm o mesmo respeito que eu tenho por Passos Coelho relativamente ao ex-líder deles, o engenheiro Sócrates? E vou dizer mais. Tenho muitas dúvidas que no futuro tenham orgulho de dizer que trabalharam ao lado de António Costa.

Há vontade do PSD de empurrar Passos Coelho para a liderança do PSD?

Eu tenho olhado para o PS e tenho assistido a uma vaga para levar Pedro Nuno Santos ao lugar de secretário-geral do PS.

É idêntico?

Cruzes credo! Não cometo essa ofensa a Passos Coelho. Valha-me Deus. Um foi primeiro-ministro, outro sonha ser. Não há comparação possível. Mas muitas vezes querem pôr o foco em coisas que não existem dentro do PSD para desviar daquilo que vai acontecer no PS. O PSD tem uma liderança eleita há seis meses. O partido voltou a crescer. Não há memória de ter tão poucas desfiliações como teve nestes últimos seis meses. Está próximo das suas estruturas. É o único partido que tem subido, pouco, mas sustentadamente nas sondagens. Na última está em empate técnico com o PS, o que já não acontecia fora do período eleitoral há muitos anos. Não é por acaso que se tenta criar esta confusão interna e quem a quer criar são os adversários do PSD.

PS e Chega são os adversários do PSD?

O Chega também é adversário do PSD, como é o PS, a IL, o BE e o PCP. No propósito político de diminuir o PSD, o PS e o Chega são cúmplices. Há um objetivo comum entre esses dois partidos. Mas o PSD está a aproximar-se do PS. Temos tempo, porque o PSD não quer ser alternativa hoje. Se as eleições forem amanhã, o PSD está preparado para disputá-las.

O PSD e o PS vão ter de entender-se em breve sobre a revisão constitucional. As alterações de fundo vão ficar-se, por exemplo, apenas pela emergência sanitária ou e pelos metadados, ou o PSD espera que esse entendimento possa ser mais alargado?

Se fosse para isso o PSD não entregava o projeto de revisão que entregou. Este projeto é absolutamente diferenciador do PSD e do PS. É transformador e moderno face àquilo que é o modelo de construção de sociedade que o PSD defende. Defendemos que quer o presidente do Tribunal de Contas, o procurador-geral da República ou o governador do Banco de Portugal deixem de ser diretamente nomeados pelo Governo.


Quais são as linhas vermelhas?

Tudo o que lá está é prioritário. Há alguém que não considere que criação do conselho da coesão territorial intergeracional não é fundamental para combatermos a desertificação e despovoamento do interior do país? Que as regiões do interior, que estão cada vez mais despovoadas não possam ter um critério diferenciador na hora de eleger deputados por qualquer dia não têm representatividade parlamentar? Não. Tenho a veleidade de achar que vou fazer aprovar tudo. Se tivermos de fazer algumas cedências ao PS, lamentarei, mas faremos. Mas o PSD não entrará na negociação para uma revisão constitucional mínima a pensar só no nas duas coisinhas pontuais que o PS queria fazer.

Quando o PSD apresentou projeto revisão constitucional houve uma certa narrativa pública de que era um desperdício. Passados dois meses a narrativa já era outra: a de que o PSD não tem ideias. Curioso, não é? No projecto de revisão constitucional há um conjunto de ideias concretas para a vida das pessoas, como o combate à corrupção e à transparência ou o acesso à habitação, à educação e à saúde. O combate ao despovoamento do interior e a desertificação...

Vamos entrar também no processo de substituição do presidente do Tribunal Constitucional (TC). Há mais dois juízes cooptados que estão em processo de substituição há mais de um ano. O PSD vai ter de entender-se com o PS sobre esta matéria?

Os dois líderes parlamentares falarão a seu tempo sobre essa matéria.

O PSD irá insistir na realização de um referendo à eutanásia depois da decisão do TC, que ainda não conhecemos?

O PSD defendeu um referendo à questão da eutanásia por considerar que era a melhor forma de haver uma decisão que envolva todos os portugueses, que seja esclarecida e que possa do ponto de vista da solução legislativa, durar no tempo. A eutanásia não é uma matéria, creio eu que seja suscetível de mudar consoante as maiorias do Parlamento. Vamos esperar pela decisão do TC e a seu tempo voltaremos a falar sobre esse tema, se se voltar a colocar na agenda parlamentar.

Já deitaram a toalha ao chão?

O projeto de referendo não foi admitido pelo presidente da Assembleia da República. Não é o momento de anunciar nada. Vamos esperar pela decisão do TC.

Os equilíbrios dentro do TC podem funcionar a favor daquilo que o PSD quer?

Não faço, não faço rigorosamente ideia.

Fernando Medina está fragilizado no Governo? A auditoria da Inspeção-Geral das Finanças pode determinar que o PSD peça a demissão do Ministro das Finanças?

Quem tem de avaliar as condições políticas dos membros do Governo é o primeiro-ministro e o questionário. O PSD considera que o ministro não tem autoridade política para o exercício das funções que desempenha. Há algum português que ache que tem a não ser o primeiro-ministro e o próprio? Fernando Medina está completamente fragilizado no exercício das suas funções. Não estamos a falar de um ministério qualquer.

Ora, um ministro que se viu envolvido naquele caso caricato da contratação de Sérgio Figueiredo, que dizia que era uma contratação essencial para o exercício das funções que ele queria dentro do ministério e lugar ainda hoje está por ocupar. Se na altura se fazia críticas daquela contratação ter sido um fato à medida, hoje era um fato à medida de grande costura, porque não serviu mesmo a mais ninguém. Em segundo lugar é um ministro que se viu envolvido agora numa polémica que é de uma negligência e de uma irresponsabilidade.

Fernando Medina ainda hoje não foi capaz de dizer quem é que lhe falou na engenheira Alexandra Reis. Vi a audição parlamentar e achei uma delícia. Dizia que esteve uma vez com ela e que a conhecia a do exercício das funções. Mas é assim que se convidam membros do Governo? É com esta leviandade com esta ligeireza? E mesmo que tenha sido com esta ligeireza, ele não teve o cuidado de chegar ao pé da da engenheira Alexandra Reis e dizer: "Olhe, eu queria convidá-la para o Governo. A senhora ainda por cima vai tutelar a TAP e eu queria saber porque é que saiu da TAP e como é que saiu".

Tenho muita dificuldade em acreditar que isto não tenha acontecido. Tenho mesmo. Ele está diminuído politicamente, ele não tem autoridade política. Cada vez que convide agora alguém para determinado lugar, essa pessoa estará sempre diminuída. Ele está diminuído para dar para ter autoridade perante os outros ministros. Portanto, se a pergunta ele tem condições de continuar no Governo, essa resposta cabe a António Costa. O presidente do PSD já teve ocasião de dizer se fosse primeiro-ministro, não tinha autoridade política para continuar no Governo.

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