Hora da Verdade

Jerónimo de Sousa. ​Quase 18 anos como líder “foi uma vida e ninguém é de ferro, mesmo sendo metalúrgico”

22 set, 2022 - 07:02 • Susana Madureira Martins (Renascença) , Maria Lopes (Público)

A possibilidade de a sucessão de Jerónimo de Sousa começar a fazer caminho já este ano adensa-se perante a marcação de uma conferência nacional do partido para novembro.

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Jerónimo de Sousa. ​Quase 18 anos como líder “foi uma vida e ninguém é de ferro, mesmo sendo metalúrgico”
Imagem: Maria Costa Lopes/RR; Fotos: Daniel Rocha/Público

Jerónimo de Sousa assume que a idade já lhe pesa, apesar da vontade ou das forças que tem. Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal 'Público', o secretário-geral do PCP garante que o Comité Central não lhe falou de uma saída da liderança, mas reconhece que 18 anos à frente do partido foi uma vida. “E ninguém é de ferro, mesmo sendo metalúrgico”, diz.

Já se percebeu que a conferência nacional de novembro do PCP será da máxima importância para o partido em termos de estratégia política. É nesta ocasião que se começará a preparar a sua sucessão na liderança?
É um evento que envolverá entre 900 a mil delegados num processo democrático em que os delegados são eleitos por 70 membros do partido. Naturalmente que os temas são as grandes questões da atualidade, a sua evolução no plano nacional e internacional, a situação que vivemos, a aproximação do OE. Estamos num momento importantíssimo para a realização desta conferência a par da importância de outros dois vetores: o reforço do partido, da sua organização e intervenção e iniciativa; e, tendo em conta a gravidade da situação económica e social, a mobilização para a Ação, iniciativa e luta, tendo em conta os problemas sérios que atingem vários milhões de portugueses que, neste momento, estão aflitos com a sua vida, com apreensão profunda sobre os seus salários, pensões e pequenos negócios. Isto, naturalmente, justifica um afinamento de perspetiva. A ideia é mobilizar para a luta e a ação em torno de busca de melhores condições de vida.

Não respondeu exatamente à pergunta sobre se a conferência nacional pode servir para o anúncio da sua sucessão.
A culpa foi minha, não entendi parte da pergunta. Mas em relação à conferência, reduzi-la a essa questão não é uma visão correta do que se pretende com ela. Em primeiro lugar porque envolve milhares de militantes e amigos do partido nessa avaliação, análise tendo em conta perigos, dificuldades, problemas. Esse é o mérito. Podíamos resolver com uma reunião do Comité Central, mas não; quisemos ir mais longe porque, indo mais longe, mais envolvimento dos militantes e do nosso coletivo partidário pode afirmar-se.

Sobre o secretário-geral, todos estamos de acordo: um dia será. E eu não sou eterno, mas não pense na questão de estarmos ou não a substituir. Do que estamos a tratar agora é de uma conferência com uma componente política partidária muito forte. O secretário-geral aceita a responsabilidade que o Comité Central lhe atribuiu e, nesse quadro, há de compreender que neste momento estou virado para intervir, dar uma contribuição para trabalhar para que a conferência seja um grande êxito.

A questão é: até quando? Porque já disse aqui, há dois anos, que o melhor era fazer a tripla: sai, fica ou fica mais um bocadinho. Não saiu neste entretanto. Esse bocadinho cumpre-se este ano? Obviamente nesta matéria, como disse, não somos eternos. Naturalmente eu tenho a consciência de que a vida, a questão da saúde, pode ser um fator subjetivo, mas não é.

E viu-se isso na campanha das legislativas. Começa a pesar-lhe?

Não há volta a dar. Não digo que estou aqui fresco como uma alface, mas o que posso afirmar com grande convicção é que procuro responder totalmente àquilo que a direção do meu partido procura. Em termos de avaliação da situação nacional, internacional, em termos da situação no partido, das suas iniciativas, continuo, em termos de agenda, a ter uma ação permanente. Tenho também de dar a minha contribuição no plano da Assembleia da República como deputado.

Tenciona manter-se até ao final da legislatura como deputado?
Há sempre motivos para afirmar que não há certezas absolutas nesta vida. Obviamente pesa: tenho os anos que tenho. Mas reparem na contradição do ser humano: ninguém quer ser velho, mas todos fazem para lá chegar. Portanto, a relatividade e a própria precariedade da vida são sempre determinantes independentemente da vontade e das forças do momento. Estou com grande tranquilidade. Um dia, naturalmente, acontecerá essa substituição. A questão é se é mais cedo ou se essa data ainda estará um bocadinho mais longe do que os próximos meses ou ano. A questão não me foi colocada pelo Comité Central nem pela direção do partido em termos de organismos executivos.

E foi-lhe colocada por alguém?
Não. Em termos do militante, houve manifestações de simpatia e preocupação em relação à saúde, mesmo de muitos democratas, deputados que se me dirigem com incentivo até. Mas as leis da vida é que determinarão.

E no sentido inverso: o Jerónimo de Sousa colocou essa questão ao Comité Central?
Não, não coloquei. Vou avaliando, analisando e aquilo que sinto é um grande estímulo, camaradagem, até afeto de muitos militantes e dirigentes do partido que consideram importante continuar. Mas insisto muito nesta ideia: o comité central não colocou nem eu coloquei a questão de uma saída. Mas um dia será. Quase 18 anos como secretário-geral do partido com vitórias, derrotas, recuos, avanços... Foi uma vida e ninguém é de ferro, mesmo sendo metalúrgico.

No domingo disse que estamos a viver “um período muito difícil e muito apertado”. O que é isso de tempo apertado?
Tendo em conta a situação que vivemos hoje, quem não estiver preocupado, está distraído.

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