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Hora da Verdade

Diogo Ayres Campos: "Recurso a privados? Espero bem que não"

23 jun, 2022 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença), Ana Maia (Público)

Nomeado há uma semana para a comissão de acompanhamento de acompanhamento de resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e bloco de partos, o médico e director do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Maria, em Lisboa admite recorrer aos hospitais privados, mas confessa que não está "convencido que será uma grande solução" e prefere "sobretudo apostar na resposta do SNS"

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Diogo Ayres Campos prefere que não seja necessário recorrer aos privados
Diogo Ayres Campos prefere que não seja necessário recorrer aos privados

Em entrevista ao programa Hora da Verdade da Renascença e do jornal Público, Diogo Ayres Campos reconhece que "é preciso adaptar" os actuais serviços de obstetrícia do SNS "à realidade", mas discorda da recente tese do Presidente da República sobre a necessidade de uma "grande reforma". ´

Mais do que isso "são precisas reformas frequentes à medida do tempo em que as coisas se vão alterando". Sobre o futuro da ministra da Saúde, que o convidou para presidir à comissão, diz que "todos estamos a prazo no nosso lugar"

O Presidente da República dizia que é preciso uma reforma de fundo no SNS. Concorda que é preciso uma reforma estrutural na área da saúde?

Ficou a ideia que no final dos anos 1980 do século passado os cuidados obstétricos eram fantásticos e que tínhamos indicadores fantásticos. E é verdade, na altura tínhamos. Mas não se faz uma vez e fica para o resto da eternidade. É preciso adaptar à realidade. A medicina privada cresceu imenso, criou stresses diferentes aos médicos do SNS, pressões em termos de ofertas e ou nos adaptamos ou vamos ser engolidos por aquilo que é a evolução natural da espécie humana que nunca pára. Mais do que estar a fazer uma grande reforma, acho que são precisas reformas frequentes à medida do tempo em que as coisas se vão alterando. É preciso fazer as reformas na altura certa.

Os privados são uma necessidade para ajudar neste momento o SNS a ultrapassar estes constrangimentos?

É uma hipótese que está em cima da mesa. Se estou convencido que será uma grande solução, não tenho, neste momento, uma certeza. Para a semana já poderei dizer isso com mais informação, porque depende do número de contingências que estiverem previstas para estes próximos meses. Se houver muitas contingências e se forem todas ao mesmo tempo, os hospitais de fim de linha podem ficar sobrecarregados.

Nessa situação particular, a hipótese dos hospitais privados pode ser posta em cima da mesa. Se isto vai acontecer, espero bem que não. Até porque a resposta dos hospitais privados, geralmente, é uma resposta muito individualizada ao médico. Não há grandes equipas na maior parte dos hospitais privados, pelo menos do que conheço, que dão apoio a pessoas que vêm do exterior.

Tanto quanto percebi, a oferta é mais para os fins-de-semana. Se houver uma situação de contingência poderá ser uma opção, mas temos de ver. Acho que vamos sobretudo apostar na resposta do SNS, na resposta concertada. Muitas vezes falamos de funcionar em rede, mas isso implica transferir grávidas. É um mal menor quando não há outra solução, mas nenhuma grávida gosta de ser transferida em trabalho de parto de um hospital para outro. Vamos tentar evitar ao máximo que isso aconteça. Se não for possível, então faremos as transferências. E se não houver solução dentro do SNS, então iremos contactar os hospitais privados.

Diogo Ayres Campos. "Todos estamos a prazo" sobre a saída de Marta Temido
Diogo Ayres Campos sobre a saída de Marta Temido

Como vê o facto de tantos partos na região de Lisboa e Vale do Tejo já serem feitos por privados? Não é o mesmo que acontece no Norte.

Não é, mas tem vindo aumentar no grande Porto e também em outras grandes cidades onde têm crescido hospitais privados. Há uma pouca atractividade do SNS não só para os médicos e para os enfermeiros, mas às vezes também para as grávidas. A grande maioria dos hospitais não tem obras há 30 ou 40 anos.

No meu hospital há zonas do meu serviço que não têm obras desde que o hospital foi aberto. Não se tem apostado nessa área nos últimos tempos. Uma coisa que é importante é que com ordenados muito mais atractivos, a medicina privada também tem a capacidade de ir buscar bons médicos e bons enfermeiros. As equipas têm sido muito depauperadas de bons elementos ao longo destes anos por causa disso.

Tem havido pedidos de demissão da ministra da Saúde. Acha que foi convidado por uma ministra que está a prazo?

Acho que todos estamos a prazo no nosso lugar. Penso que a ministra tem muito boas intenções em relação à reforma do SNS e tive oportunidade de falar com ela antes da pandemia e de atestar essas boas intenções e a preocupação que havia em relação aos cuidados obstétricos.

Foi poucas semanas antes da pandemia e admito que ela esteve concentrada na resolução da pandemia. Foi importante para o país e a forma como foi gerida, de uma forma geral, foi bastante positiva. Independentemente do partido político e do ministro que está, acho que os médicos querem fazer parte da solução e é essa a minha posição sempre. Sempre que for possível contribuir para alguma coisa que seja necessário, terão com certeza o meu apoio.

Hora da Verdade com Diogo Ayres Campos
Hora da Verdade com Diogo Ayres Campos
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  • Americo Anastacio
    23 jun, 2022 Leiria 14:17
    Outro com pancada ideológica.

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