Siga-nos no Whatsapp

Geração Z

O que têm os jovens de saber sobre as eleições dos EUA?

08 nov, 2024 - 18:00 • Alexandre Abrantes Neves

Trump roubou votos a Kamala? O que cada um fez de bem e de mal? A eleição não ia ser renhida? Os últimos dias têm sido de teorias e leituras sobre as eleições norte-americanas, mas afinal o que se vai passar nos EUA e no mundo? Eis cinco perguntas para compreender os próximos quatro anos - "os mais importantes do século".

A+ / A-
O que têm os jovens de saber sobre as eleições dos EUA?
Ouça aqui o episódio especial. Foto: Rodrigo Machado/RR

Os próximos quatro anos vão ser “os mais decisivos do século”. O voto por unanimidade é feito pelo painel de participantes do episódio especial do Geração Z, da Renascença e EuranetPlus, sobre as eleições dos Estados Unidos da América (EUA).

Quatro anos depois, Trump está de regresso à Casa Branca e, nos últimos meses, as teorias e análises sobre o futuro da Sala Oval acumularam-se, com demasiadas visões e leituras para compreender facilmente as razões que levaram a este resultado e os significados políticos desta vitória.

Por isso, esta semana propomo-nos a fazer um impeachment a todas as dúvidas e a abrir a urna de motivos que levaram mais de 140 milhões de pessoas a participar nestas eleições.

A partir de cinco questões, Maria Luísa Moreira, Mafalda Pratas e Manuel Poêjo Torres, analistas e especialistas em geopolítica internacional, montam um pequeno senado jovem, sub-40, para tentar responder a cinco perguntas: o que correu bem a Trump, onde falhou harris, o que podem esperar os EUA, o que vai mudar no resto do mundo e ainda tentam esclarecer as falhas nas sondagens.

O que correu bem a Trump em 2024 que não tinha corrido em 2020?

Na perspetiva de Maria Luísa Moreira, a subida de votos em Trump em comparação com 2020 deve-se a uma combinação de dois fatores: a já conhecida “capitalização dos medos e preocupações da inflação e da economia”, mas também por ter conseguido “lavar a imagem”.

Manuel Poêjo Torres alinha-se nesta leitura, nomeadamente quando se pensa em “conduzir autocarros do lixo de fato ou fritar batatas fritas no McDonalds”. E este destaque mediático fê-lo aproximar-se do eleitorado naturalmente afastado dos Republicanos, como migrantes e latinos.

“Este eleitorado tem baixos rendimentos e baixa educação e é assim que Trump em 2024 conquista a maioria dos Estados. Houve uma série de casos criminais e judiciais que afastaram o eleitorado de 2016 com altos rendimentos, mas foi substituído. Esta eleição também foi uma batalha de classes”, assinala.

Nestas contas eleitorais, também os jovens, nomeadamente homens foram uma importante soma para Trump. Mafalda Pratas é rápida a resolver a equação e a chegar à solução para que isto acontecesse: “as redes sociais e a imagem aspiracional, de homem bem-sucedido”.

Onde é que Kamala falhou?

Uns culpam mais Kamala, outros Biden, mas em uníssono apontam a “impreparação do Partido Democrata”. Maria Luísa Moreira não compreende a “falta de estratégia” da administração Biden em preparar a sucessão.

Não sinto que o Partido Democrata tenha feito um ‘assessment’ do que está a correr bem ou mal. Deixaram Biden avançar com a candidatura, que depois recuou e tudo isso dificultou a vida a Harris. Temos uma candidata mal definida versus uma candidatura populista com mensagens fortes”, aponta.

Na visão de Mafalda Pratas, este cenário fez com que as “eleições estivessem praticamente decididas 'a priori'” e o facto de Harris “não ser a primeira escolha de ninguém” impediu-a de arranjar uma estratégia que a permitisse inverter este cenário.

Sobre o pouco destaque a temas económicos, Manuel Poêjo Torres afirma que seria “muito difícil” vermos Kamala a posicionar-se contra as decisões de Biden nos últimos quatro anos. Na perspetiva do antigo gestor de projetos da NATO, Kamala vai continuar uma “oposição direta e dura”, mas vai ver-se obrigada a “voltar às bases do partido” – e tudo porque “se focou demasiado na descredibilização de Trump”.

Que consequências vamos ver para o mundo?

Nos últimos dias, a Ucrânia tem sido o foco de muitas leituras de consequências da vitória de Trump.

Manuel Poêjo Torres alerta que é provável que a Ucrânia seja empurrada para negociações de paz com a Rússia numa posição de desvantagem – e sugere que uma das grandes mudanças com Trump pode ser a subida dos juros nos empréstimos feitos a Kiev. Mas são tudo cenários onde Biden ainda pode interferir.

“Não podemos ignorar que Trump só vai começar a governar a partir de 20 de janeiro. Biden ainda tem espaço de manobra para equilibrar a balança, permitindo que Zelensky não capitule já e que vá para negociações numa posição de vantagem”, defende.

Quanto ao Médio Oriente, Mafalda Pratas recusa que a nova cadeira da Sala Oval vá fazer o Irão levantar-se da mesa e ameaçar uma guerra com os EUA – mas vai levar a um possível acordo de cessar-fogo “mais favorável a Netanyahu”.

Quem também pode sair beneficiado em parte é a União Europeia. Porquê? Obriga Bruxelas – nomeadamente Portugal – a reforçar o sistema de defesa e a “acelerar” a meta dos 2% do PIB para a defesa, defende Maria Luísa Moreira, fundadora da plataforma “The Gender Diplomat, dedicada a discutir temas do xadrez de defesa internacional.

Os Estados Unidos vão mudar muito?

A vitória categórica de Trump (presidência, Senado e Câmara dos Representantes) dá-lhe facilidade em mudar questões base do aparelho norte-americano. Manuel Poêjo Torres assinala que até é “matematicamente possível” mudar o limite de dois mandatos presidenciais – o que poderia ser “um contágio perigoso” para a Europa.

De forma semelhante, Mafalda Pratas destaca e critica que a administração Trump pode trazer “desregulação no domínio da inteligência artificial” e naquilo que exigimos às empresas.

Mas para Maria Luísa Moreira o principal problema prende-se mesmo com a tensão social, que pode acentuar-se nos próximos anos.

“Termos dois partidos e duas campanhas de trincheiras e lamaçal político, com zero debate construtivo. Chegou-se a chamar esta eleição uma batalha de sexos. Essa polarização a nível social também me preocupa, em temas como alterações climáticas, direitos humanos, a estabilidade da paz e das democracias liberais”, prevê.

Os resultados foram surpreendentes porquê, face às sondagens?

Resposta rápida e direta para Mafalda Pratas: quem vota em Trump normalmente participa em sondagens a contragosto.

“Eram sondagens que tinham muita modelagem em cima, para tentar corrigir as falhas. Porquê? Porque as sondagens não conseguem captar o eleitorado de Trump. Não gosta de responder às sondagens associadas muitas vezes a universidades e a jornais”, explica.

Poêjo Torres realça que “sondagens são sempre sondagens” e que era preciso haver um “encontro estes estes dois campos de trincheira política”. Mas então é possível corrigir estes erros? “Infelizmente não. Estes dois líquidos não se misturam”, remata.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+