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Metamorfoses da Europa à sombra da guerra

05 mai, 2023 - 22:27 • José Pedro Frazão

A Orquestra Filarmónica Portuguesa está a percorrer várias cidades portuguesa com um ciclo de concertos dedicados à Europa. Dirigida pelo maestro Osvaldo Ferreira , a orquestra percorre as cidades de Lisboa, Santa Maria da Feira, Guarda, Castelo Branco, Porto e Faro, antes de fechar a minidigressão na Filarmonia de Berlim.

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A mais de três mil quilómetros de Kiev, a cidade da Guarda recebe no próximo dia da Europa, 9 de Maio, um concerto que exalta a Europa apesar da guerra que a fustiga de novo. A Orquestra Filarmónica Portuguesa está a percorrer várias cidades portuguesas com os "Concertos da Europa" em torno do conceito de "metamorfose", que tanto serve para o amor como para um continente.

Osvaldo Ferreira, diretor artístico e maestro desta orquestra criada em 2016, explica que o tema foi pensado em 2021 , propondo uma criação encomendada ao escritor Alexandre Honrado e à compositora Sara Ross a propósito do mito fundador da Europa.

"Nasce da mitologia de que Zeus se trasveste de touro branco e seduz a deusa Europa num campo de flores e cria para ela um território. Dois anos depois de ter sido pensado, rebentou uma vez mais uma guerra num território que não sabe o que é ter paz durante muitos anos consecutivos. A história da Europa é esta. A obra pergunta se isso é ficção ou realidade e cruza-se com outra obra chamada “Metamorphosen “ de Richard Strauss. Foi escrita no ocaso da segunda guerra mundial e era também um questionamento a essa Europa que se afundava e a uma Alemanha que se desmoronava", descreve o maestro da Orquestra Filarmónica Portuguesa.

A estreia mundial da obra de Sara Ross, intitulada “Europa - Metamorfoses de Amor”, apresenta-se nos solos da soprano Ana Maria Pinto , que representa Europa, e do barítono Miguel Maduro Dias que interpreta o “Zeus narrador”. O programa inclui ainda o concerto em Si menor, Op. 104, de Dvořák , com os solos dos violoncelistas Benedict Kloeckner e Jed Barahal.

" Não faz sentido cancelar a música russa"

O maestro Osvaldo Ferreira acredita que a cultura pode ser uma proposta de paz numa Europa perturbada pela guerra, ainda que existam pulsões para censurar as artes que vêm da Rússia. O diretor artístico da Orquestra Filarmónica Portuguesa argumenta que , na sua maioria , artistas que são cidadãos de países em guerra são os primeiros a apelar à paz.

" Quem trabalha com artes sabe perfeitamente distinguir uma coisa da outra. A Rússia dos artistas é a Rússia de que todos gostam. Quando dois países entram em guerra, não é uma batalha entre pintores e escultores ou de encenadores contra cantores de ópera. Cancelar o talento dos russos não fará entrar um indivíduo chamado Putin num modo de paz. Mas talvez sirva para chamar a atenção de que há formas mais civilizadas e inteligentes de convivermos uns com os outros. Não faz sentido cancelarmos a música de Tchaikovsky porque não foi ele que invadiu a Ucrânia", insiste Osvaldo Ferreira, defendendo que a guerra é normalmente desencadeada por fatores políticos.

O ciclo de concertos pela Europa termina na Filarmonia de Berlim, no dia 7 de Junho. Até lá a Orquestra Filarmónica Portuguesa passa por Lisboa, Santa Maria da Feira, Guarda, Castelo Branco, Porto e em Faro onde realiza dois espetáculos a 19 e 20 de Maio, encerrando a parte portuguesa desta digressão.

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