25 jan, 2025 - 10:02 • Sandra Afonso , Arsénio Reis , Lara Castro (vídeo)
O fundador e CEO do grupo BEL, Marco Galinha, foi um dos poucos portugueses convidado para assistir à segunda tomada de posse de Donald Trump, onde marcaram presença antigos presidentes, dignitários estrangeiros, celebridades e vários multimilionários.
No regresso de Washington, o empresário português defende que os europeus não devem ter receio deste segundo mandato do Republicano. Em entrevista à Renascença no programa Dúvidas Públicas, Marco Galinha garante que “Donald Trump precisa da Europa para ter sucesso”.
Destaca ainda a posição de Portugal que, como um dos países europeus que tem a melhor relação com a nova administração na Casa Branca, está numa situação privilegiada e tem muito a ganhar com esta proximidade à presidência de Donal Trump.
Marco Galinha não considera Donald Trump um extremista, diz que "está a ser um extremista para um país moderado", o objectivo final, e elogia a faceta de comunicador e negociador de Trump.
O acionista da Global Media diz já ter injetado no grupo de comunicação social 30 milhões de euros e ainda espera recuperar o dinheiro. A GM está agora reduzida a meia dúzia de títulos, depois de ter vendido a TSF e o JN, entre outros, a um grupo de empresários. Conta agora com o Diário de Notícias, o Açoreano Oriental, o Dinheiro Vivo, o DN Brasil, o Motor 24, o Men's Health e a Womens's Health.
Nesta entrevista, Marco Galinha reafirma o interesse em desinvestir na comunicação social, mas admite que a GM já está enxuta. Ainda assim, não fecha a porta à entrada de dinheiro fresco e admite que há um investidor internacional interessado no "New York Times português", o Diário de Notícias.
Garante que hoje a Global Media está numa boa situação, apesar de ter perdido 60% das receitas, também se livrou de 90% dos problemas e não tem dívidas.
Dúvidas Públicas
Marco Galinha já estudou as contas do Benfica ao p(...)
Critica a falta de apoio às empresas de media, não só em Portugal mas em toda a Europa, o que dá espaço às redes sociais para crescerem. Lembra que a comunicação social é serviço público e não entende "porque são particulares, sempre a perder dinheiro, a fazer serviço público".
Avisa que há muitas empresas do setor em risco, o jornalismo livre e a própria democracia estão em causa. Elogia o plano do governo para a Comunicação social mas lembra que ainda não é suficiente e é preciso executá-lo.
Marco Galinha não se arrepende de ter entrado no negócio dos media, mas diz ter sofrido represálias, depois de ter acabado com o domínio de um partido político nos órgãos de comunicação.
Já chegou a dizer que aos 50 anos estava preparado para passar a direção do grupo BEL. A data aproxima-se mas, antes disso, tem uma oportunidade para abraçar um novo desafio: a presidência do Benfica.
Tem sido apontado como possível candidato a sucessor de Rui Costa. Nesta entrevista à Renascença não fecha a porta e até diz que já analisou as contas, mas faz depender uma candidatura do apoio da família.
Marco Galinha assegura ainda que não é o testa de ferro de Luís Filipe Vieira e lamenta que sempre que são citados apoiantes da sua alegada candidatura são homens ligados ao ex presidente.
A Rui Costa, atual presidente do clube da luz, deixa elogios, mas enquanto jogador. Não lhe reconhece mérito na área financeira.
Marco Galinha foi o entrevistado desta semana do programa da Renascença Dúvidas Públicas, que é publicado aos sábados e fica disponível no site e em podcast.
Acaba de regressar dos Estados Unidos, onde foi um dos poucos portugueses a acompanhar a tomada de posse de Donald Trump. Podemos concluir que apoia a política proteccionista do novo Presidente norte-americano?
Gostava de responder de outra forma. Donald Trump, na presidência que teve, tem um excelente resultado da economia e, especialmente, acho que foi o único Presidente na história dos Estados Unidos que não começou uma guerra. Isso é uma coisa muito positiva.
Considero que o Presidente dos Estados Unidos é um exemplo de liderança, claro que isto gera muitas polémicas, e também considero que é um "negotiator" (negociador), não é um "terminator" (quem conclui). Tem uma forma muito diferente de abordar os temas, devemos estar a falar de um dos melhores especialistas de comunicação do mundo, uma comunicação muito disruptiva com aquilo que nós conhecemos.
Concordo com a maioria das políticas dele, mas também concordo que nós temos de trabalhar todos em conjunto. Quero acreditar que ele vai trabalhar com a Europa e que vamos fazer o que é necessário para este planeta funcionar.
Como olha para os receios de economistas, empresários, decisores políticos e, em particular, da Comissão Europeia, sobre este segundo mandato de Trump?
Eu acho que isso não se põe. Temos de ter esperança e acreditar que se usem os canais de comunicação certos para dialogar com o Presidente dos Estados Unidos e que a Europa atinja os objetivos.
Agora, não se faça como vi chamar-lhe nomes no Parlamento Europeu. Um deputado da Dinamarca, salvo erro. O Donald Trump, se fosse um desportista, era um campeão do mundo do pugilismo. Não é propriamente a melhor maneira de o abordar.
Ele é uma pessoa resiliente, não podemos esquecer que o sistema tentou fali-lo, o sistema tentou prendê-lo e o sistema tentou matá-lo. Os processos começaram a ser mediáticos e a não ser julgados nos tribunais, o Donald Trump estava de todas as formas a tentar ser incriminado e a ser julgado.
Mas ele levou as discussões para a praça pública.
Sim, foi uma maneira de defesa, porque 99% dos jornais só o atacavam. Aliás, o mesmo aconteceu na Europa.
Também pode haver quem diga que o sistema não o conseguiu prender, não o conseguiu julgar, não o conseguiu apanhar, não conseguiu impedir que ele fosse eleito novamente presidente de um dos maiores países do mundo.
Toda a gente fala do Donald Trump, mas ninguém está a falar nos perdões que o Biden deu à família total.
Também se falou bastante nestes últimos dias.
Eu não vi isso com a mesma força e com a mesma intensidade. Acho que há uma parcialidade sempre para o atacar e não é assim que vamos chegar lá. Não me lembro de ler uma notícia positiva de Donald Trump nos últimos cinco anos, na Europa. E eu sou europeísta convicto, amo a Europa e a Europa é o melhor projeto de paz do mundo.
A diplomacia, e os empresários têm que trabalhar muito bem também a diplomacia, é tentar perceber o que se passa do outro lado. Porque a versão que eu contro do outro lado é completamente diferente.
"Donald Trump precisa da Europa para ter sucesso"
Acha que não vai mudar quase nada no relacionamento entre os Estados Unidos e o União Europeia?
O Donald Trump, os seus genes são europeus, eu acho que ele precisa da Europa para ter sucesso.
Mas também acho que a Europa viveu uma onda de wokismo, uma coisa assustadora. E a América também.
Ainda há pouco, a minha miúda teve que ir a um hospital nos Estados Unidos e aconteceu uma coisa inacreditável. Estava a preencher a minha relação com a miúda e li 50 nomes para preencher o meu género. Feminino e masculino estava cá em baixo. Sou um respeitador das orientações sexuais das pessoas, não tenho mesmo nada contra. Agora, não distorçam a meritocracia.
Os Estados Unidos chegou a um ponto onde não havia volta a dar. Eu sei de pessoas que votaram 5 vezes nos Estados Unidos, porque era proibido mostrar a identificação. Para comprar um bilhete para um jogo de futebol, para um concerto de música, precisamos de cartão de crédito. Aquilo chegou a um limite tão pesado, tão pesado, tão pesado, que as pessoas revoltaram-se.
A eleição dele (Donald Trump) também é um grito de revolta para alguém que mude um sistema que estava a apodrecer.
É a sua explicação para a reeleição de Donald Trump?
Conseguiu passar uma mensagem única que chamou a atenção e tocou o coração das pessoas. Desde os problemas da fronteira, pôs a economia no topo da agenda, não pôs o aborto.
O que é que nós esperamos do futuro de um país em que a agenda de um partido é o aborto? E no outro era a economia. Isto era óbvio. Os americanos não estavam, de facto, no seu perfeito juízo, se escolhessem outro líder. Escolheram a versão da economia, que foi o que mais lhes agradou.
"Qualquer partido que se anda a extremar numa determinada direção está a ser inimigo de Portugal". A frase é sua, em entrevista ao Expresso. Está contra extremismos cá dentro, mas fora do país não há problema? Ou não considera a política de Trump radical?
Eu costumo dizer uma frase que enquadra aí. Eu sou um extremista para um país moderado. Ou seja, eu estou disposto a extremismo para ter o país moderado. Eu não considero o Donald Trump extremista.
Extremar para equilibrar?
Nós temos que extremar para equilibrar. Nós nunca podemos permitir que não tenhamos um país moderado. E acredito seriamente que é isso que Donald Trump está a fazer. Está a ser um extremista para voltar a ter uma América moderada.
Em Portugal, como é que se enquadra esta visão?
Eu não encontro que Donald Trump não seja amigo de Portugal. De forma alguma. Não vejo isso em lado nenhum, que ele não seja amigo de Portugal. Pelo contrário. Portugal hoje tem uma relação única com a administração dele.
Acha que vai ser possível manter essa relação?
Não tenho a mínima dúvida que sim. A não ser que se ofenda ou que se crie algum contratempo da forma dele ver o mundo. Acho que Portugal hoje é dos países melhor colocados na Europa, com comunicação excelente com a administração Trump.
Foi convidado pelo próprio Donald Trump para assistir à tomada de posse?
Não, fui convidado pela empresa dele, uma rede social que criou, porque toda a equipa, direção e ele próprio estavam a ser bloqueados nas redes sociais. Decidiram criar um projeto de liberdade de expressão.
O que pode Portugal ganhar na relação com os Estados Unidos?
Nós somos o país mais próximo dos Estados Unidos. Nós somos o país que tem este novo mundo que se está a desenhar entre a Europa e os Estados Unidos. Eu acredito que vão a trabalhar em conjunto.
Nós temos as ilhas centrais, nós temos as plataformas centrais. O nosso país pode ser muito pequeno territorialmente, mas tem uma alma enorme que está presente em todos os continentes do mundo. A ligação a África, ao Brasil, a Macau. Nós só temos coisas a ganhar. Portugal é um país muito grande em termos de ligação. Agora, é preciso haver boa vontade em todas as direções.
Nos Estados Unidos, reuniu-se com o André Ventura?
Nunca. Não. Nem o vi.
Pergunto porque há sempre quem esteja disponível para dizer que é muito próximo do Chega. Essa relação existe?
O meu irmão é um dos fundadores do partido. Isto vindo de uma pessoa humilde, da Benedita, da Serra dos Candeeiros, causa muito mau estar aqui nas elites de Lisboa. Porque eu não sou filho da mãe do Paulo Portas, nem do irmão dele. Infelizmente, sou de uma família muito humilde, e isso é muito atacado, porque não é possível em sete irmãos ter um do Chega. Aliás, a minha família só tem um, em sete. Estatisticamente, o país tem mais. Um self-made man é muito mal visto aqui nas elites.
Porque é que entrou no negócio dos media?
Foi a pessoa mais importante deste país, por quem tenho enorme estima e consideração. Fui chamado a resolver esse problema (Global Media), se havia essa possibilidade, não me forçou em nada. Não vou dizer o nome, há várias pessoas importantes neste país. É deselegante.
Foi o próprio Presidente da República?
Eu não disse quem era a pessoa. Iam 700 pessoas para o olho da rua na semana seguinte. Não havia dinheiro para pagar salários naquela semana. Não havia um euro.
Como é que resolveu, injetou dinheiro?
Infelizmente, os problemas eram muito maiores, estavam coisas escondidas debaixo do tapete. Houve um grande sacrifício para resolver aqueles problemas todos, da minha vida, da minha família, de todos nós, e conseguimos de uma certa forma equilibrar minimamente aquela estrutura. Era um Titanic a meter água por todos os lados e muitos violinos a tocar e nós conseguimos que não afundasse.
Pode dar-nos uma ideia de quanto é que já investiu até agora e já perdeu?
O termo perder é muito relativo. Se o país ficou com menos wokismo e com menos controle mediático, acho que só ganhei. Porque eu também ganhei. Tornei aquele grupo mais isento e com mais liberdade democrática, em termos de jornalismo.
Com guerras pelo meio à conta disso.
Com guerras pelo meio muito caras, para a minha vida e para a minha família, que foi acusada de tudo e mais alguma coisa. Havia um monopólio e um partido político que manda nos media. Os jornalistas não gostam de abordar essa questão, com medo de represálias. Mas eu assumo-a, sem qualquer problema. Havia ali um sistema de controle da redação, de madrugada, para fazer a agenda da TSF. Isso comigo mudou tudo.
Acabaram os políticos a serem pagos para escrever nos jornais. Partidos que tinham feito a exclusividade da profissão no Parlamento. O próprio partido que fez andava a receber dinheiro de grupos de media.
Eu fiz isso, não porque quis, foi uma imposição na altura de uma aquisição que estava a fazer nos Estados Unidos e, muita gente não sabe, mas um empresário nos Estados Unidos com investimento pode ser detido a fazer pagamentos a políticos noutra participada qualquer. É de lei lá.
Mal cheguei a Portugal, reuni os meus administradores e tomei essa decisão. Se calhar devia ter tido mais calma. Foi um episódio muito desagradável da minha vida, que me causou muitos problemas. Vim a ganhar muitas ações em tribunal à conta disso.
Já se tentou várias vezes regulamentar o lobby em Portugal, acha que é uma das grandes falhas do sistema?
Sinceramente acho. Se calhar nada disto acontecia.
Quando diz que foi perseguido, foi perseguido pela classe política?
Não, não, não. Fui perseguido por jornalistas. Passaram quatro anos, onde está o oligarca Marco Galinha? O presidente Trump foi acusado exatamente da mesma coisa, porque há muita malvadez no sistema. Infelizmente, o sistema tem um cancro e tem que ter radioterapia.
Quer traduzir?
A comunicação social tem gente muito boa, que infelizmente hoje estão muito mal por causa das pessoas más. Eu não tenho uma pessoa no grupo que eu tenho com tanta dedicação, com tanta vontade de lutar, de fazer coisas. Pessoas únicas, que trabalham ao domingo ou sábado. Essas pessoas merecem muito mais. (19:35) E o que eu senti é que as pessoas más destruíam o valor das pessoas boas, porque põem em questão às vezes as marcas com coisas encomendadas.
Eu comprei a maior refinaria do mundo, na Finlândia. Tinha um sócio que queria comprar a minha parte e tinha que pagar uma quantia muito grande, por causa de um acordo parassocial. Sabe o que é que ele fez? Pagou a uma agência de comunicação. Eu recebia mails às 19h30, para responder a 50 perguntas antes do fecho do jornal. No outro dia era capa.
Tive que chegar a um acordo com ele, desistir das ações judiciais e dar-lhe a empresa dada. Porque eu processava constantemente os jornais.
Não se defendeu?
Sabe como é que eu me defendi? Investi também no jornalismo, tornei-o melhor, mais transparente. Isto é um dos pilares mais importantes das democracias. No dia em que acabar o jornalismo livre, estão condenadas as empresas, como está o meu grupo, estão todas. Porque eu não acredito num mundo que funciona sem um jornalismo livre.
Ainda não nos deu uma ideia de quanto é que investiu na Global Media?
Ia lá chegar. Aproximadamente 30 milhões de euros. Entrou lá esse dinheiro. Repare, entretanto, depois foi vendida, depois foi comprada, mas o que aquilo carburou, que gastou, foram 30 milhões de euros.
Recuperou tudo o que investiu?
Não, não, não. Não, mas acredito que vou recuperar. Por duas formas. Tenho um país mais livre, mais independente, e o grupo que eu represento, que tem quase 0,5% do PIB português, também está melhor. As empresas que querem crescer, também estão melhor. Eu hoje acho que é quase impossível fazer esse tipo de jornalismo de encomenda, chamado jornalismo de envelope.
E como está a situação financeira da Global Media?
A Global Media, não sei se hoje não é um dos grupos na melhor situação financeira em Portugal. É uma empresa sem dívida nenhuma bancária. A tempestade que enfrentou caiu completamente, que é 60% da receita. Isso torna muito mais difícil a gestão da empresa, mas diria que está com menos 90% de problemas que o que tinha no passado.
Mantém a intenção de reduzir a exposição aos media? Ou seja, vender?
Mas eu já reduzi quase ao máximo. Eu já não tenho controle.
Quer dizer que já não vai vender mais?
Não disse isso. Eu sempre disse que estava em desinvestimento nos media. Mas também não posso permitir que qualquer acionista entre, até por experiência do que aconteceu no passado. É bem possível que entre mais um investidor nas marcas da Global Media. Um grande player da Europa.
Já têm interessados?
Temos. Estamos a falar do New York Times português. Agora, não vou é permitir que seja um projeto que não seja completamente credível ou à prova de bala.
Desta vez sabe quem são os donos?
Isso é uma falsa questão. Alguém conhece os donos do fundo? Isso nunca existe. Nós lidamos com os representantes, com os gestores, e eu acreditei que era a mesma experiência que tinha no passado.
Naquele caso fui à Suíça fazer reuniões, aquilo era tudo físico, existia. Não percebo. Levantei as contas da Deloitte do Banco de Investimento, naquele processo, tudo limpinho, transparente, só não percebi foi o que aconteceu em Portugal, que de um momento para outro aquilo despistou-se completamente, a uma velocidade nunca vista.
Mas, depois de toda esta polémica, não ficou com curiosidade de perceber quem é que mandava afinal naquele fundo?
Já fiz várias tentativas, conheci até algumas pessoas, um que diz que é este, que é aquele, já conheci pessoas que dizem representar. Acredito seriamente que foi um grupo de empresários do Brasil e de outras entidades de língua portuguesa, que era o que estava estabelecido desde o início, que fizeram aquele fundo. Foi o que eu sempre percebi.
Mas nunca conseguiu associar caras ou nomes?
Não, não, não. Tive um CEO de um grande empresário da Suíça, que me disse, "Marco, isto é tudo gente boa, que estão por trás destes projetos". Toda a gente me garantiu que aquilo era boa gente, com reputação, com credibilidade, só não serviu para Portugal.
Agora, eu não andei a estudar exatamente aqueles fundos fechados, que são opacos, não dá, aquilo chega a um ponto que não dá para estudar. Mas há bancos que têm fundos desses, há grupos de media que também têm fundos desses, têm é menos participação.
Se o Estado apoiasse mais a comunicação social, admitia abandonar essa sua intenção de desinvestimento?
Acho que o que faz a comunicação social é só serviço público. Eu não percebo porque é que estão particulares, sempre a perder dinheiro, a fazer serviço público. E depois há um concorrente que recebe centenas de milhões, é indiscutível, não estou a pôr em causa que recebe, e as outras empresas estão a fazer serviço público.
Acho que a Europa está a cair no seu próprio erro. Criou uma forma de abrir um espaço completamente desregulado, onde há uma falsa liberdade de informação, que são estes fenómenos que estão a acontecer nas redes.
Como é que o Estado pode apoiar mais este setor? Acha que o plano que já foi apresentado pelo governo é suficiente?
O plano mostra muito boa vontade, mas é preciso que se acelere esse plano. Porque eu vejo, infelizmente, jornais que cada vez estão a vender menos, eu vi aqueles planos de toda participação, e quando é que eles são implementados? O que é que está a ser implementado, na verdade?
Acho que há uma lentidão tão grande a aplicar as coisas, que pode pôr em risco algumas empresas e nós estamos a viver uma fase que vê empresas de media a entrar nas últimas linhas de sobrevivência.
E acha que o plano em si, mesmo que bem aplicado, bastará?
É um sinal de muito boa vontade. Pelo menos, tivemos um executivo que apresentou um plano que já se pode dizer que é qualquer coisa, porque eu via muitas falsas promessas, pessoas que viram os grupos de media completamente a afundar, e sendo um pilar principal, não é o quarto poder para mim, é o pilar estrutural da democracia, permitiram que isto acontecesse e não fizeram nada.
Não estou a dizer que se tem que despejar dinheiro para os media, tem que se criar mecanismos, não sei se é nas assinaturas no IRS, nas escolas, nos quartéis, distribuir jornais. Estão a fazer qualquer coisa, se é suficiente, acho que não.
Adquiriu 100% da VASP, uma empresa de distribuição de imprensa, este não é um negócio deficitário?
A VASP é o único monopólio que durante muitos anos esteve praticamente a perder dinheiro com a distribuição. Felizmente hoje está melhor. A VASP é um operador logístico, está com uma transformação enorme para outras áreas de negócio. Nós estamos a lutar para ser um dos melhores operadores logísticos de Portugal, mas infelizmente a parte dos jornais está numa luta total, é fácil perceber porquê. Se os jornais estão em queda, o Conselho de Administração da VASP não pode tomar decisões com que se faça dumping comercial, não pode ter uma atividade que seja um prejuízo. Felizmente a VASP hoje tem as suas contas equilibradas. Hoje 70% dos resultados vêm fora dos jornais. Está integrada no grupo Bel.
Acha que a comunicação social pode alguma vez ser um negócio rentável?
Se a comunicação social não se tornar um negócio rentável, esqueçam a democracia como existe hoje. Onde é que está o juiz imediato das ilegalidades, da corrupção, para mim são os jornalistas. Isso é uma reflexão muito clara que os políticos têm que fazer.
Vejo os acionistas a cair, há várias empresas que estão a cair, eles não estão a cair por má gestão, isso é falso. Eles estão a cair por uma atividade que se tornou deficitária, porque não se criaram leis e mecanismos para apoiar este serviço público. A responsabilidade disto é dos políticos do passado.
Permitiram que isto acontecesse. Agora todos se queixam das redes sociais, mas deixaram cair os jornalistas. E é muito pouco dinheiro, 25% do que a RTP gasta por ano dava para manter uma comunicação social totalmente saudável. Não estou a criticar a RTP, gosto muito da RTP, mas sou contra a proporção dos custos perante o serviço público, porque qualquer meio de comunicação social faz serviço público.
Já defendeu fusões e aquisições na Comunicação Social. Quais?
Nós chegámos a um limite, acho que já não pode haver muitas mais. Em coisas pequenas, sim. Para mim, um dos sinais mais perigosos também da democracia, é haver pouca expressão acionista.
Acha que a sua imagem saiu prejudicada com a entrada na comunicação social ou, pelo contrário, saiu beneficiada porque se tornou uma pessoa conhecida?Nas pessoas inteligentes saiu beneficiada, nas pessoas mal formadas saiu prejudicada.
Mas não está arrependido?
Não, de forma alguma. Eu estou em perfeita sintonia com a minha consciência e fiz tudo ao meu alcance para fazer o melhor. Passei os limites aceitáveis e causou muitos problemas. O grupo Bel, quando teve aquela participação com dimensão nos media, só tinha problemas nos bancos.
Há leis que estão feitas mesmo para o jornalismo ficar à deriva. Eu diria que ter media é igual a uma pessoa ter ébola. É contagioso.
Os portugueses conhecem-no, sobretudo, como empresário dos media, mas fez a sua carreira e fortuna no Grupo Bel, lançado em 2001. Começou pela área tecnológica, mas o sucesso arrancou com a distribuição, com as máquinas de venda automática, e depois a logística?
As máquinas de venda automática são 5% do Grupo Bel, ou 10, ou 15, não sei. Não é expressivo.
Qual é a área mais forte do grupo?
A logística. Representa 85% ou 90.
Quantos funcionários tem o grupo Bel nesta altura?
Funcionários e prestadores de serviços, 3 mil.
Para um volume de faturação?
De todas as empresas, próximo de 800 milhões. Ou mais, talvez.
Como empresário, como é que avalia as políticas do atual governo? Nomeadamente, em termos fiscais.
É como nos media. Vi coisas que até hoje nunca foram faladas. Agora, é preciso que se passe das palavras aos atos.
Não é propriamente um governo feito em cima do joelho. Agora, tenho pena que os partidos não se juntem para criar uma forma de mudar o país e de levantar isto de uma vez por todas.
Eles têm vontade de baixar impostos. Os impostos estão a sufocar completamente as empresas. E é preciso também dar-lhes estabilidade, porque eles têm que ter um período de tempo para aplicar as coisas. O nosso país é um país de leis. Leis atrás de leis, não dá para fazer nada. Os políticos têm medo e receio de tomar decisões por causa do escrutínio futuro. Aquilo deve ser extremamente difícil, mas eu tenho esperança que eles vão fazer um ótimo trabalho.
Pode apontar, como empresário, duas ou três medidas fundamentais que o governo teria que tomar?
Primeiro, mudar a Constituição da República Portuguesa, está obsoleta para os dias de hoje.
As pessoas que têm ordenados hoje mais altos estão a viver muito pior. Os políticos falaram todos em resolver o problema da habitação, ninguém resolveu nada. Cada vez há mais pessoas a viver na rua.
Mas para fazer isso é preciso mudar a Constituição?
Desde que não se crie uma coisa complexa e difícil. Eu não estou a dizer que a nossa Constituição é má. Pode ou não estar já adaptada a uma necessidade de tomar decisões.
O mundo que aí vem não é este mundo que nós conhecemos. O nosso atraso é cada vez maior. Nós temos um comboio a vapor, os outros estão com TGVs.
"Benfica?É preciso gestão séria, credível, de primeira linha. E esse desafio, de certa forma, entusiasma-me"
Este sábado vai festejar com adeptos benfiquistas o aniversário de Eusébio, que faria 83 anos. Uma festa antes do encontro do Benfica com o Casa Pia, em Rio Maior. Vai como adepto e como candidato à presidência?
Vou só como adepto. Há ali várias coincidências. Um grupo de benfiquistas pediu para organizarmos aquele almoço. Eu nasci em Rio Maior. O jogo é em Rio Maior. E eu tenho uma propriedade, um restaurante, em Rio Maior, é praticamente ao lado do estádio, a 10 minutos. É um convívio.
Isso gerou um nível de informação, porque há muita gente preocupada se eu sou candidato. Eu nunca disse que era, em público.
Pelo menos, pondera ser candidato à presidência?
Sabe, quando eu chego a casa, com quem é que eu estou? Com a minha família. E até agora não senti o apoio. Porque isto é muito duro para a família. Isto é um nível de exposição assustador.
Isso quer dizer que a sua candidatura depende do apoio da família?
Depende, sim. Eu não quero estar a tomar decisões, depois do que passei nos media, de ser perseguido. E não quero voltar a ser perseguido. Eles têm de sentir que isso pode acontecer novamente.
Mas isso significa que o Marco Galinha tem vontade de ser candidato?
Eu tenho alinhado no nível do pensamento que o Benfica é das melhores, se não a melhor coisa que Portugal tem, a melhor marca, temos Cristiano Ronaldo também, mas tem um tempo limite de vida. É a marca que nós temos desde os descobrimentos que pode levar o país mais longe.
Nós perdemos quase tudo e, na dimensão mundial, nós hoje só somos grandes no futebol, mas nunca liderámos num clube.
É tudo setes na minha vida. Sou também o sétimo filho e nasci às sete da manhã. Acho que os astros estão alinhados para criar ali um projeto único.
Era um desafio aliciante olhar, como disse, para a grandeza de um clube como o Benfica e pensar numa liderança que o projetasse para o patamar que entende que ele deve ter?
O Benfica é mais que um clube de futebol. Quando ganha o PIB português sobe. Deve atingir a liderança da Europa. E acho que há condições para isso.
É preciso gestão séria, credível, de primeira linha. E esse desafio, de certa forma, entusiasma-me. Mas isso é um percurso que tem de ser corrido. Tinha que encontrar um CEO para o Grupo BEL, tinha que fazer essa transição e não quero acreditar que isto se faz assim às três pancadas.
Agora, nós reunimos informação, fizemos um levantamento total, não baixei os braços, não disse que não, mas também não disse que sim.
Além da família, a sua candidatura também depende do apoio da família benfiquista? Sabemos que já tem alguns nomes consigo, como Varandas Fernandes, João Pinheiro, Vitor Santos. Há nomes dos quais não prescinde?
É curioso. Uma vez organizámos um almoço nesta mesma propriedade (Rio Maior), onde foram 22 pessoas. E é curioso que só falam sempre nas pessoas que estão a tentar rotular, algumas ligações ao antigo presidente do Benfica.
Quer dizer, alguns?
Não, não vou dizer. Mas só falam nas pessoas que estão a tentar rotular-me ao presidente Vieira, o que é de muita forma injusto para as outras, e também é injusto para ele, que não foi julgado e foi julgado na praça pública. Eu acredito na justiça e o homem, coitado, foi condenado de uma forma transversal na praça pública. E também é preciso reconhecer que ele, quando chegou ao Benfica as contas estavam todas partidas.
Eu tive uma vez ou duas vezes na minha vida com o Sr. Luís Felipe Vieira e estão a dizer-me que eu sou o testa de ferro dele. Falso. Completamente falso. O que eu sei dele é só uma coisa: quando ele chegou ao Benfica aquilo estava tudo partido e quando ele saiu as contas não estavam assim tão más. E vamos ver como é que está o futuro.
Como é que avalia a atual situação financeira do Benfica? É preocupante? É equilibrada?
Para já acho que o Rui Costa é uma instituição do Benfica. Eu gosto do Rui Costa, como jogador de futebol, tem um valor incalculável. O próprio Rui Costa percebe as minhas palavras. E se ele fosse um pouco mais estudioso aos pormenores financeiros ele se calhar percebia que aquele não é o caminho.
O que eu vejo é os custos a aumentarem muito e a receita a diminuir. Faz-me lembrar a Global Media, chega um dia que a coisa corre mal.
Eu gosto de criar soluções construtivas, não sou daquelas pessoas só de apontar o dedo. Os sócios do Benfica têm que escolher de uma forma livre e também devem criar condições e não criar bloqueios. Porque eu sei que há muita criatividade e muitas manhas ali para afastar candidatos e isso é antidemocrático.
O que me preocupa da gestão financeira é os custos a aumentar. Eu estudei as contas ao pormenor, não é uma boa imagem. As prestações de serviço aumentam a uma velocidade nunca vista e a receita a cair.
O Benfica merece ter uma gestão como o Bayern de Munique. É um clube com dimensão na Europa, sem dívidas nenhumas, de pessoas profissionais e exemplares e que estão lá porque não precisam do clube.
E que deve continuar a ser dos sócios?
Claro. O Benfica tem que ter sócios que tragam valor para o Benfica. Não tem que ter sócios que se aproveitem do Benfica.
Era uma pena enorme ter alguém que controlasse o Benfica maioritariamente, retirava o valor total ao clube. É a maior instituição portuguesa. Era a mesma coisa que vender o Mosteiro dos Jerónimos. Não sei se a Troika não tentou isso no passado, mas era problemático perder esta instituição, é o nosso ADN. O Benfica é Portugal, os outros clubes que me perdoem.