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Hotelaria

Grupo Pestana atinge recorde de 500 milhões de faturação. "Estamos preparados para o futuro", garante presidente

21 nov, 2022 - 21:46 • Ana Carrilho

Grupo hoteleiro celebra os 50 anos de existência. 2022 foi o melhor ano de sempre. Está prevista a inauguração de dois hotéis em Lisboa e o início da construção de um outro, em Paris. Com quase 6.000 trabalhadores, a falta de mão-de-obra é um problema para garantir a qualidade de serviço. A solução pode passar pela agilização dos vistos de trabalho, defende Dionísio Pestana.

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Depois de um início de ano complicado, com os hotéis fechados nos primeiros meses por causa da pandemia, foi o boom. “De repente, abriu e os turistas vieram logo. Normalmente, demoram um, dois meses porque ainda vão pensar. Mas desta vez foi logo torneira aberta, muito bom. Este vai ser um ano recorde e estamos muito bem preparados em termos financeiros para os próximos anos”, diz o presidente do Grupo Pestana aos jornalistas, com visível satisfação.

2022 ainda não acabou, mas a previsão de faturação aponta para os 500 milhões de euros, quase 10% acima do conseguido em 2019, o melhor ano para o Grupo e para o turismo em geral. “E a tendência é para continuar a crescer, se tudo correr bem”, ressalva Dionísio Pestana que confessa ter todos os dias como primeira preocupação, assim que acorda, consultar a imprensa internacional.

“No outro dia, quando caiu a bomba na Polónia, fiquei muito preocupado. Mas quando percebi que não tinha sido intencional, descansei mais. Dia a dia, vou gerindo as expectativas e o futuro”.

A receita aumentou, mas os custos também subiram significativamente, especialmente no segundo semestre. Com a mão-de-obra e a sua formação e com o aumento dos custos de energia, que subiu cerca de 25%. Foi uma desagradável surpresa”.

O grupo tem várias atividades, mas no turismo, 80% da faturação é realizada em Portugal e 20%, nas unidades internacionais.

Mercado americano é uma surpresa muito agradável

A procura pelos hotéis Pestana é liderada pelos turistas nacionais. Seguem-se os mercados britânico, alemão e agora, o americano. “Está a ser uma surpresa muito agradável. O que gostava de dizer no próximo ano é que o americano é o nosso primeiro mercado. Porque é o que paga mais, são turistas com elevado poder de compra e é bom recuperar esse mercado. Para todos nós”, diz Dionísio Pestana.

O mercado brasileiro “praticamente acabou” e os países do leste europeu tornaram-se os mercados emergentes para a Madeira. Polónia, República Checa, Ucrânia. “Tínhamos charters desses países e no próprio dia em que a guerra começou, tínhamos cá um grupo de ucranianos. Muitos deles já não voltaram, ficaram a trabalhar cá”, conta o hoteleiro madeirense.

Questionado sobre a procura de novos mercados emissores, Dionísio Pestana é claro: “É melhor apostarmos em mercados de proximidade, de duas a três horas de voo. Os de mais longe não interessam tanto. A não ser, dos Estados Unidos. E a Madeira está a apostar. Temos um voo direto de Nova Iorque para o Funchal, que são seis horas. E temos cada vez mais americanos”.

Incerteza obriga a prudência para 2023

Apesar dos melhores resultados de sempre, a degradação da situação económica, a inflação e a subida dos juros podem condicionar o crescimento do grupo.

“Para combater a subida da inflação, a solução é aumentar a produtividade, com imaginação das equipas, mantendo a receita e defendendo as margens. É preciso estar atento à tesouraria, que é o mais preocupante”, admite.

Quanto aos novos projetos, o que está em construção, avança, mas o resto congela”, diz Dionísio Pestana. Para o 1º trimestre de 2023 está prevista a abertura de dois hotéis em Lisboa: um, junto ao Arco da Rua Augusta e uma Pousada, em Alfama.

Nessa mesma altura “se tudo correr bem”, começa a construção de uma nova unidade em Paris, junto à estação ferroviária de Austerlitz, em que o Pestana é parte de um projeto maior. Fica com a parte de hotelaria – 210 quartos - num investimento de 60 milhões de euros.

“Vamos estar sempre atentos, não vamos dormir”, garante Dionísio Pestana quando questionado acerca das perspetivas para os próximos 10 a 15 anos. O empresário diz que o mercado vai mudar com o aumento dos juros e “as oportunidades vão acontecer, já estão a acontecer, nomeadamente no imobiliário”. A prioridade vai para capitais europeias e outras geografas em que o grupo hoteleiro já opera.

Quanto a vendas, não estão previstas, mas também podem acontecer, até porque os fundos continuam muito ativos na procura. “Se não se tratar de um ativo estratégico”. Como a que ocorreu este ano, de venda do Pestana Blue, em Alvor, adquirida por um fundo de investimento. ”Alguém pagou a cláusula de rescisão, sublinhou o CEO do Grupo, José Teothónio, recorrendo a uma analogia futebolística.

É preciso mão-de-obra estrangeira. E vistos mais rápidos

Atualmente o grupo tem cerca de 6.000 trabalhadores nas 108 unidades hoteleiras. Número insuficiente para garantir a qualidade do serviço. Por isso, Dionísio Pestana não hesita em dizer que é preciso recorrer a mão-de-obra estrangeira. Aos mais céticos, que apontam a descaracterização do destino, o hoteleiro responde que a Madeira é uma marca internacional, assim como Portugal. “Vamos a outros países, a Inglaterra, aos Estados Unidos, ou à Suíça e o serviço é internacional; não são os suíços que estão lá a trabalhar. É sempre bom manter as nossas raízes, mas não vamos deixar de fazer o serviço porque não temos pessoal. Isto está a acontecer e cada vez mais, esse modelo de negócio vai ser o nosso maior desafio quando pensamos em hotéis no futuro”.

O Governo organizou recentemente uma missão empresarial Cabo Verde para recrutamento para vários setores, nomeadamente para o turismo. Mas o Grupo não participou “porque já temos pessoal qualificado em Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e mesmo no Brasil. Pessoas que já estão connosco há alguns anos, conhecem bem a nossa maneira de trabalhar, a nossa cultura e a nossa língua. Pedimos os vistos para algumas destas pessoas virem trabalhar para o Continente e não os conseguimos em tempo útil. Acabaram por aprovar, mas entretanto, passou o verão e já é tarde. A burocracia portuguesa é grande”, lamenta o empresário que, no entanto, diz estar certo que o governo está ciente e é uma questão que se ultrapassará.

Ou seja, no caso do Grupo Pestana, a solução pode ser interna. “Podem vir para cá trabalhar dois ou três anos, garantimos a estadia e há condições para os (trabalhadores) integrar nas equipas”.

Para melhorar a preparação relativamente à próxima época alta, o Grupo já está a garantir alguma estabilidade nas equipas dos hotéis que fecham no inverno. “Vamos reforçar as equipas, especialmente as chefias e essas equipas vão ter continuidade. Durante o encerramento vão ter as férias e mais dias de descanso, fazer formação para voltar em fevereiro e começar logo a trabalhar a pré-epoca e a preparar o verão”. Nos que estão abertos todo o ano, a questão não se coloca. E pela primeira vez, o hotel de Porto santo junta-se à lista dos que nunca fecham.

Dionísio Pestana garantiu ainda que os aumentos salariais para os trabalhadores estão garantidos e os prémios anuais também já começaram a ser pagos.

Do início atribulado a líder hoteleiro nacional em 50 anos

O Carlton Madeira foi inaugurado a 20 de novembro de 1972, cumprindo assim o sonho de Manuel Pestana, emigrado com toda a família na África do Sul, de investir na sua terra natal, a Madeira.

Aceitando a sugestão do Governador da ilha, em meados dos anos 60, comprou por 18.000 contos o terreno onde se situava o antigo Hotel Atlântico, entre o Savoy e o Reid´s Palace. Mesmo sem perceber nada de hotelaria, o pai de Dionisio Pestana aventurou-se com a construção de uma unidade com 200 quartos. A gestão ficou a cargo da Sheraton.

A Revolução de Abril travou a atividade. O investimento ainda estava a ser pago e o maior financiamento vinha de Moçambique, através de um projeto imobiliário em Lourenço Marques. Com as nacionalizações, em Portugal e Moçambique, Manuel Dionísio deu o hotel como perdido.

Desafiou então o filho, com 24 anos, a ir para a Madeira ver se conseguia salvar o investimento. “Com pouca experiência, sem nunca ter vivido na Madeira, achava que era fácil. Quando cá cheguei percebi que era um problemão, só pensava em voltar (à África do Sul) mas fui ficando, tentando realizar o sonho do meu pai e depois, o meu”, conta Dionísio Pestana.

O hoteleiro confrontava-se na altura com duas realidades: a dos investidores madeirenses e portugueses, que abandonavam a ilha; e os estrangeiros que visitavam a Madeira, diziam que era linda, queriam regressar e ficar. “Com a entrada de Portugal na CEE, começámos a ver que havia matéria-prima e o potencial estava lá”.

“O turning-point (momento de viragem) do negócio foi o time-sharing, modelo exportado do Estados Unidos para a Europa na altura. Como tínhamos 200 quartos, começámos a vender para o mercado inglês. Eles gostavam e foram comprando. Ainda há famílias que compraram por 30 anos e já renovaram por mais dez (o tempo contratual atualmente em vigor)”.

Foi assim que Dionísio Pestana conseguiu realizar o sonho do pai, viabilizar o hotel e promover o crescimento do Grupo. “Apesar dos altos e baixos nos ciclos económicos, o Pestana Carlton Madeira ainda está no top 3 de performance do Grupo. É uma grande dama que compete pela sua localização, enquadramento e arquitetura”.

O crescimento obrigou a alterações na estrutura organizacional. E longe vão os tempos do “one man show”.

A nível nacional, o Pestana lidera o mercado e o seu presidente garante que serão feitos todos os investimentos necessários para não perder essa liderança. “E o que sobrar, vamos estar atentos a outras geografias”.

Um grupo em que não se prevê a entrada de outros acionistas no capital. “O grupo está sólido, temos ativos importantes, com uma dívida estruturada. Vou sempre proteger os acionistas em nome da família e espero que a família, depois, dê continuidade. Serão eles a decidir, mas já estão a perceber a continuidade”, diz Dionísio Pestana.

“Têm sido 50 anos fantásticos”, conclui o empresário, que apesar de se manter por perto, quer dedicar mais tempo à família, especialmente aos netos.

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  • Antax
    22 nov, 2022 Por cá 09:00
    É só faturar, não com os tugas falidos mas com a Turistada ricaça da Europa e não só. Tragam terroristas para "trabalhar" também. Pode ser que eles tenham um plano para uma "Festa de Antrax", ou para varrer a rajada de metralhadora, os hóspedes ricaços à beira-da piscina... Com os preços que cobram, portugueses não deve haver lá nenhum, portanto ...

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