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Hotelaria

"Governo tem condições para fazer as reformas que o país precisa", defende líder do grupo Vila Galé

23 fev, 2022 - 23:32 • Ana Carrilho

Jorge Rebelo de Almeida alerta para a necessidade de serem adotadas reformas urgentes, na Saúde, na Justiça e no Ordenamento do Território. Quanto ao desempenho do setor em 2022, o empresário diz-se otimista.

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As receitas do grupo hoteleiro Vila Galé ascenderam a 59 milhões de euros, em 2021, cerca de metade do volume de negócio conseguido em 2019, mas bem melhor do que os resultados alcançados no primeiro ano de pandemia.

Para 2022, o presidente do grupo, Jorge Rebelo de Almeida, diz ter boas perspetivas, apesar das condicionantes externas, como a tensão entre a Ucrânia e a Rússia, ou a inflação e o aumento das taxas de juro.

Mas tal não impede o grupo de continuar a investir em novas unidades, em Portugal e no Brasil.

Num encontro com jornalistas, Rebelo de Almeida, aproveitou para mandar recados a António Costa: o novo Governo, assente numa maioria absoluta, tem todas as condições para fazer as reformas que o país precisa. Mas prefere que as faça com um consenso mais amplo.

Entre as prioridades que considera que o governo devia “atacar” contam-se a decisão sobre o aeroporto e uma solução consistente para a TAP. Sem esquecer as reformas da saúde, justiça e ordenamento do território. Porque, diz, "o turismo também precisa que o país funcione”.

TAP e aeroporto são prioridades

O presidente do grupo Vila Galé considera que a TAP só será viável se fizer uma parceria com outra grande companhia. “Deve continuar a ter controle público, já que lá investimos tanto dinheiro, todos nós, para não haver disparates”, mas terá que ter gestão de uma empresa.

A Lufthansa é uma solução que Jorge Rebelo de Almeida vê com bons olhos, mas admite que “é preciso que haja alguém, da parte do governo, com capacidade negocial e com alguma flexibilidade. Normalmente sabemos que os negócios que o Estado faz, infelizmente para nós, não são os melhores”.

A TAP deve ser uma prioridade para o novo Governo de António Costa, assim como o novo aeroporto de Lisboa, um assunto que se arrasta há 50 anos, daqui a pouco, quase tanto como as obras de Santa Engrácia”. Com manifesta desilusão, desabafou que “nesta altura, ainda nem se sabe qual vai ser o caminho”, mais concretamente, a localização.

Para o presidente do segundo maior grupo hoteleiro nacional, “esta não é uma questão para as pessoas acharem isto ou aquilo; é uma questão técnica, que tem que ser alicerçada por estudos com credibilidade. “E depois, alguém que bata o martelo e diga: está decidido, não se fala mais nisso”.

A par das reformas que considera urgentes, na Saúde, Justiça e no Ordenamento do Território, Jorge Rebelo de Almeida põe também as medidas para enfrentar a seca. Diz ser necessário poupar água e reduzir drasticamente o desperdício, mas também alerta que são necessárias outras soluções. Uma delas, num país com tanto mar, seria a dessalinização, “que serve para tanta coisa, especialmente se for bem tratada”.

Uma solução que não poderá usada para combater a seca que já atravessamos e que se está a tornar extremamente preocupante. “Não há previsão de chuva e começa a ser dramático. Se calhar temos que levar isto um bocadinho mais a sério”.

Com a maioria absoluta, o governo tem todas as condições para fazer as reformas e Jorge Rebelo de Almeida acredita que as vai fazer, procurando um consenso alargado. “O país precisa desesperadamente (delas) e nunca tivemos tão boas condições para o crescimento, depois deste desaire da pandemia”.

Otimismo para 2022

Em 2021 o Grupo Vila Galé teve 59 milhões de euros de receita da exploração das suas unidades em Portugal. Ou seja, metade do conseguido em 2019, antes da pandemia. Mas bem melhor do que a receita de 2020.

Segundo o administrador Gonçalo Rebelo de Almeida, os números do Grupo “estão mais ou menos em linha” com os que já foram apresentados para o setor do turismo, em geral.

Quanto à procura, por mercados, antes da pandemia, 65% era de estrangeiros e 35%, de portugueses; o ano passado, a situação inverteu-se.

No entanto, para este ano, há boas perspetivas: “desde o meio de janeiro, as reservas têm aumentado todas as semanas. As reservas de março já são melhores do que as de fevereiro e as de abril, ainda melhores.

Aliás, a partir de abril já há hotéis com taxas de ocupação superiores a 60%, o que já não via há muito tempo, sublinhou Gonçalo Rebelo de Almeida. Britânicos, holandeses, escandinavos, franceses e alemães lideram os mercados de origem.

Apesar de este ano ainda ser quase impossível atingir os resultados de 2019, o administrador do Vila Galé considera que poderá ficar abaixo apenas 10-15%. “As perspetivas começam a ser positivas”.

Isto se não houver mais fatores externos que dificultem a retoma do turismo em Portugal. Por exemplo, o impacto do conflito Rússia-Ucrânia, a subida da inflação e das taxas de juro, que indiretamente, atinge o setor.

“Precisamos que o poder de compra esteja saudável. Se voltar a haver alguma pressão e as pessoas tiverem menos disponibilidade financeira, já sabemos que o nosso tipo de despesa está à cabeça das que são cortadas”, diz Gonçalo Rebelo de Almeida. “A vontade de viajar existe, mas se não houver meios, há retração”, remata o presidente do grupo.

Mais de 50 milhões em quatro novos hotéis e pessoal

Apesar da pandemia, o grupo hoteleiro não parou: para além da remodelação de diversas unidades, iniciou a construção e prepara a abertura de quatro novos hotéis no verão de 2023: um em Ponta Delgada, outro em Tomar e dois dentro do espaço do Clube de Campo, em Beja.

O Vila Galé Nep Kids, é um conceito inédito em Portugal, “um hotel para crianças onde os adultos só entram se forem acompanhados por crianças”, revela com entusiasmo o presidente Jorge Rebelo de Almeida, assumindo que este é um sonho antigo. O outro, é especialmente vocacionado para casais.

O investimento previsto para estas quatro unidades é de 50 milhões de euros, embora Jorge Rebelo de Almeida admita que possa ser superior, já que o preço dos materiais continua a subir. Além destes, o grupo adquiriu ainda uma quinta em Ponte de Lima, vocacionado para o enoturismo e que inclui adega e hotel, envolvendo igualmente a recuperação de um castelo. Ainda este ano o grupo vai inaugurar uma nova unidade no Brasil.

O grupo hoteleiro tem cerca de 1.250 trabalhadores efetivos em Portugal mas continua a precisar de mais mão-de-obra. “Este será um ano em que teremos um foco muito grande nos recursos humanos, procurando criar carreiras mais atrativas e mais bem remuneradas, vinculadas à avaliação, ao mérito e empenho, apostando na formação on job e na captação de jovens à procura do 1º emprego”.

Para isso, o grupo “tem-se mostrado” em vários espaços, nomeadamente nas escolas de hotelaria e turismo, superiores ou profissionais.

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