16 nov, 2024 - 08:00 • Sandra Afonso , Arsénio Reis
Serão necessários “vários milhões de euros” para criar o ChatGPT em português, anunciado pelo primeiro-ministro na última semana, na abertura da Web Summit. Luís Montenegro não avançou números, mas Arlindo Oliveira garante à Renascença que a fatura será elevada.
Em entrevista ao programa Dúvidas Públicas, o antigo presidente do Instituto Superior Técnico, hoje à frente do INESC, explica que um LLM (sigla de Large Language Model, ou modelo de linguagem de grande escala) na língua de Camões teria muitas aplicações úteis: “serviço ao cliente, novos produtos de empresas, apoio a estudantes, aplicações na área da medicina ou jurídica, entre outras.
O problema é que, para garantir o maior impacto, seria necessário um modelo comparável aos maiores que estão no mercado, o que implica um investimento acima dos 100 milhões de dólares. Arlindo Oliveira não é tão otimista e aponta para uma despesa entre os 10 e os 20 milhões de euros, com a versão em português. “Parece-me ser um valor não muito disparatado”, diz.
Avisa ainda que, apesar do país ter pessoas com experiência e capacidade para garantir este projeto, a sua implementação não será fácil, desde logo pelo número limitado de textos em português. Ainda assim, considera razoável o prazo anunciado por Luís Montenegro para a apresentação do ChatGPT português: o primeiro trimestre de 2025.
Web Summit
Luís Montenegro anunciou um modelo de linguagem em(...)
Nesta entrevista, gravada durante a edição deste ano da Web Summit, em Lisboa, Arlindo Oliveira defende ainda que é preciso mais investimento em tecnologia, mas a burocracia em Portugal está a afasta os beneficiários de apoios como o do PRR.
“Neste momento até há algum dinheiro para investir mas depois é tão difícil ter acesso a esses fundos, aprovar e executar os projectos, de acordo com as regras mais mirabolantes que são inventadas, que há pessoas que não vão buscar fundos simplesmente porque depois dá muito trabalho gastar esse dinheiro”, explica.
Arlindo Oliveira fala ainda do excesso de regulação na União Europeia sobre a inteligência artificial, que afasta investidores e dificulta o desenvolvimento da tecnologia.
Defende uma regulação global para a inteligência artificial, “seria o ideal”, mas diz que neste momento não há ninguém que possa assumir essa tarefa. A ONU está com dificuldade em fazer-se ouvir, seria necessário “um acordo generalizado entre os dois blocos”, mas as duas partes sabem que “a vantagem competitiva aqui é muito importante, económica e militarmente”.
Este especialista olha ainda para o futuro a curto e médio prazo, porque o ritmo acelerado com que evolui a nova tecnologia não permite olhares afastados. Segundo Arlindo Oliveira, o próximo grande salto na inteligência artificial será quando as máquinas desenvolverem o raciocínio explícito e conseguirem “adaptar-se a novas situações”. Nessa altura, as máquinas “vão aproximar-se ainda mais do nível de competência humana em muitas tarefas”.
Arlindo Oliveira acredita ainda que dentro de alguns anos as máquinas vão conseguir demostrar emoções e até consciência e “nós, realmente, não teremos maneira de saber se têm ou não”.
Pode ouvir o Programa Dúvidas Públicas aos sábados, a partir do meio-dia, na antena da Renascença, ou sempre que quiser em podcast ou em vídeo.