02 mar, 2024 - 09:44 • Sandra Afonso , Arsénio Reis
A Inteligência Artificial (AI), um conceito ainda abstrato para muitos, começa a chegar a todo o lado e a muitas empresas. Já faz parte do dia-a-dia de consumidores e cidadãos, mesmo que chegue a passar despercebida, por distração ou desconhecimento, o que aumenta ainda mais o risco associado.
As empresas portuguesas também estão nesta corrida, pelas melhores ferramentas e últimas tecnologias. Goreti Marreiros, presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA), diz em entrevista ao programa Dúvidas Públicas, da Renascença, que mais de 35% do tecido empresarial já utiliza IA, uma percentagem que não deixa mal o país no retrato europeu.
As grandes empresas mergulharam de cabeça, mas as PME também estão a abrir as portas à IA, embora precisem de mais apoio. A APPIA está a ser inundada com pedidos de ajuda e esclarecimento, de empresas e instituições, não tem sido fácil responder a todos.
Algum do investimento está a ser feito com a ajuda do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas a grande maioria não depende sequer da chamada "bazuca europeia". O objetivo, sublinha a investigadora, é aumentar a produtividade e responder à falta de mão-de-obra.
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O impacto no emprego tem sido uma das consequências da IA mais discutida. Goreti Marreiros recorda os últimos estudos internacionais, que apontam para a eliminação de milhares de postos de trabalho nos próximos anos, diz que eles estão a ser destruídos a uma velocidade nunca antes registada na história, mas este é um processo que não tem retrocesso.
No entanto, há funções que nunca serão substituídas por algoritmos, garante a presidente da APPIA, que dá como exemplo os professores. Outras começam a ser deixadas "nas mãos" da IA, o que Goreti considera um risco, porque há decisões que devem ser acompanhadas por humanos, como a seleção de candidaturas a emprego, a avaliação do direito a receber apoios sociais ou até o nível de risco de quem pede um empréstimo à banca.
Outra face desta Era Digital que vivemos é a falta de regulação. A Europa está a desbravar caminho e prepara-se para ser a primeira região do mundo com legislação nesta área, mas é preciso que outros também o façam, porque o digital não tem fronteiras.
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Goreti Marreiros alerta que esta tecnologia está a desenvolver-se muito rapidamente, explica onde e como a podemos encontrar no dia-a-dia, mas também onde poderá estar a muito curto prazo, para o bem e para o mal. É preciso acautelar os riscos, e são bastantes.
Dá o exemplo dos "deep fakes", a manipulação de imagens e sons, que é feita com cada vez melhor qualidade, o que dificulta a deteção. Mais recente ainda, depois do ChatGPT a OpenAI lançou agora a Sora, para criar vídeos a partir de texto.
Estas manipulações mexem com a democracia, quando entram nas campanhas eleitorais, e este é um ano particularmente agitado a nível global com várias eleições marcadas. Nos Estados Unidos já circulam alertas ao mais alto nível, para a proliferação de "fake news". Por cá, Portugal registou nestas legislativas as primeiras campanhas de desinformação com recurso à IA.
A diretora do GECAD - Grupo de Investigação em engenharia e Computação Inteligente para a Inovação e Desenvolvimento faz fé no melhor uso da IA, com ética e responsabilidade. Goreti Marreiros rejeita ainda falar em máquinas com consciência, garante que estão muito longe de ter emoção ou empatia, limitam-se a acumular informação e simular ou representar emoções.
O que importa saber sobre a IA, sublinha a investigadora e presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial, não é se algum dia esta tecnologia nos poderá controlar, mas quem a controla. Esse, diz Goreti Marreiros, "é um risco muito mais real".