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Pedrógão Grande

Fundos privados gerem o triplo do fundo público, mas seguem as mesmas regras

08 set, 2017 - 07:45 • Joana Bourgard

A Renascença esteve em Pedrógão Grande, a acompanhar uma visita técnica feita pela Gulbenkian e pela União das Misericórdias, entidades que gerem mais de metade do dinheiro doado para a recuperação da região.

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Fundos privados gerem o triplo do fundo público, mas seguem as mesmas regras
Fundos privados gerem o triplo do fundo público, mas seguem as mesmas regras

A 17 de Junho, Eduarda Miranda, de 78 anos, estava em casa do filho. Nessa noite já não regressou a casa. "Quando o meu filho lá chegou, disse-me assim: ‘A sua casa já sei foi.’" Só após três dias é que Eduarda foi ver o que restou da casa: algumas paredes queimadas.

A casa de Eduarda, na aldeia de Troviscais, no concelho de Pedrógão Grande, será uma das 40 habitações reconstruídas pela parceria entre a União das Misericórdias e pela Fundação Gulbenkian, que gere 5,2 milhões de euros doados para a recuperação das zonas afectadas pelo incêndio de Pedrogão Grande. A estes acrescem ainda os quase dois milhões geridos pela Caritas de Coimbra, o que faz com que estas entidades estejam a gerir mais do triplo da verba incluída no Revita, o fundo público. Mas, apesar de a gestão ser diferente, as regras são as mesmas. E, segundo as contas da Comissão de Coordenação Regional do Centro ainda faltam 20 milhões de euros para a recuperação de todas as casas atingidas pelo incêndio que começou a 17 de Junho.

Carla Pereira, arquitecta da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), coordenou as visitas técnicas às habitações afectadas. "São as câmaras que vão elaborando os processos, recolhendo toda a informação e nos dizem: são estas as casas em que têm de intervir", explica a arquitecta, salientando que há casos em que o problema não é apenas habitacional. "Estamos a fazer um conjunto de perguntas mais exaustivas aos proprietários para podermos dar uma resposta para além de uma reconstrução de uma casa", acrescenta.

A União das Misericórdias, a Gulbenkian e a Cáritas assinaram protocolos com o Revita - o fundo criado pelo Governo - mas gerem as suas próprias doações. Ao todos, as instituições gerem 7 milhões de euros. À Cáritas já foi doado 1 milhão e 700 mil euros e bens para o recheio das casas como mobílias e electrodomésticos.

Uma região com carências, agudizadas pelos incêndios

Mariana Figueiredo, responsável da Cáritas Diocesana de Coimbra pela coordenação das equipas no terreno, esteve nos concelhos afectados pelo incêndio desde o primeiro dia. Verificou que "invariavelmente, as casas mais afectadas são de pessoas mais fragilizadas” e afirma que encontrou uma "população com severas carências que já existiam e que o fogo veio agudizar".

A aldeia de Campelos, da Freguesia de Vila Facaia, é um pequeno aglomerado de pouco mais do que dez casas. Jacinta Paes vive no topo da aldeia, rodeada por uma floresta de eucaliptos. Na tarde do incêndio, ainda tentou salvar a casa com a ajuda dos filhos, mas tiveram de fugir com a ameaça das chamas. "Ligaram-me no domingo de manhã a dizer que a minha casa estava a arder, só que não me deixavam passar para cá. Liguei para Pedrógão mas disseram-me que não havia homens, que não havia bombeiros", lamenta Jacinta, cuja casa também vai ser recuperada pela parceria entre a Gulbenkian e a UMP.

As equipas responsáveis pelas visitas técnicas às habitações são constituídas por responsáveis das instituições, arquitectos, engenheiros e antropólogos. Pedro Serra, engenheiro civil da União das Misericórdias, salienta que "cada casa é um caso" e que as habitações vão ser reconstruídas de acordo com as necessidades de cada família.

Na equipa técnica está também Celso Matias, antigo director da Fundação Gulbenkian e natural da região, que alerta ser carenciada e com uma população envelhecida. A missão da Gulbenkian, para além da reabilitação das habitações, é fazer um "estudo antropológico de forma a perceber as condicionantes sociais de toda esta amálgama de problemas que por aqui existem", afirma.

As visitas técnicas pelas equipas da Cáritas, Gulbenkian e União das Misericórdias terminaram em Agosto. Neste momento decorre a fase de projecto e de concursos.

Ao todo, foram afectadas pelo incêndio 481 habitações particulares, 169 são prioritárias por serem primeiras habitações. O relatório, elaborado pela Comissão de Coordenação e desenvolvimento Regional do Centro, estimou em 28 milhões de euros o custo da recuperação destas casas.

Às doações da Gulbenkian, União das Misericórdias e Cáritas junta-se o valor doado directamente ao Fundo Revita. No total, são 9 milhões de euros doados por pessoas, empresas e instituições.

Comentários
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  • silva
    08 set, 2017 coimbra 11:23
    apesar de toda a boa vontade, sabe-se como é....comentários para quê?
  • DR XICO
    08 set, 2017 LISBOA 09:37
    Como dizia ontem Manuela Ferreira Leite é preciso acreditar nas instituições e há alguns procedimentos legais (CONCURSOS 3 PREÇOS PARA OBRAS) ou depois vai tudo preso, as autoridades podem é agilizar os tempos e papeladas. Agora insinuações sem nomes é de gentalha baixa, politicos medíocres sem principios.

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