Foto-reportagem

Nove retratos da América e um velho dizer. "Posso não ter votado naquele idiota, mas é o meu idiota"

09 nov, 2016 - 15:34 • Joana Bourgard

"Não é uma boa altura para ser americano". Entre o choque, a desilusão e a vergonha, estes homens e mulheres são o retrato de um país que procura digerir o resultado eleitoral "ao estilo Brexit", que faz de Donald Trump, um "outsider" da política, o próximo Presidente. Na Web Summit, por estes dias a maior concentração de norte-americanos por metro quadrado em Portugal, reconhecem um voto pela mudança. "Também isto irá passar".

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Mike Janke, orador na Web Summit, co-fundador da Silent Circle, empresa dedicada a comunicações encriptadas e antigo Navy SEAL, força especial da Marinha norte-americana

"Senti-me estranho [quando vi o resultado], mas se passares algum tempos nos Estados Unidos acabas por não ficar surpreendido com estas coisas. Acho que é bastante fixe que as pessoas se tenham pronunciado, independentemente do que eu acho do Trump. Na verdade, acho que ambos eram candidatos horríveis. É como ser apanhado entre morrer afogado ou queimado. Não havia boas escolhas, mas acho que é bom ver as pessoas a votar pelo que querem.

Não sou fã de políticos, acho que as pessoas que se enterram na política são idiotas. Mas a democracia falou, é para isso que existe. A América adora uma boa luta, mas quando a luta acaba, de alguma forma, reconcilia-se. Há uma coisa que se diz na América: 'apesar de não ter votado naquele idiota, é o meu idiota'. Nós votamos pela mudança."

Norm Johnston, responsável digital (CDO) da Mindshare Worldwide

"Na noite passada fui dormir descansado porque estava convencido que a Hillary ia ganhar. Claramente, há muita revolta escondida no país. Quer gostemos quer não, há uma grande percentagem da população que tem questões por resolver.

Estou horrorizado, para ser honesto. Nunca pensei que isto acontecesse. Acho que muitas pessoas não pensavam que isto pudesse acontecer. É um dia em que toda a gente se está a reorganizar de forma a vermos por onde vamos. Estou chocado e triste, ao mesmo tempo.

Vamos ver o que acontece nestes próximos quatro anos. Talvez ele não seja tão mau como as pessoas acham que ele é. Ouvi o discurso dele esta manhã e acho que alguém o escreveu por ele. Ele teve de ser agradável esta manhã.

É assustador, porque não é só ele, é também o facto de agora termos um partido político que controla todo o governo, o senado, a câmara dos representantes e a presidência. Para aqueles que se preocupam com o ambiente e as políticas de armas, é horrível, porque podem fazer aquilo que querem. É um dia triste para o meu país."

Bay McLaughlin, co-fundador da Brinc.io ("parte incubadora, parte aceleradora, parte fundo de investimento em "hardware", parte incrível" - "part incubator, part accelerator, part hardware investment fund, part awesome")

"Não é uma boa altura para ser americano. Esta manhã liguei para a minha mãe e ela disse que esta é provavelmente uma boa altura para viver no estrangeiro, vivo em Hong Kong. Acho que vêm aí tempos desafiantes e espero que não seja tão mau para parece, parece que vai ser muito mau.

Por outro lado, mostra que somos um país muito dividido. Acho que é como uma espécie de venda, que agora tiramos dos olhos. Vai voltar a acontecer se não fizermos nada sobre isso. É neste estado que estamos, como país. Ou admites isso ou continuas a enterrar a cabeça na areia.

Os próximos quatro anos vão ser muito interessantes. Não nos sentimos como um só povo. Com o Brexit, e tudo o que está a acontecer, são tempos desafiantes os que vivemos. Temos de lidar com isto e sair por cima."

Jim Posey, Posey Alaska LLC, participante na Web Summit

"Acredito, como diz na Bíblia, que também isto irá passar. Eu sou um apoiante da Hillary, tal como era do Clinton e do Obama. Mas percebo muito bem a atitude ao estilo Brexit, que se vive nos EUA, o que tornava muito provável a vitória do Trump.

Acho que o país está dividido apenas por um curto espaço de tempo, só porque há pessoas que estão chateadas de terem sido deixadas de parte. Mas estou optimista. Adoro viver no Alasca, que por acaso é um estado 'vermelho'. Quando era vermelho eu esperava que fosse azul e agora é vermelho novamente."

Rosa Elison, Detour Guide, participante na Web Summit

"Estou muito desiludida com o resultado final. Quero ser positiva, mas é muito difícil porque não conheço ninguém que tenha votado no Trump. Por isso, divide muito o país.

Faz-me lembrar quando o Bush foi re-eleito. Naquela altura mudei-me para a Irlanda, não por causa disso. Mas certamente mudou o modo como toda a gente na Europa me tratava. Não queria dizer a ninguém que era americana, porque tínhamos o Bush no poder. E agora sinto a mesma coisa. Estou muito desiludida."

Kenneth e Josh Ledgar, Kickofflabs, participantes na Web Summit

Kenneth (pai): "Estou pasmado, estava convencido que a Hillary ia ganhar. Não votei nem na Hillary nem no Trump, estou pasmado, porque tenho medo da incerteza que o Trump cria. Mas esta manhã, quando o ouvi falar em conciliação e reconstrução, concordei com esses sentimentos.

Se ele continuar continuar nesse tom eu apoio, mas ainda assim pasmado. Eu e a minha mulher brincámos em sair do país caso o Trump se tornasse Presidente. Era uma piada, nunca pensámos que se iria tornar realidade. Mas aconteceu e agora espero pelo melhor. "

Josh Ledgard (filho): "Tenho um amigo que disse que me enviava uma mensagem se estivesse tudo bem, para eu voltar da Europa. Quando esta manhã acordei, não vi a mensagem e fiquei preocupado. Liguei o rádio e ouvi o discurso de vitória, foi chocante.

Pensei que deve haver imensa gente que não quis admitir em quem iam votar verdadeiramente. Agora, temos de colocar a nossa fé no Congresso, no sistema tradicional, o Presidente está condicionado."

Meredith Popolo, Trustly, participante na Web Summit

"Estive toda a noite acordada a ver os resultados. Estou desiludida. É difícil explicar aos europeus que me perguntam como me sinto porque sou americana. Não estou orgulhosa no modo como votámos.

O Congresso agora também é republicano, por isso, espero que os republicanos e os democratas consigam trabalhar em conjunto para tornar o país melhor. E espero que o Trump não consiga fazer muitos estragos em quatro anos.

Quando olhas para o mapa azul e vermelho, vês como está dividido. O país, obviamente, precisava de uma mudança e foi para isso que votou. O Trump vai ter de se esforçar para unir o país, tal como a Hillary também precisaria."

Tell Whitney, Anita Borg Institute, participante no Web Summit

"Nunca estive tão triste na vida. Sou fã da Hillary. Trabalho numa organização que pretende trazer mais mulheres para a tecnologia e estamos muito tristes por não ter uma mulher como Presidente. Sinto que o nosso país vive agora na sombra."

Hanna Spearman, "Social girls in Paris", Mississipi, participante na Web Summit

"Vivo em Paris e votei por correspondência, creio que foram 50 milhões de americanos a votar por correspondência. Fiquei em choque, achei que o resultado não iria na direcção que foi. Estou curiosa para ver o que acontece. A minha família também está triste com o que acontecer e curiosos para ver onde vamos parar."

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