Agustina Bessa-Luís: "Não é fácil escrever, como não é fácil viver". Esta e outras 14 frases da mulher que nasceu escritora

03 jun, 2019 - 11:57 • Rui Barros , Ângela Roque , Maria João Costa

"Nasci adulta, morrerei criança", escreveu em "Um cão que sonha". "Não vejo razões para gostarem de mim porque eu também não gosto da maioria das pessoas", revelou, numa entrevista em 2006. Agustina Bessa-Luís fala da sua relação difícil com o público, a escrita, a vida, a morte e a verdade. A escritora morreu esta segunda-feira, no Porto.

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Agustina Bessa-Luís morreu, esta segunda-feira, aos 96 anos. Estreou-se como romancista em 1948, com a novela "Mundo Fechado" mas é em 1954 com o romance "A Sibila" que se torna uma das vozes mais importantes da literatura portuguesa, tendo mais de meia centena de obras.

Em 2004, Agustina Bessa-Luís recebe um dos mais importante prémios literários da língua portuguesa: o Prémio Camões.

A autora, que garantia que "não é fácil escrever, como não é fácil viver", chegou a falar, em entrevistas, sobre a sua relação difícil com o público e com quem a lê, sobre o processo de escrita, a vida, a morte e a verdade. Recordamos 15 frases que ajudam a revelar o génio e a personalidade de uma das escritoras mais importantes da literatura portuguesa.


“É muito importante a dificuldade, os passos serem dados lentamente e a pessoa sentir que não é fácil escrever, como não é fácil viver.”

Entrevista ao “Diga lá Excelência”, Renascença / Público/ RTP2, em 2004


“Lembro-me de o meu irmão dizer, quando comecei a escrever, que se estivesse na América seria rapidamente célebre. E eu dizia que felizmente isso não acontece. Porque é muito importante a dificuldade. É preciso sentir que não é fácil escrever”

Entrevista ao “Publico”, em 2004


"O livro está tão presente na minha alma e no meu sangue que pensar que o devo entregar aos outros me atormenta. Deus me perdoe.”

Em carta a Sophia de Mello Breyner Andresen, depois de terminar o livro “Os Incuráveis”.


“Eu só queria escrever, entrar no coração das pessoas e beber-lhes o sangue, avançando sempre, criando enredos e fazendo saltar os personagens das páginas. Há pouca gente que perceba que escrever é uma espécie de danação em que às vezes se têm encontros com Deus.”

A autora, em "O Livro" (citado na biografia O Poço e a Estrada de Isabel Rio Novo)


"Aos quinze anos tem-se um futuro, aos vinte e cinco um problema, aos quarenta uma experiência, mas antes de meio século não se tem verdadeiramente uma história."

Em “O Sermão do Fogo”


“Eu nasci escritora e escrevo por prazer. Depois vem a relação com o público. Mas antes vem a relação comigo mesma e com todos esses meus fantasmas que são as memórias”

Entrevista ao “Diga lá Excelência”, Renascença / Público / RTP2, em 2004


“Vejo um papel em branco e apetece-me escrever. Muitas vezes até na folha de rosto dos livros em que me pedem para fazer um autógrafo.”

Entrevista ao “Diga lá Excelência”, Renascença / Público / RTP2, em 2004


O mundo de Agustina
O mundo de Agustina

“Fico mais espantada quando as pessoas dizem que gostam de mim. Não vejo razões para gostarem de mim porque eu também não gosto da maioria das pessoas [risos].”

Entrevista ao "Jornal Sol", em 2006


“Quem tem medo de morrer... enfim, era melhor não nascer.”

Entrevista ao “Publico”, em 2004


“A mulher não tem o sentimento de desespero que o homem tem. Porque a mulher completa-se em si mesma, na sua própria criação, como ser que se reproduz e dá vida a outro ser. Portanto, ela não se exprime pela desesperação. O homem sim.”

Entrevista ao “Jornal de Letras”,em 2014


“As grandes verdades não me impressionam. Estamos a viver numa sociedade de verdades engarrafadas. Se as bebermos, não sei se não serão uma zurrapa.”

Entrevista ao “Jornal de Letras”,em 2014


“Não sou decerto uma criatura muito apressada em desafazer até às más ideias que se fazem de mim, e passo frequentemente por violenta, orgulhosa e cruel."

A autora, em carta a João Gaspar Simões


A herança de Agustina
A herança de Agustina

“As pessoas vivem muito presas ao sentido de tempo. Querem definir o que é o tempo. São segundos, são minutos. Dividir o tempo foi dar uma espécie de sentimento à matéria"

Entrevista a Anabela Mota Ribeiro, em 2002


"Nasci adulta, morrerei criança"

A autora, em "Um Cão que Sonha".

Em entrevista a Anabela Mota Ribeiro, em 2002, explica:

"Nasce-se inocente, mas com conhecimento daquilo que se é - aquilo que depois se procura através da arte, através de tantas manifestações humanas: de onde viemos, o que somos, para onde vamos. A criança sabe e depois vai perdendo essas faculdades. Mas nascer adulto e morrer criança, que é o que eu quero, isso é que é difícil"



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