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A Madeira de... Renato Duarte

"Agora é para relaxar, há tempo para tudo”, foram as palavras da nossa guia, assim que cheguei ao aeroporto do Porto Santo. Sejam bem-vindos à Ilha Dourada!

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#QueroVoltarParaAIIha (Dourada)

Na minha cabeça estava tudo normal, mas a Sofia percebeu: “Calma, eu sei que vêm com o stress de Lisboa, mas agora é para relaxar, há tempo para tudo”, foram as palavras da nossa guia, assim que cheguei ao aeroporto do Porto Santo. Sejam bem-vindos à Ilha Dourada!

Check in no hotel feito, hora de passear pela ilha. Já tinha estado no Porto Santo em dezembro de 2015 e na altura fiquei com muita vontade de voltar com mais tempo.

Cá estamos, Miradouro das Flores, vista deslumbrante, estava sol e conseguimos ver os ilhéus de Ferro, da Cal e de Cima, são seis no total. Aqui encontramos um busto de Francisco Maia, um artista plástico porto-santense, já falecido, que pediu que lançassem as suas cinzas no meio do Atlântico, entre o Porto Santo e a Madeira, eternizando o seu amor pelas duas ilhas. Daqui conseguimos perceber a extensão imensa de praia e as cores vivas e apetecíveis deste mar. Incrível, não há outra palavra. E foi com este cenário de cortar a respiração que a Sofia me falou da idade desta terra: 18 milhões de anos.

A Sofia é uma espécie de guardiã do Porto Santo e uma excelente conversadora. Nos caminhos que íamos fazendo pela ilha foi-me contando dos abaixo-assinados que já iniciou e da atenção que mantém para que não “estraguem” o património natural deste lugar. A paragem seguinte chama-se Praia do Zimbralinho. Não é fácil lá chegar, não está em todos os roteiros mas, meus amigos, vale muito a pena passar por lá. Que delícia!

Apesar da explicação ter sido bastante detalhada e interessante, não possuo os conhecimentos suficientes de geologia para replicar aqui o motivo pelo qual existe uma rocha gigante em forma de piano, no Porto Santo. Achei mais graça, confesso, à história que dá nome a este Pico Ana Ferreira. Parece que em meados do século 18 chegou à ilha uma rapariga que se alojou neste local. Vivia por aqui sozinha e rapidamente se espalhou pelos habitantes a ideia de que seria uma bruxa, pelo ar “diferente” e pela opção de viver sozinha e isolada, afastada do centro da ilha. Veio-se a descobrir mais tarde que seria filha bastarda de um rei, que para ali a enviou por forma a garantir que o segredo ficaria bem guardado. Não faço ideia se isto é verdade, mas não há coisa melhor que tentar visualizar estas narrativas populares num espaço tão misterioso como este. Paragem obrigatória. Este piano de Mugearito (um tipo de rocha já encontrado em Marte), construído pela natureza, é incrível e ótimo para tirar “aquela” fotografia para o Instagram.

Há 27 anos houve um outro habitante da ilha, ainda vivo, que todos chamaram de louco. O cognome de Ilha Dourada nasceu pela aridez desta terra seca e com pouca vegetação. Carlos Afonso comprou um pedaço de chão e resolveu começar a plantar uma série de árvores, criando as condições para que ali se desenvolvessem. Hoje, quase três décadas depois, é a Quinta das Palmeiras e um dos locais mais especiais do Porto Santo. Uma espécie de oásis, um mini jardim zoológico e botânico aberto, gratuitamente, ao público, onde podemos alimentar aves e carpas com as nossas mãos e... meditar, simplesmente desfrutar deste belo filho de uma relação especial entre o Homem e a natureza. Detalhe de reportagem: eu tentei, sim, alimentar as amorosas carpas com as minhas mãos, mas não lhes consegui tocar. Vá-se lá saber...

A Sofia, além de apaixonada pelo Porto Santo e de ser uma excelente contadora de histórias, é uma exímia condutora de jipes todo o terreno (o primeiro carro da ilha era do avô do seu avô, foi ele quem lhe contou as primeiras histórias do Porto Santo). Com toda a segurança, conduziu-nos por dunas, montes, estradas... e desta vez levou-nos até às paleodunas da Fonte da Areia, um local cheio de... silêncio (é arrepiante) e fósseis da vida marinha que aqui existiu há uns bons milhões de anos.

A última paragem deste primeiro dia acontece na Casa da Serra, na Serra de Dentro. Foi construída em 1764, está recuperada e transformou-se em museu etnográfico. Conseguimos perceber como se vivia nesta terra há uns bons séculos, podemos consultar fotografias e documentos que nos contam a história do Porto Santo, ver utensílios daquela que foi a principal atividade da ilha durante muitos anos, a agricultura (hoje é o turismo, claro). Comemos biscoitos típicos de mel e amêndoa, bebemos uma PODEROSA aguardente local e um licor de maracujá (um dos produtos-estrela do Porto Santo, vindo da vizinha Madeira).

Random fact: existem 124 espécies diferentes de caracóis no Porto Santo, são aos milhares, milhões, estão por todo o lado e são um dos belos petiscos da ilha. Até Charles Darwin reparou nos caracóis, e também nos coelhos, desta ilha, mencionando ambos na sua teoria da evolução das espécies.

Despedimo-nos da Sofia e seguimos para o hotel para descansar. O dia de amanhã será longo e vai exigir muito das pernas deste turista entusiasmado. Já agora, quem quiser ser guiado pela porto-santense Sofia Santos, é só contactar a Lazermar, uma das empresas que faz passeios turísticos na ilha.

Acordei às 6h da manhã, queria aproveitar o ginásio do Vila Baleira (o hotel onde fiquei nesta viagem), tomar o pequeno almoço com calma e sair bem cedo para o passeio num dos picos onde é possível fazer as famosas caminhadas do Porto Santo.

O Nuno é o guia de hoje, também da Lazermar, e não me achou capaz de um desafio mais exigente, então levou-me até ao Pico do Facho, dificuldade moderada, cerca de 1 hora e meia por entre trilhos de montanha, “há para todos os gostos e idades, vais gostar deste”. Enquanto não chegamos ao local exato pata começar o caminho, o Nuno vai-me falando dos Dragoeiros (árvore protegida e típica das ilhas da macaronésia e símbolo do Porto Santo, podemos encontrá-lo na bandeira da ilha) e de como é incrível viver aqui.

“No Porto Santo só se pode ter uma namorada”! Já deu para perceber que o Nuno é do género malandro, ou foi, hoje é pai de família e fala com orgulho do filho de 8 anos que é criado com muita liberdade, porta aberta, a subir árvores e a nadar no mar. “Às vezes sai de manhã e só o vejo à noite. Estou descansado, aqui deixamos a chave no lado de fora da porta, o carro não precisa de estar trancado, não há violência, toda a gente se conhece. Somos 5 mil, amigo”.

Uma hora e meia que parece 20 minutos. Honestamente. Neste Pico do Facho temos uma perspetiva incrível de toda a ilha, podemos parar pelo caminho, eternizar em fotografias aqueles pedaços de natureza de que, por muito que tente, não consigo dar conta nestas palavras.

No final da caminhada, o Nuno leva-me ao centro da cidade. Bolo do Caco, biscoitos, licor, provei tudo, e, claro, uma Lambeca, a loja de gelados do Porto Santo de que toda a gente me falou e que nos meses de verão tem uma fila constante. Vale (muito) a pena!

Seguimos para o hotel para relaxar. Depois do almoço quis experimentar o Spa do Vila Baleira, que tem um circuito de Talassoterapia, indicado para ajudar a resolver alguns problemas de saúde. No meu caso, serviu para quase adormecer dentro do jacuzzi. Era só o que faltava, falecer afogado a meio de uma viagem tão simpática. Não sucedeu, só descansei as pernas, livrei-me do último restinho de tensão continental e fui para a praia. Há uma ligação direta do hotel, passo pela piscina de água salgada e tenho o gigante areal só para mim, afinal estamos em Maio. Ma-ra-vi-lha!

Tenho uma aula de Stand-Up Paddle marcada mas vi logo que talvez não fosse acontecer. O mar acordou com umas ondas valentes (para o padrão do Porto Santo) e, para quem não sabe, esta prática exige um mar “tipo piscina”. Ainda assim, fui até à On Water Academy, fiz amigos e fiquei a saber que Surf, Windsurf, Paddle, aqui há de tudo para quem gosta de entrar na água com aqueles fatos justinhos e sexy, que ficam bem a toda a gente (só que não, conforme vamos perceber mais à frente, stay tuned).

Praia, praia, praia. Jantei no Panorama. Não vou dizer grande coisa, anexo apenas uma fotografia da vista e acrescento que a comida era QUALQUER COISA. Foram buscar-nos ao hotel e levaram-nos de volta, é um serviço gratuito para qualquer cliente #AbusarDaPonchaÀVontade.


Acordei no dia três mega animado, apesar de serem sete da manhã. Motivo 1: estou no Porto Santo. Motivo 2: snorkeling. VOU FAZER SNORKELING. Também é possível fazer mergulho mas ainda tenho algum amor à vida e a carpa do primeiro dia deixou o seu trauma.

Agora a sério: façam. Fui de barco até outra zona da ilha, o Ilhéu de Cima, vesti o tal fato de que falei em cima que fica bem a pessoa nenhuma, mas não interessa. De máscara e tubo de ar (é possível que haja uma designação mais técnica de que não me lembro... snorkel?), lá fui eu. A primeira vez que olhei diretamente para o fundo do mar tive uma pequena vertigem. E eu nem costumo ter, mas a imensidão deste mundo submarino é avassaladora. Parecendo que não, tinha cerca de cinco metros de profundidade abaixo de mim. As espécies, as cores, a beleza... não há grandes palavras que estejam à altura. Depois de 30 segundos, já estava habituado e uma hora e meia passou a correr. Inesquecível! Tudo com muita segurança e a boa onda da rapaziada da Rhea Dive Centre.

Vou almoçar no mesmo local onde comecei no primeiro dia, Restaurante Calhetas, em frente à praia, peixe delicioso e uma simpatia comum a toda a gente nesta ilha.

Praia durante a tarde, piscina no hotel e é tempo de regressar a Lisboa de alma e estômago cheios. Estou a escrever este texto no avião de regresso, num percurso que, relembro, demora uma hora e meia até Lisboa.

Trouxe a Daniela comigo nesta viagem, uma das minhas melhores amigas, que nunca tinha visitado a Madeira. Ficou rendida, claro. Todos nós temos de conhecer bem o país inteiro, a sério, as nossas ilhas, as nossas paisagens, os sotaques, os gostos, as histórias e as pessoas. Dão-nos dimensão e a certeza de pertença a qualquer coisa muito maior do que durante muito tempo nos mostraram. Lembro-me do orgulho que senti quando vim à Madeira a primeira vez, renovo sempre essa certeza de que quero muito estar mais perto destas pessoas que tornam o meu país tão incrível.

Todos os porto-santenses que encontrei mandam este recado: “venham, são todos muito bem vindos, esta é a vossa casa”.